A América Latina Logística do Brasil S/A (ALL) apresentou ontem oficialmente às autoridades e convidados, os trabalhos realizados na ponte sobre o Rio São João, na Serra do Mar, que liga Curitiba a Paranaguá. O acontecimento ocorre em meio a uma disputa judicial com o governo do Estado, que ajuizou uma ação civil pública de responsabilidade por danos causados a bem de valor cultural contra a empresa. A expedição da carta de citação foi feita na última terça-feira pelo Juízo de Direito da Comarca de Morretes e a ALL deverá recebê-la nos próximos dias. No dia 19 de julho de 2004, um acidente com uma composição de 40 vagões destruiu parcialmente a ponte.
A ação que a ALL deve receber pede que a empresa apresente projeto de restauração da ponte sobre o Rio São João a ser aprovado e supervisionado pela Secretaria de Estado da Cultura (Seec). Caso não ocorra uma restauração, o Estado pede que a empresa pague uma indenização por danos patrimoniais e morais. Além de receber a carta que a cita na ação, a ALL deve receber também a liminar parcial que a impede de realizar qualquer tipo de obra na ponte sem o acompanhamento da Seec e a obriga a retirar quaisquer materiais que estejam no local. Segundo a ALL, o efeito dessa liminar não afeta as suas atividades, uma vez que as obras de recuperação foram finalizadas e eventuais materiais que estivessem próximo à ponte, retirados.
Um dos engenheiros responsáveis pela obra, Raul Osório Almeida, afirma que a solução técnica adotada garantiu que as obras fossem realizadas sem riscos para a ponte e para os trabalhadores.
Ele explica que, na parte destruída da ponte, foram utilizadas técnicas modernas, com solda e parafusos. Segundo Almeida, como havia o risco de queda de um dos pés do arco, foi feito um reforço com tubos de aço. "O pé havia entortado bastante por causa do enorme peso que teve de suportar, com cerca de oito metros de vagões pendurados."
Segundo a ALL, a obra de recuperação da ponte foi realizada em menos de 20 dias, sendo que no dia 12 o local estava liberado para tráfego normal. Para a ALL, a reparação feita após o acidente pode ser considerada mais um reforço estrutural da ponte, entre os vários que aconteceram em décadas anteriores. O arco inferior, por exemplo, foi construído entre 1936 e 1946. O engenheiro civil Osmar Ribeiro, 84 anos, que traçou o desenho do arco, de forma esquemática, com as medidas necessárias para a construção, esteve presente para ver a ponte. "Gostei muito do trabalho. Hoje, é preciso usar técnicas modernas, para que não haja riscos de queda", afirma.
Estiveram presentes na apresentação representantes das prefeituras de Morretes, Paranaguá, Antonina e Curitiba, assim como do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A Seec não compareceu. A coordenadora de Patrimônio Cultural (CPC) da Seec, Rosina Parchen, explica que há discordância sobre as obras realizadas. "As intervenções anteriores não mudaram as características da ponte. Elas acrescentaram componentes de reforço."
Dois acidentes na semana
Lígia Martoni
O descarrilamento de uma locomotiva da América Latina Logística (ALL), no início da noite de anteontem, provocou o segundo acidente esta semana envolvendo trens da companhia nas proximidades de Guarapuava. O primeiro aconteceu na segunda-feira, quando um trem carregado com 60 toneladas de adubo químico derramou parte da carga próximo à ferrovia. Segundo o IAP, porém, nenhum dos dois acidentes provocou danos ambientais significativos.
Dessa vez, 380 litros de óleo diesel vazaram do tanque da locomotiva – esta chocou-se em uma barreira que escorregou sobre os trilhos por causa da chuva. Apesar do susto, ninguém ficou ferido. Segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), antes que o material se espalhasse e deslizasse para as encostas dos rios, um buraco cavado no local permitiu o recolhimento do combustível, destinado de forma adequada posteriormente. "Atualmente os acidentes têm sido percebidos a tempo, o que tem permitido ação rápida e menores prejuízos ao meio ambiente", justifica o presidente do IAP, Rasca Rodrigues. A locomotiva levava 30 vagões, mas nenhum deles tombou, limitando os prejuízos apenas ao vazamento do óleo combustível.
Segundo a assessoria de imprensa da ALL, trabalhadores passaram a noite de quarta para quinta-feira no local tentando recuperar o trecho e removendo o óleo. Na manhã de ontem a ferrovia já havia sido liberada. A assessoria disse ainda que, ao bater na encosta, a locomotiva estava em velocidade reduzida, seguindo determinações da empresa de que em período de chuvas os trens trafeguem mais devagar que o normal. Isso teria diminuído o impacto do acidente. A ALL não será autuada por nenhum dos dois acidentes.