Empresas privadas, fundações e organizações governamentais e não governamentais se reuniram, em Foz do Iguaçu, para formar a Rede Cidadã Trinacional, com um único objetivo: erradicar o analfabetismo na cidade até 2010. As aulas deste ano começam no próximo dia 14. A meta da rede é ter, durante todo o ano, quatro mil alunos em sala de aula. Três mil já estão matriculados.

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O projeto teve início em 2004, já com bons resultados: 1.243 adultos voltaram para a escola, dos quais 1.092 se formaram. "Entregamos 418 óculos, merenda, todo o material, além de incentivarmos os alunos com a feira de projetos. Todo esse trabalho para o aluno não ter despesa", explica o coordenador da Rede Cidadã, João Ricardo Vieira Martins.

Quem já teve a oportunidade de voltar a estudar reconhece a importância do projeto. "Eu ia para aprender mesmo. Fiz da segunda à quarta séries. Hoje eu vou fazer compra e sei que conta que eu tenho que fazer", conta o zelador Vandinho Gonçalves Cordeiro, de 50 anos. "Hoje em dia, quem não sabe ler e escrever é bem difícil e vai ficando cada vez mais. O que eu falo é para o pessoal sempre continuar, mesmo que seja complicado", completa Vandinho, que agora está na quinta série, junto com a mulher. Ele trabalha o dia todo de pé e tem somente uma hora para almoçar. Vandinho só tem uma reclamação: "As pessoas que trabalham, como eu, não tem tempo para fazer as tarefas, por isso que acabam desistindo", As aulas são oferecidas em 59 escolas municipais de Foz do Iguaçu. Qualquer pessoa que tiver interesse em voltar a estudar pode participar do projeto. Para isso, deve entrar em contato com a Rede Cidadã, que procura o professor da turma mais próxima do interessado. É o professor que vai até o aluno para esclarecer as dúvidas e convidá-lo para as aulas. As tarefas são aplicadas em sala de aula, para poupar os alunos. Os professores são da rede municipal de ensino, além de estagiários. Todos eles participam de um curso de capacitação antes de entrar em sala.

Interesses

Para as empresas privadas que participam do projeto, os principais ganhos são o marketing, o nome como participante de eventos sociais, além de mão-de-obra um pouco mais preparada, destaca o coordenador João Ricardo Martins. Mas, segundo ele, as principais preocupações são outras. "Essas pessoas que voltam a estudar são inseridas na sociedade e têm resgatada a sua cidadania. Diminuindo o índice de ignorância, melhoram muitas coisas", afirma.

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Os profissionais das áreas sociais afirmam que, mesmo trazendo benefícios próprios, ações como essa são muito válidas. "Não só têm resultados para erradicar, de fato, o analfabetismo como os próprios voluntários envolvidos no projeto se sentem úteis na sociedade. Estão em convívio com a realidade social da cidade e são capazes de propor ações e soluções", explica o professor de sociologia da Unioeste, José Afonso de Oliveira.

Ele comenta que todos os graves problemas sociais começam por falhas na educação e que, em Foz do Iguaçu, já é possível perceber as mudanças. "Mais de mil alfabetizados em um ano parece pouco, mas é um número muito expressivo. As pessoas que estudam começam a pleitear novas coisas e a se conscientizar", comenta.

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Seu Vandinho é um bom exemplo de buscar as nas conquistas. Ele diz que é difícil estudar, principalmente encontrar tempo e forças para fazer as tarefas, mas não pretende desistir, pois tem um sonho. "Eu gostaria ainda de ser um professor de Matemática. É difícil, mas eu gosto", desabafa.