Edifícios com estruturas danificadas representam risco

Muitas pessoas pagam caro por imóveis e mesmo assim não se preocupam com a durabilidade. Ela depende de vários fatores como o projeto estrutural, os materiais usados e a forma como o trabalho foi feito. A julgar pela quantidade de prédios que estão apresentando problemas em suas estruturas, a preocupação com esses itens parece não ser uma regra no mundo da engenharia civil. O engenheiro Jacson Polese dos Santos, imagina que mais de cem edifícios em Curitiba precisem ser recuperados com urgência. Alguns foram construídos há pouco tempo.

O engenheiro Jacson está assustado com a quantidade de prédios que estão apresentando problemas em todo o País. Calcula que no Sul do Brasil cheguem a cinco mil. Ele explica que um dos maiores problemas está relacionado à falta de cuidado com cobrimento das armaduras de aço. A camada de concreto utilizada é muito fina, os materiais usados não são adequados ou o modo como o trabalho foi feito deixou a desejar.

A situação chegou a preocupar tanto, que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), após avaliar os problemas apresentados pelas estruturas dos prédios, mudou a norma que trata do assunto, a NBR 6118/1980. A partir de 2003, a camada de concreto recomendada para proteger o aço passou de 1,5 centímetro para 2,5 centímetros.

Jacson explica que quando o aço não está protegido de forma adequada, oxida com facilidade devido a ação das intempéries – da umidade, gases tóxicos, entre outros. Quando o processo ocorre, o aço vai se transformando em pequenas partículas, diminuindo o diâmetro da barra e a capacidade para resistir ao peso depositado sobre ele. Mesmo depois de passar por um processo de recuperação a sua capacidade não será mais a mesma.

Segundo o engenheiro, também é muito caro recuperar o imóvel com esse tipo de problema. É preciso abrir as estruturas e lixar o material, além de passar produtos para parar o processo de corrosão. Mas se o trabalho não for bem feito o problema pode continuar.

Geralmente a conta fica com os moradores. A situação só é descoberta depois do período em que o engenheiro não tem mais responsabilidade sobre os problemas que o prédio venha a apresentar. Mas, se for provado que o problema tem origem na falha de projeto, material usado ou na execução, a construtora pode ser processada.

Para evitar todo esse transtorno, Jacson recomenda o uso de espaçadores que garantem o cobrimento total das armaduras de aço e prolongam em até cinco anos a vida útil das construções.

O professor de concreto armado do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), Amacin Rodrigues Moreira, confirma que o problema existe. Embora não saiba precisar quantos prédios na cidade estariam nesta situação. ?Pode ser menos ou até mais de cem?, comenta. Mas afirma que é comum se ouvir falar de edifícios que estão com problemas em sua estrutura ou outras patologias. ?Eles estão apresentando problemas muito antes do que seria comum devido ao desgaste natural dos materiais?, observa.

Registro dos problemas

Para o coordenador técnico da Comissão de Segurança e Edificações de Imóveis (Cosed), da Prefeitura de Curitiba, Hermes Peyerl, o engenheiro Jacson não deixa de ter razão. Só na semana passada o órgão atendeu dois prédios que apresentavam o problema. A média de idade deles era de 10 anos.

Hermes diz que a falta de cobrimento adequado do aço e os gases emitidos pelos carros na garagem provocaram a corrosão nas ferragens. Conta que o problema é comum, mas também não sabe precisar em quantos edifícios a mesma situação foi verificada. Segundo ele, o registro feito pelo órgão apresenta apenas que a estrutura está danificada, mas não traz especificações.

Hermes explica também que problemas com as estruturas não ocorrem apenas porque o trabalho não foi bem feito. O meio ambiente aliado ao tempo também são inimigos. A temperatura é uma das vilãs. No calor, o aço e o concreto passam por processos de dilatação diferentes. O primeiro é mais expansivo e acaba provocando rachaduras no concreto. Por ali, os agentes externos penetram e começam o processo de oxidação. ?Daí a necessidade de vistoria permanente?, recomenda. Os moradores devem ficar atentos.

Fiscalização

Segundo Hermes, não existe um órgão que fiscalize o trabalho das construtoras e engenheiros. Mas a Confederação Nacional dos Engenheiros e Arquitetos está preocupada com a questão e está discutindo a criação de um mecanismo para assegurar a qualidade do que é construído. ?No entanto existe muita polêmica. Alguns engenheiros acham absurdo serem fiscalizados por outros?, fala.

O vice-presidente do Sindicato da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon), Normando Baú, reconhece que existem problemas, principalmente devido a falta de mão-de-obra qualificada. Mas comenta que a qualidade da construção civil no Estado é uma das melhores do País. (EW)

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