E não é que deu certo?

Empresários investem em ideia ousada para se dar bem na crise

Abrir uma empresa no meio dessa crise econômica parece loucura, não? Mas existe uma parcela de pessoas que “pensa fora da casinha” e consegue repaginar negócios antigos, pra fazer sucesso enquanto todo o resto está pensando em segurar as pontas. Este é o caso de Robson Bonato Ribas, 33 anos, que abriu uma panificadora “drive-thru” (que você compra sem sair do carro), dentro de um container. Em 30 dias de projeto piloto, seu faturamento bruto já chegou aos R$ 20 mil e ele planeja a venda de franquias.

Robson tem outras três empresas no ramo da construção civil (uma importadora de pregos e arames, uma loja de materiais de construção e uma linha de ferramentas). Mas como a crise desaqueceu as obras e reduziu em 50% as vendas que ele tinha, teve uma ideia a partir de uma dificuldade. “Quando minha filha nasceu, eu achava muito difícil ir comprar pão com ela. Achar lugar pra estacionar, sair com a criança do carro no frio ou na chuva, enfrentar filas e pagar a conta com ela no colo e segurando sacolas. Então eu tive a ideia da panificadora drive-thru. E como trabalho com importação, me veio a ideia do container”, explicou.

Como os custos de adaptar um container é bem menor que uma loja física, Robson consegue investir em produtos de primeira qualidade. O cliente chega numa das cabines, escolhe o que quer num cardápio (tem até promoções combinadas, os famosos “combos”), paga e pega a encomenda em outra cabine, sem sair do carro. “E como é um container, se eu erro na escolha do ponto de venda, em dois dias consigo mudar e estar funcionando em outro local. Não perco o investimento”, analisou o empreendedor.

Por enquanto, a panificadora “drive-thru” fica na rotatória da Rua Carlos Klemtz, no Fazendinha.

Panificadora “drive-thru” fica na rotatória da Rua Carlos Klemtz, no Fazendinha. Foto: Marcelo Andrade.

Necessidade x oportunidade

Rodrigo Viana, consultor do Sebrae, explica que existem dois tipos de empreendedores. Um é o que foi demitido, não consegue um novo trabalho e precisa pensar em algo pra sobreviver, e o que empreende porque já tinha uma ideia e não tem urgência.
Até o ano passado, explicou o consultor, havia uma proporção de, a cada três empreendedores, dois eram por oportunidade e um por necessidade. Com a crise, o perfil mudou desde o início do ano. “Nossa percepção é de que essa proporção se inverteu. Estamos sempre em contato com as secretarias de trabalho dos municípios e houve um boom de pessoas buscando informações pra serem microempreendedores”, analisou Rodrigo.
E pra quem quer começar um novo negócio, Rafael Tortato, consultor do Sebrae, dá uma dica: pra inovar, é preciso estar atento às mudanças. Por isso, projetos que encontram soluções pra melhorar o uso do tempo das pessoas, economia pro bolso e a mobilidade urbana, por exemplo, são promissores. Pra Mário Calzavara, do Senai, áreas que estão em expansão são as de educação, tecnologia verde, cosméticos, aplicativos pra celular e tecnologia da informação.

Publicidade barata

Roni Szuchman é dono da Just Ads, empresa de publicidade que oferece serviços mais em conta que a média de mercado. Ele já trabalhou em agências e verificou que muitos clientes não fechavam contrato porque o custo era muito alto. “Criar um comercial de TV, por exemplo, precisa de atores, cenários, produção, dias de gravação. Desenvolver um site específico pra cada cliente também é caro”, explica.

Na Just Ads, Roni quer atender o público que precisa de um material de publicidade pra tentar se sobressair no meio da crise. Ele tem vários modelos prontos de sites, imagens pra comerciais de TV e ,vídeos na internet, cartões de visita, panfletos, esperas telefônicas, entre outros produtos.
“Muitas vezes, o cliente que está abrindo um negócio não tem nem esse básico. Precisa de um site e panfleto pra começar a divulgar o produto e um cartão de visitas. Não tem dinheiro pra criar uma logomarca, um jingle, etc.”, analisa Roni.

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Loucura com planejamento

Consultores que trabalham com inovação têm um consenso: é na crise que surgem as boas ideias. “Mas não basta uma ideia na cabeça, uma câmera na mão e vamos lá, como se dizia antigamente. Todo projeto tem que passar por fases. Primeiro tem que analisar se a ideia tem potencial de crescimento. Depois precisa de muito planejamento, cautela e busca de orientações”, aconselhou Mário Rafael Bendlin Calzavara, consultor do Senai, que acredita que, no meio da crise, enquanto algumas áreas estão em declínio, outras crescem.

Diferente

Rodrigo Viana, consultor do Sebrae, completa a opinião. “O que não é recomendável é abrir um novo negócio, simplesmente. Principalmente na crise, temos que encontrar um diferencial naquele produto ou serviço”, explicou. A dica não vale só pra novos negócios, mas também pra empresas que já existem. “Uma empresa com DNA inovador não para. Inovação é sinônimo de incerteza. Mas bons projetos vencem a crise. Se todo mundo retrai, ninguém consegue ir pra frente. E o Brasil não pode parar. Sempre há oportunidade”, analisou Rodrigo.

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