Em último discurso, Zilda pediu proteção para crianças

Antes de morrer no terremoto que abalou o Haiti, na terça-feira, a médica Zilda Arns Neumann, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, pediu, no que foi o último discurso, que os agentes sociais locais se engajassem na luta pela proteção à infância e na cobrança do governo por ações nas áreas de saúde e educação. Zilda viajou ao país para participar da Assembleia da Conferência dos Religiosos, realizada em Porto Príncipe, região mais atingida pelo tremor.

“A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem suas raízes na gestação e na primeira infância, e se transforma em fraternidade e responsabilidade social. A paz é uma conquista coletiva. Tem lugar quando encorajamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as atitudes e práticas da busca do bem comum”, disse ela, a uma plateia de 150 pessoas.

Pediatra especializada em saúde pública, Zilda Arns recordou o início da carreira como médica e o engajamento na criação da Pastoral da Criança, a pedido do irmão, o arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns. Aos haitianos, contou como a Pastoral se desenvolveu no Brasil desde Florestópolis, no norte do Paraná, no início dos anos 1980, até chegar a todo o País.

“Por força da solidariedade fraterna, uma rede de 260 mil voluntários, dos quais 141 mil são líderes que vivem em comunidades pobres, 92% são mulheres e participam permanentemente da construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno, em serviço da vida e da esperança”, disse. “Hoje, a Pastoral está se estendendo a 20 países.”

Após explicar detalhes e exemplificar as diversas campanhas realizadas pela entidade para melhorar a qualidade de vida das mulheres grávidas, famílias e crianças, Zilda Arns destacou o papel das ações da entidade na melhora dos indicadores sociais e econômicos brasileiros. Por fim, deixou a última mensagem. “Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, deveríamos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los. Muito obrigada.”

Morte

O senador Flávio Arns (PSDB-PR), sobrinho de Zilda, viajou à capital haitiana para acompanhar a liberação da transferência do corpo ao Brasil, que depende apenas de um documento, a ser providenciado pela família. De lá, Flávio Arns relatou as circunstâncias morte da tia à Pastoral da Criança.

Segundo ele, Zilda tinha acabado o discurso numa igreja e conversava com um sacerdote, que queria mais informações sobre o trabalho da Pastoral da Criança, quando ocorreu o tremor. “A doutora Zilda recuou um passo e foi atingida diretamente na cabeça quando o teto desabou. Ela morreu na hora”, contou. De acordo com ele, Zilda não ficou soterrada. “O sacerdote que conversava com ela sobreviveu. Já outros 15 que estavam próximos a ela faleceram.”