O pão francês, o tradicional pãozinho, não está tão presente na mesa dos brasileiros como deveria. A constatação é da Associação Brasileira da Indústria de Panificação (ABIP), que está incentivando o consumo de pão no País. Dados da ABIP apontam que o brasileiro consome cerca de 27 quilos de pão por ano – abaixo do que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 60 quilos por ano. Em países como o Chile e a Argentina, o consumo chega a 97 e 93 quilos, respectivamente.
Para o presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria no Estado do Paraná, Joaquim Cancela Gonçalves, o baixo consumo está atrelado principalmente ao reduzido poder aquisitivo. “O pão não é tão caro assim. Na verdade, ele vem se tornando caro por conta da especulação do dólar”, analisa. Em Curitiba, o preço da unidade varia entre R$ 0,18 e R$ 0,25. Outro fator negativo, segundo ele, é a forte propaganda de que o pão engorda. “Quem pode comprar não compra porque tem medo de engordar. Por outro lado, falta o produto na mesa de quem não tem acesso”, aponta, acrescentando que o que engorda de fato é o que acompanha o pãozinho, como geléia, manteiga, patê.
Gonçalves afirma que a recomendação da OMS é por conta do pão ser rico em sais minerais e por fazer reposição rápida de proteína no organismo. “Por isso o pão é indicado a atletas”, explica. Ele conta que uma das medidas para incentivar o consumo é acrescentar ferro ao tradicional pãozinho. “Se em todas as creches houvesse pão enriquecido com ferro, não haveria mais anemia entre as crianças. O problema é que muitos pais preferem comprar salgadinho em pacotes pela praticidade”, lamenta. Um grupo de trabalho com representantes de dez entidades nacionais está para ser criado com a intenção de reverter o quadro.
Reajuste de 21%
Desde o início do ano, o preço do pão já acumulou aumento de 21%, segundo Gonçalves. Só o preço do trigo aumentou 184% no mesmo período ? reajuste que é repassado aos moinhos e conseqüentemente aos panificadores e consumidores. “Tudo culpa da ingerência do governo, que não toma providências com relação ao dólar”, acusa Gonçalves. Cerca de 70% da farinha de trigo utilizada no Brasil é importada, principalmente da Argentina. Além disso, segundo dados da ABIP, haveria um déficit de trigo no mundo: a produção é de 566 milhões de toneladas, enquanto o consumo é de 598 milhões de toneladas.
Caso o preço do trigo no mercado internacional continue em alta, a tendência é que o preço do pãozinho chegue a R$ 0,30 até o fim do mês. “Não é o preço do pão que afasta. É a falta de salário mesmo”, acredita.
Em decorrência da alta do trigo, ventilou-se a idéia de acrescentar fécula de mandioca em substituição à farinha de trigo – proposta que não tem o apoio de panificadores nem de produtores de trigo. “O pão tem que ser feito com farinha de trigo. Acrescentar 10% a 20% de fécula de mandioca tiraria 30% das vitaminas do pãozinho”, analisa Gonçalves.
Atrás do maior pão do mundo
Lyrian Saiki
Em comemoração ao Dia Mundial do Pão, no próximo dia 16, a Associação Brasileira da Indústria de Panificação (ABIP) está promovendo concurso para produzir o maior pão do mundo, que deverá entrar no Guiness Book of Records (Livro Guiness dos Recordes). Até agora, o maior pão linear mede 30 metros. A idéia é fazer um maior, mas Joaquim Cancela Gonçalves, presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Paraná, faz segredo e prefere não fornecer detalhes.
No Paraná, o pão gigante será confeccionado pelos irmãos Ênio e Éldon Strey ? cada um com mais de trinta anos de experiência. De acordo com Ênio, de 54 anos, o mais difícil do concurso será o cozimento do pão. É que além de ser grande, ele deverá ser comestível.
Ênio conta que começou a trabalhar em padarias aos 16 anos, quando quase tudo era feito manualmente. “Normalmente, o pão que começava a ser feito hoje só terminava no dia seguinte e era vendido no terceiro dia. Hoje, em duas horas e meia ele está pronto para ser consumido”, compara. Há 22 anos, Ênio ministra cursos para panificadores.
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