Em duas semanas, livre do hospital

Uma semana depois do acidente com o Boeing 737-200 da companhia Tans, no Peru, o sobrevivente Wagner Andolfato de Souza, já em Curitiba, contou como foram os momentos antes e depois da tragédia que resultou na morte de 40 pessoas. O paranaense -que teve o rosto e braços atingidos por queimaduras de primeiro e segundo graus – foi direto para o Hospital Evangélico, de onde deve ter alta em duas semanas.

Wagner disse o que passou desde antes do embarque até a chegada a Curitiba e a expectativa em ver a família e os amigos. A viagem de trinta dias seria a trabalho e também para turismo, já que ele aproveitaria a ocasião para viajar pelo Peru. Ele relatou ainda que, na ida, ao embarcar em São Paulo com destino a Lima, se atrasou e quase perdeu o vôo, o que o impediria também de embarcar no avião da Tans com destino a Pucallpa às 14 horas de terça-feira da semana passada. ?Pedi para me acordarem no hotel em São Paulo às 4 horas, mas me chamaram apenas às 5h20. Cheguei no aeroporto às 5h40 e embarquei às 6 horas. Em Lima, fiz o check-in bem cedo – cerca de duas horas e meia antes do vôo – e não escolhi a poltrona. Poderiam muito bem ter me colocado nas poltronas da frente?, disse, lembrando do número de seu assento, o 14F, e que a maior parte das pessoas que viajava na parte dianteira da aeronave morreu.

Explosão

O sobrevivente recordou os instantes que antecederam a tragédia. ?Uns vinte minutos antes do acidente o comandante avisou que teríamos uma turbulência forte. Depois de dez minutos, disse para nos prepararmos para o pouso. Apertei o cinto e olhei pela janela, percebendo que as árvores estavam muito próximas.? Ele contou que, ao cair no chão, a aeronave se arrastou por muitos metros mata adentro. Ao parar, Wagner desafivelou o cinto de segurança e levantou da poltrona, momento em que houve a explosão. ?Me lembro daquela bola de fogo vindo em minha direção. Tive certeza que ia morrer?, recorda. Ao se abrigar da chuva de granizo que caía, ele passou por um lamaçal onde havia corpos mutilados e rastros de destruição. ?Só me dei conta do milagre que aconteceu quando entrei debaixo de umas árvores para me abrigar. Olhei para cima e agradeci muito a Deus por estar vivo.?

Dor e desespero no pântano

Do momento em que correu pelo pântano com mais duas sobreviventes até encontrar ajuda e chegar ao hospital em Lima, foram 50 minutos de dor e desespero. ?Só pensava em ligar para minha família, avisar que estava bem?, relatou.

Depois do milagre, para ele o importante é cuidar dos pensamentos e não se deixar abalar. ?Tenho que agradecer por não ter ficado com seqüelas físicas; agora não quero criar nenhum trauma psicológico?, diz, tranqüilo por poder voltar para casa: ?O que mais quero é me recuperar?.

Recuperação

Apesar de ter 25% do corpo atingido, as queimaduras sofridas por Wagner foram consideradas pelos médicos de baixa gravidade. Ele chegou em Curitiba no domingo e, ontem, passou parte da manhã no centro cirúrgico, onde foi anestesiado para a troca de curativos e limpeza dos ferimentos. De acordo com o cirurgião plástico Sérgio Luiz Lopes, a situação do paranaense é considerada estável e, devido às condições gerais do paciente, ele acredita que não será preciso fazer enxerto ou cirurgias de correção. ?Ainda é cedo para dizer, mas acho que não será necessário?, falou. O médico acrescentou que Wagner também não deverá ficar com cicatrizes porque as regiões do corpo que foram queimadas são bastante vascularizadas e tendem a se recuperar rapidamente.

Uma equipe fixa, formada por cirurgião plástico, clínico geral, fisioterapeuta e anestesistas, está cuidando de Wagner. O paciente está sob efeito de anestésicos para amenizar as dores.

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