Empresas se esquecem da saúde do trabalhador

Arquivo / O Estado
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Muitos trabalhadores chegaram
a morrer em serviço.

Nos últimos oito anos o Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná subiu de R$ 35 bilhões para R$ 70 bilhões. Seria uma boa notícia para os trabalhadores, se a atenção à segurança e a qualidade de vida também tivessem evoluído. Mas não é o que observa o chefe do Setor de Segurança e Saúde do Trabalhador da Delegacia Regional do Trabalho, Sérgio Silveira de Barros. "Ainda estamos longe de alcançar um ambiente plenamente saudável", comenta.

Barros afirma que muita coisa melhorou nos últimos 10 anos, mas os empresários ainda não têm muita preocupação em humanizar o ambiente de trabalho. Não conseguem enxergar o trabalhador como um ser integral, que são diferentes uns dos outros e cada um tem os seus limites. "Quando surgem problemas, são apenas peças que se desajustaram", fala.

Um dos termômetros que indicam que a produtividade aumentou significativamente é a elevação do PIB paranaense. No entanto, as empresas têm conseguido esse desenvolvimento com um número cada vez menor de trabalhadores. Em muitos casos, quem consegue a vaga acaba sobrecarregado e aceita a pressão com medo do desemprego. "Cada vez mais são usados métodos sofisticados de produção. Mas a relação trabalho versus capital continua a mesma", comenta.

O resultado disso pode ser medido pelas estatísticas de acidentes de trabalho, que estão em ascendência. No Paraná, em 2001, foram 23.231, em 2002, 27.710 e em 2003, 28.862. Eles mostram inclusive, que nos últimos anos pode ter havido um retrocesso na área de segurança do trabalhador. Em 1998, eram 30 mil, depois os números tiveram uma boa queda, mas agora estão voltando aos patamares anteriores. "Precisamos estudar mais a situação para encontrar a explicação", fala Barros.

O setor campeão de problemas é o moveleiro. Os trabalhadores precisam movimentar toras pesadas de madeira e, entre as várias atividades, lidar com serras afiadas. "Geralmente os acidentes ocorrem devido a falta de equipamentos adequados", comenta Barros. Além disso, nas serrarias o barulho é muito intenso e a poeira é presença constante, o que pode provocar a surdez e problemas respiratórios.

Em segundo lugar está o setor de logística, transporte e movimentação de cargas. "Os acidentes ocorrem com empilhadeiras, guindastes e caminhões", comenta. Já a construção civil melhorou os seus índices, mas ainda aparece em terceiro lugar. Doenças

O número de casos de doenças laborais é bem menor do que os acidentes de trabalho. Em 2001 foram 635, em 2002, 906 e em 2003, 958. Barros fala que a estatística está subestimada. Para ele, o Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) ainda possui uma visão conservadora no reconhecimento das patologias com caráter laboral. A maioria é classificada como doenças comuns.

Quem acaba prejudicado é o trabalhador, que após a sua recuperação, teria um ano de estabilidade no emprego. Nesses casos, a empresa teria que melhorar o ambiente de trabalho ou mudá-lo de função para que não voltasse a ficar doente, em vez de apenas mandá-lo embora.

Entre as doenças, o Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (Dort) está em primeiro lugar sendo a metade dos casos. Depois vem as perdas auditivas com 30% e por último as doenças de pele e respiração.

A Dort é comum no setor de comércio e serviços. Um dos culpados é o mobiliário usado pelos funcionários, além do esforço repetitivo. Outros segmentos que apresentam o problema são a indústria de automóveis e, mais recentemente, as empresas de call center e os abatedouros de carne. No próximo ano, a meta do Ministério do Trabalho será fiscalizar mais de perto os dois últimos setores.

A surdez também faz muitas vítimas devido a falta de proteção adequada. A maioria das empresas cumpre apenas uma das exigências, a do uso de protetores de ouvido individuais. No entanto, é a menos eficiente. Ainda não existe a preocupação em isolar acusticamente a máquina.

Custo-Brasil

Para Barros, a postura dos empresários não é muito inteligente. Ele explica que várias pesquisas já mostraram que para cada R$ 1 investido na saúde do trabalhador, o retorno é de R$ 5. O Brasil também sai perdendo. Por ano, o INSS e a saúde pública gastam R$ 21 bilhões, cerca de um terço do PIB paranaense. Barros compara os valores com a construção da usina hidrelétrica de Itaipu. "A cada dois anos teríamos recursos para construir pelo menos uma. É o custo-Brasil que ainda é muito pouco estudado", comenta.

Mulheres são mais suscetíveis as Dorts

Entre as Doenças Osteomusculares Relativas ao Trabalho (Dort) as mais comuns são a tendinite, a cervicobraquialgia, síndrome do carpo e a lombalgia. Todas elas são provocados devido ao esforço repetitivo ou porque as pessoas trabalham muito tempo em pé. Segundo o médico do trabalho que atua no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Walcemir Rolandi Vieira, dependendo da atividade, até 15% dos trabalhadores de uma empresa podem ser acometidos pelo problema.

A maioria das pessoas atingidas é mulher. Walcemir explica que isso acontece devido a musculatura que é mais frágil. Outro dado importante é o fato que o sexo feminino tem tendência maior a depressões, doença que também está relacionada a Dort.

O problema também acomete trabalhadores que têm dupla jornada de trabalho, a fim de aumentar a renda. O médico comenta que em alguns casos as pessoas chegam a ficar até um ano afastadas do trabalho. Quando retornam, precisam ser deslocadas para outro setor para que o problema não volte.

Para evitar o problema, ele aconselha que as empresas adotem a ginástica laboral e também que os trabalhadores fortaleçam a musculatura através de exercícios físicos. (EW)

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