Com a pandemia do novo coronavírus, a vida de home office chegou para muita gente. E no meio dessa situação tão surreal de isolamento, a repórter consagrada Dulcinéia Novaes encontrou um novo espaço para fazer reportagens: a cozinha da sua própria casa. “A gente ouvia falar de home office, mas de quem resolve abrir a própria empresa, ser patrões de si mesmo. Eu jamais imaginaria que trabalhando com TV eu pudesse fazer esse trabalho”, confessa a jornalista que completou recentemente 39 anos de RPC.
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A nova rotina tem sido uma experiência inédita para Dulcinéia. A jornalista, que coleciona reportagens especiais gravadas para o Globo Repórter em lugares como Ilha da Madeira, Ilhas Canárias, Madagascar, Moçambique, Noruega, Havaí e tantos outros, tem se reinventado a cada dia. Nesses dias de isolamento social, a profissional tem conquistado ainda mais o público com receitas provocativas no jornal Meio Dia Paraná, para a tortura de quem só almoça depois das 13 horas.
A simpatia e o carisma conquistado em anos de profissão fez com que suas leves reportagens da quarentena fossem um alívio durante um período com tantas notícias tristes da pandemia. Foram receitas com peixe ao molho, berinjela recheada, biscoitinhos, sobremesas e até dicas de reaproveitamento de alimentos.
Aos poucos, Dulcineia foi ajustando a rotina de trabalho com as novas tecnologias. Afinal, o desafio profissional dos últimos dias vai muito além de cozinhar com uma mão e gravar com a outra. “Eu tô me virando bem, às vezes levo uma surra do Skype [programa de videochamadas]”, brinca.
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Com as novas gerações que estão mais naturalizadas com a tecnologia, fazer reportagem de TV com o celular pode parecer muito simples. Porém, a repórter que chegou a ver o uso do telégrafo nas redações vem acompanhando a evolução toda. “Eu sempre falo ‘ajuda a tia’, mas acho que estou dando conta tranquilo”, confessa. Para ela, entrar ao vivo dentro da própria casa tem sido ‘ultramega novo’.
Um novo jornalismo que nasce
O desafio profissional dos últimos dias vai além de cozinhar e contar histórias de quem faz a diferença na quarentena.“O isolamento estimulou a minha criatividade. Estou muito mais conectada, faço entrevistas por Skype, converso muito com editores, produtores, participo de reuniões. Então, me sinto mais ativa que quando trabalhava na rua”, avalia.
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E justamente por estar em casa, Dulcinéia explica que o trabalho tem sido mais provocativo. A rotina de trabalho atual, segundo Dulcinéia, tem criado um convívio mais intenso entre toda a equipe. “Quando eu trabalho na rua, eu faço a reportagem e geramos o material. Eu não tenho tanto essa participação na edição como agora. Vejo que esse isolamento social nos aproximou bem mais. É frenético e estimulante”, conclui.
A incerteza do futuro
Há 49 dias em casa, a repórter saiu apenas duas vezes de casa, de máscara e com todo o cuidado. “Não me senti pra baixo e nem nada. Mas tem amigos que estão desesperados, eu to aguentando. Eu fico preocupada com os meus colegas que estão na rua, expostos. A gente torce muito por eles. Realmente estou rezando para que tudo corra bem”, confessa.
Há poucos dias de férias, a repórter tem aproveitado o tempo livre para viajar… nas lembranças de família. “Resolvi fazer um pão. Peguei uma receita e lembrei de como a minha vó fazia, fiz adaptações. E deu certo, renderam dois lindos pães, até postei no insta”, conta. Como nas memórias de infância, Dulcinéia fez com a avó, quando juntava todos os netos em volta da mesa lá em Londrina. Ela fritou parte da massa, polvilhou com açúcar por cima. “Minha mãe experimentou e meu pão foi aprovado”.
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Na linha de resistência pelo isolamento social, Dulcineia vê um lado positivo diante dos dias difíceis. “Tudo isso é uma grandessíssima lição. A humanidade está aprendendo pela dor, tomara que aprenda. Precisamos rever valores, valorizar quem está perto e quem está distante”, conclui.
E diante de uma situação inédita, o Dia das Mães esse ano vai ser especial. Dulcineia, que é mãe de dois rapazes, Flávio Vinícius e Fábio Augusto, vai passar o próximo domingo curtindo o carinho da mãe, dona Maria, de 86 anos, de quem ela passou a ser companhia desde o início do isolamento social.