Trabalhar a 36 metros de altura não é para qualquer um. Ainda mais correndo o risco de levar uma descarga elétrica de uma rede capaz de abastecer 80% de uma cidade como Joinville, a maior de Santa Catarina. Esse é o trabalho de eletricistas que fazem a manutenção de torres de transmissão. Hoje termina um curso promovido pela Eletrosul, em Curitiba, que capacita esses profissionais a realizar tarefas de manutenção e reparos sem desligar a rede de transmissão.

O tempo de preparo de um eletricista para realizar o trabalho dura cerca de dois anos e hoje nove técnicos chegaram a esse estágio. Nas últimas duas semanas, eles estudaram a parte teórica, praticaram em uma rede desligada e finalmente realizaram o procedimento em rede “viva”, com energia. Ontem a operação foi na rede de 525 kV que transmite energia para Joinville. Por ela passam 1.000 MW, energia que abastece 80% da cidade.

Para manter contato com a rede ligada, os profissionais usam uma roupa especial feita de náilon, com aço inoxidável. São importadas e custam R$ 15 mil cada uma. “É uma espécie de gaiola, os 525 kV estão passando pela roupa do eletricista”, explica o técnico em manutenção Ubiragir Mendes Pinto. “Ele não pode encostar em nada metálico ou outra estrutura que conduza corrente, se não ele pode provocar um curto-circuito. A morte é certa.” Além disso, são necessários equipamentos adequados e a aproximação junto à rede segue normas técnicas.

Qualquer descuido do trabalhador pode ser fatal. Por isso mesmo, eles recebem apoio psicológico para realizar o procedimento. Antes de realizar qualquer trabalho é montada uma operação, o técnico que apresenta melhores condições físicas e psicológicas é escolhido. Os demais trabalham no apoio. José Ailton Alves Soraes, de 38 anos, realizou pela primeira vez esse tipo de serviço. Apesar de aparentar tranqüilidade, conta que existe certo receio de levar algum choque. “A gente pensa que vai levar um ?pegão?”, conta. De acordo com Ubiragir, é comum a existência do receio entre os técnicos, principalmente depois que ficam grande parte do tempo trabalhando em solo. Mas a equipe consegue trabalhar a dificuldade, tanto é que nunca foi registrada morte no setor.

Em 1975, a empresa que opera em toda a região Sul e Mato Grosso do Sul tinha apenas uma equipe preparada para esse trabalho. Hoje, todos os cem funcionários da área técnica estão capacitados para realizar a operação. Só para trocar as três cadeias de isoladores de uma torre de transmissão são gastos pelo menos três horas, tempo em que a rede costumava ficar desligada. A cada hora parada a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) cobrava R$ 15 mil. Há outros reparos que duram até 12 horas. Além disso a Aneel está para lançar uma norma que aumenta entre 10 e 150 vezes o valor da multa sobre o faturamento da linha interrompida. Desde 1996, 90% dos procedimentos são realizados com rede viva.

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