Emprego, melhor presente no 1º de maio

O dia 1.º de maio, Dia do Trabalho, nunca teve muito o que comemorar. Escolhida como feriado mundial, em 1889, a data faz referência a um episódio de repressão, prisões e mortes de operários grevistas que, em 1886, em Chigago, nos Estados Unidos, já reivindicavam melhores condições de trabalho e redução da jornada de 13 horas. Muito antes dos direitos trabalhistas, ainda hoje muitos trabalhadores reivindicam um outro fundamental: o direito ao trabalho. Neste dia, o que muitos paranaenses, como Nivaldo Gutierrez, 54 anos, pedem, é bastante simples: ?O melhor presente seria um emprego?, sugere.

Quando o assunto é emprego gerado e desemprego atual, os dados são incompletos. No Paraná, ainda não há uma pesquisa que seja pontual, freqüente e que dê conta de todo o Estado. Os dados disponíveis pelo Ministério do Trabalho apontam que o Paraná tem criado muitas vagas nos últimos anos. ?Somente no primeiro trimestre deste ano houve um crescimento de 13% em relação a 2005. Nos últimos 12 meses o estoque de mão-de-obra, ou seja, o total de trabalhadores contratados, cresceu 4,4%?, cita Rui Silva, coordenador de pesquisa da Secretaria de Estado de Trabalho e Promoção Social. Porém, questionado sobre os números do desemprego, ele afirma que ?não existe um índice do Estado com exatidão?.

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, do Paraná (Dieese-PR), a partir de 2004 é observada uma redução na taxa de desemprego. No entanto, essa taxa desacelerou. ?Ainda está caindo, mas num ritmo muito menor. O emprego gerado ainda não foi suficiente para atender os desempregados e a renda do trabalhador só caiu. O Paraná segue essa tendência nacional. Os poucos dados apontam isso?, afirma o economista Sandro Dias.

Dados mais regionalizados, como o do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) sobre a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), apontam uma taxa de desemprego, no último mês de março, de 8,2%, entre uma das menores do País. Porém, esses mesmos dados lembram que ainda há na RMC 121 mil pessoas desocupadas. ?Está estável?, resume Sachiko Araki Lira, diretora do Centro Estadual de Estatística do Ipardes.

O que está claro nas pesquisas, como apontam os números da Agência do Trabalhador do Paraná, é que muito mais gente procura emprego do que ganha um. Este ano, de janeiro a março, pela agência, 240.449 se inscreveram. Destes, 121.245 foram encaminhados para 58.676 vagas que abriram e somente 33.866 foram colocados.

Pessoas

Pontuais ou não, sob esses números neste Dia do Trabalho, mas sem emprego, estão pessoas de muitas idades, escolaridade e experiência. Ester Neves, 19 anos, está fazendo o supletivo para terminar o ensino médio. Vinda de Manaus na busca de melhores condições, desde os 16 anos, ela já trabalhou de doméstica, balconista, garçonete e babá – sempre sem carteira assinada. Hoje está desempregada e não sabe o que é pior: ter emprego, mas não ter condições ou não tê-lo. ?Moro com a mãe da namorada do meu irmão, que não é nem minha parente. Ficar dependendo dos outros é ruim demais. É difícil, sempre escuto que é preciso ou ter mais estudo ou experiência. Ainda não encontrei, mas vou continuar procurando. No Dia do Trabalho eu queria conseguir um e ser registrada?, almeja Ester.

Poucas chances depois dos 40

Há dois anos, quase todos os dias, o motorista profissional de turismo, Nivaldo Gonçalves Gutierrez, 54 anos, sai para procurar um emprego. Trabalhador desempregado, ao final da busca, ainda sem sucesso, chega à uma conclusão que é igual a de milhares de brasileiros nesta faixa etária. ?Está difícil. Com certeza minha idade influencia. Neste país, depois dos quarenta você está morto para o mercado?, lamenta Gutierrez, que continua sobrevivendo de ?bicos?.

Já sem esperança de volta ao mercado de trabalho, Almir Rodrigues, 47 anos, ao contrário de Nivaldo, teve uma nova chance. Com experiência de 25 anos no ramo de energia elétrica, de uma hora para outra ficou desempregado. ?Foram seis meses péssimos, eu não tinha minha fonte de renda. Deixava meu currículo em tudo quanto é lugar e nada. Então, ia fazendo ?bicos? no ramo de venda. Com certeza, com a minha idade e minha escolaridade (concluiu apenas o ensino fundamental) pensei que não conseguiria mais?, conta. Até que, em janeiro deste ano, ele foi chamado por uma empresa na área.

A situação de contratação após os 40 anos, com baixa escolaridade, é rara em todo o País. Segundo o Censo de 2000, trabalhadores a partir dos 40 anos perderam perto de vinte mil postos de trabalho no Brasil. No Paraná, segundo a Delegacia Regional do Trabalho, entre 2003 e 2004, somente pouco mais de 52,5 mil trabalhadores com mais de 40 anos foram empregados: analfabetos foram 142; com o ensino fundamental completo, 8.836; com o ensino médio completo foram 19.256; e com o ensino superior concluído, 15.076.

Bom exemplo

A empresa que contratou Almir é a paulista Logistech, que também atua no Paraná e em outros estados. Admitir funcionário com mais de 40 transformou-se em política da empresa, há quatro anos. De um total de 2,5 mil funcionários, mais de 570 têm mais de 40 anos. ?Pela característica de nosso trabalho, essa é uma política que adotamos. Procuramos pessoas com mais experiência, que têm mais dedicação e procura estabilidade e é esse perfil que as pessoas com mais de quarenta têm. Certamente esses funcionários trazem para nós um melhor retorno operacional?, explica Carlos Pivoto, gerente de gestão de pessoal. (NF)

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