Manifestação

Duzentas famílias ocupam área de manancial na RMC

Mais de 200 famílias, compostas por pessoas que não possuem escritura de imóvel ou cadastro na Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), se dispuseram em lotes por toda a extensão de uma área de intervenção do Estado no Jardim Guarituba, em Piraquara.

O terreno fica à margem da Rodovia João Leopoldo Jacomel, entre as ruas Betonex e Herbert Trapp. A demarcação das 14 quadras com 12 lotes de 10 por 20 metros cada, separadas por ruas, teve início na sexta-feira.

A área tem vários donos legais que não têm autorização do poder público para fazer nenhuma obra, já que todo o trecho é de manancial. É o caso da Maria Cordeiro, 51, que comprou uma parte do terreno há oito anos com intenção de trazer para Piraquara uma empresa que fabrica e vende toldos.

“Pedimos liberação para construir, mas não conseguimos por todo esse tempo. Mesmo sem poder fazer nada, temos que pagar impostos”, afirma. Ela veio de Cruzeiro do Oeste com a família para evitar que os manifestantes invadissem seu terreno.

Projeto

“Depois de um mês de trabalho ganhamos no máximo R$ 700. Temos que pagar cerca de R$ 400 de aluguel, mais água, luz, gás, e não sobra dinheiro pro leite das crianças”, desabafa Carlos Antônio de Lima, 40 anos, pai de quatro crianças com menos de cinco anos.

Ele já conseguiu um lote da invasão e começou a levantar uma pequena casa de madeira. “Quem tem fome, tem pressa, não pode ficar esperando. A gente sabe que a prefeitura e o governo podem dar apoio”, frisa Paulo Eugênio, morador da região que concorda com a mani festação, ao contrário de outros tantos, que acreditam que os invasores são pessoas que possuem carro, casa, e querem a posse do terreno para vender posteriormente.

Revoltado com esse ponto de vista de muitos moradores do bairro, o pastor Maurilei esclarece que não houve invasão, mas sim uma ocupação organizada e pacífica.

“As pessoas que estão aqui foram selecionadas porque realmente precisam de um lugar para morar. Temos um projeto para trazer apoio de uma assistente social, água, luz e escola”, explica.

Resposta

Uma reunião definirá o destino dos manifestantes hoje, às 11h20, na sede da Cohapar, em Piraquara. Segundo o secretário do Meio Ambiente da cidade, Gilmar Clavisso, todo o bairro é área de invasão sobre manancial, e por esse motivo foi feito um projeto de estruturação.

“Para que pudéssemos iniciar as obras no bairro, o Ministério Público exigiu que, no ponto recém-invadido, houvesse restrição de ocupação para preservação ambiental. Ali a área é mais baixa, sujeita a inundações, cercada por um canal de drenagem”, revela.

Na reunião, a prefeitura pretende confirmar a inclusão dos invasores no cadastro da Cohapar e verificar se será possível ceder a eles algumas das casas construídas através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“O movimento deles é legítimo, mas tem regras a serem seguidas. Mesmo que eles tenham um bom projeto, nós já estamos na metade do nosso plano de estruturação do bairro, que abrange de oito a dez mil famílias”, ressalta.

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