Chuniti Kawamura / O Estado do Paraná
ALL prevê retirar até novembro os 35
vagões que descarrilaram na Serra do Mar.

“Um grave acidente envolvendo um trem da América Latina Logística (ALL) na ponte do Rio São João, na Serra do Mar, interditou o tráfego no trecho entre Curitiba e Paranaguá. Da composição formada por 45 vagões e três locomotivas, 35 vagões descarrilaram e despencaram da centenária ponte, que teve sua estrutura danificada com o impacto.” Essa manchete foi estampada nos principais jornais do País no dia 20 de julho. Dois meses depois do acidente, muito pouco foi feito para tentar reverter os prejuízos, financeiros e ambientais, causados pelo episódio.

A ALL contabilizava no seu histórico, até 19 de julho, cerca de 30 acidentes ferroviários com danos apurados pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), e que somavam multas superiores a R$ 6 milhões. Depois dessa data, novos acidentes voltaram a ser registrados. O último aconteceu na semana passada, quando dois trens descarrilaram na divisa de Rio Negro (PR) e Mafra (SC), atingindo o rio que abastece os municípios com óleos diesel e vegetal, deixando 80 mil pessoas sem água. A falta de manutenção na malha aparece sempre como primeiro indicativo para as causas dos acidentes, embora a empresa sempre descarte essa possibilidade com a divulgação de investimentos de R$ 500 milhões no setor desde 1997, início da concessão.

TAC

Após o acidente na Serra do Mar, o IAP embargou a utilização da ferrovia até que fosse assinado um termo de ajuste e conduta (TAC), no qual a empresa se comprometeu a cumprir uma série de exigências. O documento, elaborado com a participação de várias entidades, como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), Defesa Civil e Sindicato dos Engenheiros do Paraná, foi redigido com o objetivo de criar mecanismos para reduzir o risco de acidentes ambientais, bem como de danos ao meio ambiente, provocados pela operação no trecho. Entre os termos do TAC estão a obrigatoriedade da empresa em apresentar uma análise de risco ambiental, além de um plano de contingência com o mapeamento de sensibilidade ambiental.

A empresa também se comprometeu a realizar auditorias das condições de trabalho e características operacionais do trecho, e da infra e superestrutura – que contém itens como as condições dos trilhos, dormentes, manutenção e reaproveitamento de materiais. O TAC também exige um projeto de restauração da Ponte São João, onde aconteceu o acidente, com parecer da Secretaria de Estado de Cultura. Para cumprir cada item desse termo, a empresa tem um prazo de 30 a 120 dias. Em caso de descumprimento dos prazos, a empresa será multada em R$ 10 mil por dia.

O primeiro prazo – para a entrega de um relatório de manutenção do trecho ferroviário, com cronograma das melhorias a serem efetuadas – venceu no dia 6 de setembro. Embora a ALL afirme que protocolou o documento no IAP no dia 3 deste mês, até sexta-feira o órgão ainda não havia recebido o material. A ALL informou que as demais exigências do termo estão sendo providenciadas e serão entregues no prazo.

O presidente do IAP, Rasca Rodrigues, confirmou que a empresa ainda não foi multada pelo acidente, e que isso só vai acontecer depois da retirada de todo o material do local.

A ALL disse que até novembro espera retirar todos os vagões que ainda permanecem na área. A empresa também afirmou que já concluiu o relatório final sobre as causas do acidente. Ele foi encaminhado a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que promete se manifestar na próxima semana.

Serra Verde perdeu R$ 10 milhões

Os trens de carga voltaram a circular pela ferrovia na Serra do Mar depois de vinte dias do acidente. Já os trens de passageiros ficaram mais de um mês parados. O diretor-presidente da Serra Verde Express, Adonai Aires de Arruda, afirma que a empresa amargou R$ 500 mil de prejuízos com a interrupção dos trens de passageiros. Porém ele diz que existem situações intangíveis que só serão avaliadas nos próximos anos, já que a imagem da Serra do Mar ficou marcada pelo acidente.

Para Arruda, o acidente do dia 19 de julho foi a gota d?água, e por isso a empresa resolveu fazer um levantamento dos prejuízos acumulados desde 1997. Eles somam R$ 10 milhões, que estariam sendo negociados entre a ALL, Ministério dos Transportes e Rede Ferroviária Federal. Porém a ALL entende que a cobrança dessas dívidas não devem ser feitas à empresa e sim à Rede, com a qual a Serra Verde tem contrato.

A coordenadora de patrimônio da ALL, Luane Hostert disse que a empresa recebe da Serra Verde 30,2% do valor das passagens para os custos e disponibilização das locomotivas. “Nós também tivermos prejuízos com isso, pois deixamos de receber esse valor. E essa conta não é nossa”, falou.

Rios interditados

O milho, açúcar e farelo de soja, que formavam a carga dos vagões que descarrilaram, atingiram os rios São João e Nhundiaquara e provocaram a contaminação da água. Até hoje o IAP mantém a proibição de qualquer atividade e utilização dos rios. Essa decisão, diz o prefeito de Morretes, Elder Teófilo dos Santos, trará um grande prejuízo para o município, que tem parte da sua economia gerida por atividades de ecoturismo. Ele entende que o acidente na Serra do Mar causou um grande dano ambiental, além de prejudicar a imagem do município. A Prefeitura está exigindo da ALL uma série de medidas compensatórias. Entre elas, a implantação de ações de segurança nos trilhos ao longo da Serra do Mar em Morretes e um investimento na recuperação dos rios. (RO)

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