Drama dos que moram na rua cresce com o inverno

Pedro da Silva, de 41 anos, mora em Curitiba há mais de cinco anos. Ele veio, a pé, de Laranjeiras do Sul, Centro-Sul do Estado, em oito dias. A esperança era encontrar na capital uma vida melhor da que tinha no interior, onde trabalhava na lavoura. João Félix França, 60, está há oito anos em Curitiba, vindo de Irati. Ele também deixou o trabalho na agricultura para tentar conseguir melhorar a vida da família. Os dois não atingiram os objetivos e hoje moram nas ruas de Curitiba.
 
?E essas histórias se repetem?, afirma a responsável pelo gerenciamento da Central de Resgate Social da Fundação de Assistência Social da Prefeitura, Maricélia Hack Lamy. Ela conta que a entidade atende em média cem pessoas por dia, mas durante o inverno esse número aumenta para 130 pessoas. A abordagem é feita, geralmente, depois da comunicação da população pelo telefone da central (41) 223-8899. No local, além da higiene, alimentação e hospedagem, essas pessoas também recebem atendimento médico e muitos são encaminhados para entidades de recuperação de dependência química.
Na maioria dos casos, as pessoas se tornam alcoolistas porque a bebida é uma tentativa, principalmente no inverno, de afastar o frio. ?A cachaça ajuda a esquentar?, confessa o andarilho Sebastião Godói, 49, que há vinte mora nas ruas. Ele deixou Bocaiúva do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, e hoje vive de esmolas. As refeições diz conseguir em locais fixos, como em uma padaria na Trajano Reis,  onde esperava, ontem pela manhã, pela primeira refeição do dia. ?Eles abrem às 9h e dão pão pra gente. Sempre venho aqui?, disse.
Esperança
Sentado em um banco no terminal de ônibus do Guadalupe, no centro da cidade, Pedro da Silva tentava decidir qual seria o roteiro do dia. Ele conta que passou a noite no albergue da Fundação de Assistência Social da Prefeitura, mas às vezes acaba dormindo na rua. Os documentos ele diz ter perdido no Parque Barigui, e depois de fazer a segunda via das carteiras de identidade e de trabalho, pretende voltar para o interior. Enquanto isso não acontece, faz alguns trabalhos como corte de grama ou limpeza de canil. ?Chego a ganhar até R$ 15,00 para passar a semana?, revela. Mas não são todos os dias que tem trabalho, e para passar o tempo, e principalmente ?aquecer? o corpo, diz que ?às vezes a gente toma alguma coisa pra esquentar?.
A esperança de muitas dessa pessoas, revela Maricélia Lamy, é refazer a vida, e muitos acabam criando laços na nova família que encontram nas ruas. ?Eles acabam perdendo o contato com a família, ou muitas vezes são abandonados por elas, e querem construir uma nova vida com a outras pessoas que conviveram nas ruas em condição semelhante?, diz.
A maioria das pessoas que vivem nessa situação de risco ou vulnerabilidade são homens, entre 18 e 48 anos, que estão na fase produtiva, e acabam na marginalidade por ser excluídos do mercado de trabalho.
Mas existem pessoas que admitem gostar das ruas, pela sensação de liberdade e de fugir às regras impostas pela sociedade. É o que constatou a Renovação Carismática Católica, que há nove anos desenvolve um projeto social na Praça Tiradentes. Todas às quartas-feiras eles distribuem lanche para cerca de 200 pessoas.

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