Quando e como começar a tratar sobre dinheiro com as crianças? Este é um dilema com que os pais sempre se deparam e que, se encaminhado da maneira correta, pode fazer toda a diferença para o futuro dos filhos. É por isso que os especialistas defendem que a educação financeira deve ser abordada desde cedo, em casa e na escola.
“Os pais têm um tabu, acham que é cedo para falar de dinheiro com a criança, até porque eles não tiveram a educação financeira na infância. Acontece que as crianças estão cada vez mais precoces em tudo”, avalia o especialista em finanças pessoais, Altemir Farinhas, que já escreveu um livro sobre o assunto, destinado ao público infantil.
Ele defende a participação das crianças nas discussões do orçamento familiar e a entrega do dinheiro pelos pais, para que elas aprendam desde cedo a lidar com os recursos, as conquistas e as frustrações trazidas pelo dinheiro. O ideal, de acordo com ele, é começar abordar o assunto a partir dos seis anos. “Com esta idade a criança já está madura para ter todos os estímulos, a lidar com o dinheiro e encarar as frustrações de gastar tudo e ter que esperar até receber novamente. É uma matéria bem abrangente, que traz a generosidade e a honestidade”, explica. Acompanhando as discussões do orçamento da família, a criança passa a ter noção dos compromissos e contribui para a definição dos sonhos e metas.
“Os filhos ficam sabendo quanto a família gastou com supermercado, na escola, de luz, e assim a família explica quais os compromissos. Quando a mãe negar algum pedido será um não diferente, ela já pode explicar o porquê não”, diz o especialista.
Mas quanto dar ao filho?
Esta é outra dúvida na hora de planejar o pagamento da mesada e que Farinhas orienta a definir de acordo com as condições financeiras de cada família. Ao invés de mesadas, ele ainda indica o pagamento de “semanadas”, para acompanhar a noção de tempo dos pequenos. “Dar um real por ano é um mito, isso não se aplica. Tem que ser de acordo com a capacidade financeira da família, depende do mundo onde a criança vive. Por isso abordar também a poupança, a generosidade. Não é para torrar o dinheiro”, observa.
Estímulo
A orientação dos pais no momento das crianças gastarem o dinheiro merece atenção. O ideal é estimular que ela reserve uma parte do que ganhou para poupar, mas sem interferir no que ela vai comprar com o restante, mesmo que seja brinquedos, guloseimas ou gibis. “Isto é algo em cadeia, tem que acontecer durante anos, para a criança se torne um adolescente melhor que muitos adultos em relação à educação financeira. Quando ela começar a trabalhar e receber o primeiro salário, não vai detonar”, garante o especialista.
Entrando nas escolas
Defendida por especialistas, a abordagem da educação financeira nas escolas também virou um projeto de lei proposto pelo vereador Dirceu Moreira (PSL). A proposta, que está tramitando na Câmara Municipal de Curitiba, prevê que a disciplina de Educação Financeira seja incluída na grade curricular das escolas municipais a partir do 6.º ano do Ensino Fundamental.
“É necessário que crianças e jovens aprendam desde cedo a educação financeira. A escola é o ambiente mais completo e propício para educá-las financeiramente, visando a construção de uma sociedade mais consciente sobre o uso do dinheiro”, justifica o vereador.
Enquanto isso, o trabalho do tema parte da iniciativa das instituições, que já despertaram para a necessidade de educar as crianças a lidarem com o dinheiro. É o ,que acontece no Colégio Madalena Sofia, onde há três anos o assunto é abordado nas salas de aula do 1.º ao 5.º ano do Ensino Fundamental, com a proposta de se estender até o Ensino Médio. “É um assunto interdisciplinar, que parte de situações concretas, do cotidiano. Trabalhamos qual o sonho das crianças e o que elas precisam para realiza-los”, conta o diretor do Colégio, Ivo José Triches.
Controle
Triches acredita que a escola deve “dar conta” desta questão, e precisa, especialmente, despertar o controle entre as crianças. “Vivemos hoje em dia o vício do consumo e se não aprendermos a controlar nossas vidas, não vai interessar o quanto ganhamos, vamos estar sempre no vermelho. Queremos mostrar para os alunos que dá para realizar o que se quer, mas é preciso planejar e ter controle da vida financeira”, destaca.
No início do ano os alunos definem seus sonhos e traçam metas para conquista-los. No fim do ano toda a turma passa uma tarde no shopping para comprar aquilo que desejaram.
Da ponta do lápis ao sonho
O diagnóstico é a verificação de todos os gastos e despesas da família, que permite identificar também quais são os sonhos, quanto eles custam e o que é preciso fazer para realiza-los. No orçamento eles passam a se tornar realidade.
“Como priorizo o sonho? No orçamento. Tem que tirar por primeiro lugar o dinheiro para a realização do sonho, e poupar, investir. É preciso priorizar o sonho antes das despesas”, orienta. Separando os recursos para a realização do sonho, o último passo é o investimento do dinheiro, que pode ser feito em poupança, títulos públicos ou previdência privada, de acordo com o prazo de realização.
Independente de criança ou adulto, Domingos indica ainda a criação de três cofrinhos, para investimentos nos sonhos de curto, médio e longo prazo.