Educação e disciplina por meio da vigilância

Os aparatos de segurança que famílias têm adotado em casa e empresas têm adequado aos seus prédios são cada vez mais presentes também nas escolas. Neste ambiente, considerado dos mais seguros pelos pais, diretores e professores temem da mesma forma a violência e aproveitam destes equipamentos para também garantir a disciplina. Enquanto isso, no papel principal, eles, os estudantes, parecem já acostumados à realidade das câmeras.  

O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Privados de Ensino do Paraná (Sinepe), José Manuel Caron Junior, afirma que a segurança sempre foi preocupação das escolas, mas que vem se intensificando nos últimos anos. ?Algumas colocam seguranças nos entornos para evitar drogas, brigas e garantir a integridade dos alunos nas proximidades da escola. Além disso, internamente, dispõem de câmeras e adotam as catracas para ter certeza que a pessoa que ingressou é realmente aluno?, exemplifica.

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Soraya: ?Organização?.

A tecnologia, neste caso, vem auxiliar a ?onipresença? de diretores, coordenadores, professores e até dos pais para garantir segurança e controle sobre tudo o que acontece no ambiente escolar. ?Em algumas escolas de educação infantil de São Paulo, câmeras são colocadas dentro das salas para os pais acessarem do local de trabalho e acompanharem via internet o comportamento dos filhos durante as aulas. Ainda não existe essa alternativa no Paraná, mas alguns estabelecimentos caminham para essa linha?, cita.

É o que acontece, por exemplo, na rede de ensino Expoente, em Curitiba. Somente em uma das unidades, 56 câmeras fazem a segurança dos alunos, espalhadas por locais estratégicos da escola, como salas de aula, corredores, estacionamentos, laboratórios e portões de acesso.

A diretora Soraya Sunaga explica que o objetivo principal do esquema -, que conta ainda com uma equipe terceirizada para qualquer emergência – é garantir a proteção dos alunos. ?Mas tem a ver também com disciplina. Ajuda na organização e é forma de termos um controle maior sobre tudo o que acontece em sala?, complementa.

As gravações digitais ficam arquivadas com a diretoria, que, no caso de dúvidas sobre qualquer acontecimento dentro da escola, pode acessar os vídeos com registro de data e horário. Soraya lembra que esta particularidade já ajudou a solucionar uma série de problemas. Um dos alunos, esquecendo que estava sendo filmado, passou cola nas cadeiras da sala de aula e foi flagrado pelas câmeras. Resultado: teve de limpar uma por uma. ?Dessa forma, eles vêem também a questão da justiça. Claro que, em primeiro lugar, usamos o diálogo. Quando não adianta, daí é que partimos para a tecnologia?, conclui a diretora.    

Pais estão apoiando a iniciativa

Os pais parecem ser os principais apoiadores de sistemas como este. Afinal, para eles, proteção vem em primeiro lugar. Patrícia Carvalho Marquesi, mãe da aluna Giovanna, de oito anos, acredita que o monitoramento é importante porque, hoje, a sociedade exige uma postura diferenciada com as crianças. ?É educativo, inclusive, porque toda criança precisa de limites?, afirma.

Quando a polêmica é a privacidade do aluno, a mãe acha que, nesse ponto, não há uma influência negativa. ?Não acho que tire a liberdade, nem os prejudique. A questão que pesa é a segurança. Ter o controle de entrada e saída dos filhos é de extrema importância, porque eles passam a ser alvo da violência. Sabe a sensação de sair, deixar o filho e ficar tranqüilo? É isso que nos proporciona?, diz, referindo-se não apenas às câmeras, mas ao sistema de segurança como um todo, o que inclui o trabalho dos profissionais da educação. A turminha que passa o dia na escola sob a escolta das câmeras não reclama.

Pelo contrário, parece bem acostumada ao aparato e o descreve de forma positiva. ?Acho que é importante porque, se entra uma pessoa desconhecida, é perigoso. E também para os alunos não aprontarem?, diz a aluna Hanna Fedalto, de oito anos. Para ela, desde que as câmeras não ouçam…: ?Ainda bem que não tem volume?, diverte-se.

Proposta tornou-se vital atualmente

Embora a rede pública de ensino não conte com os mesmos aparatos que as escolas particulares, a coordenadora da Patrulha Escolar pela Secretaria da Educação, Margarete Maria Lemes, atesta que os profissionais têm se aprimorado para obter disciplina dos alunos e, assim, garantir também a segurança. ?E isso se faz fortalecendo relações dentro da escola, entre alunos, professores e família?, afirma.

Pessoalmente, ela acredita que câmeras seriam instrumentos interessantes para o sucesso da obediência. ?Os equipamentos suprem o que a gente não consegue fazer com o trabalho humano. Se não há número suficiente de inspetores, por exemplo, as câmeras preenchem parte dessa ausência?.

Já a psicóloga Maria Elizabeth Haro, coordenadora de Comunicação e Psicologia Educacional do Conselho Regional de Psicologia, acredita que a vigilância não é a alternativa ideal, mas, hoje, tornou-se vital para garantir controle. ?As pessoas se acostumaram a isso da mesma forma que se acostumaram à violência, aos roubos, assaltos e a escola tem de ter controle porque não pode expor o aluno a esse tipo de risco. Pelo bem de todos, infelizmente, não tem como pular esse pedaço. É o ponto a que chegamos?, lamenta.

No quesito disciplina, as câmeras vêm a ser um instrumento de auxílio, para a psicóloga. ?O aluno de anos atrás era mais obediente, para usar uma palavra antiga, tinha mais limites e uma postura de respeito aos professores. Havia uma série de normas que a criança era preparada para lidar. Hoje, muitas dessas regras são completamente ignoradas, interpretadas como chatice, imposição. Mas até para falar em liberdade a gente precisa de ordem?, explica.

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