Documento aprovado ajudará na política de proteção aos autistas

Ainda bebê, Giovane mostrava ser diferente. Ele não gostava de mamar, não sentava, não engatinhou e só começou a falar muito depois das outras crianças, com cinco anos. A mãe, Josiane Schiavo, chegou a pensar que ele era surdo, pois gritava muito. Até que veio o diagnóstico: Giovane, hoje com seis anos, é autista. A mãe não conhecia a doença, o pediatra não percebeu as características. É a luta pela divulgação da doença que move a comemoração do Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado ontem.

Josiane esteve na Boca Maldita junto com outras entidades assistenciais, familiares e profissionais que cuidam de autistas. O objetivo da mobilização foi divulgar a síndrome que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, afeta cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo e cerca de dois milhões só no Brasil.

Projeto

Um grande passo foi dado ontem pela Assembleia Legislativa, com a aprovação em primeira discussão do projeto de lei do deputado Péricles de Mello (PT). A proposta estabelece as diretrizes da Política Estadual de Proteção aos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Segundo Mello, é uma complementação à lei federal da Política Nacional de Proteção aos Autistas, sancionada pela presidente Dilma Rousseff no ano passado. A grande mudança com essa lei foi que os autistas passaram a ser reconhecidos como pessoas com deficiência, garantindo todos os direitos reservados a esse grupo.

O projeto do petista prevê a criação de cadastro de pessoas com autismo e o Estado vai auxiliar na formação de profissionais para diagnosticar a síndrome, com a inserção de disciplina nas universidades. Também será feita a inclusão dessas pessoas no ensino regular. “As escolas hoje não estão preparadas e existem até escolas particulares que exigem pagamento adicional para autistas”, afirma o deputado.

Dificuldade no tratamento

A presidente da Associação de Atendimento e Apoio ao Autista (Aampara), Rosimere Benites, também mãe de uma menina autista de 14 anos, conta que a filha brincava, interagia e falava, até que, de uma hora para outra, parou tudo e se isolou. “Ela não queria colo, nem beijo. É muito desgastante, porque a gente quer ajudar e não sabe como”, relata. “A falta de conhecimento faz com que exista muita dificuldade de encontrar atendimento e terapias adequadas”, diz.

Maria Antonieta Miranda coordena o Centro de Atendimento de Jovens e Adultos Especiais Autistas (Cajae) e mãe de Guilherme, que tem 34 anos. Ela reclama da falta de centro especializado para o autismo em Curitiba e desabafa sobre as dificuldades encontradas pelos familiares de autistas. “É uma luta porque a gente não conta com apoio dos familiares, fica sozinho e não pode ter vida. É importante despertar a necessidade do apoio do governo nesses casos”, comenta.

Sinais aos seis meses

A psiquiatra infantil Mirian Revers Biasão explica que o autismo é um transtorno neuropsiquiátrico que atinge a comunicação social da criança. Segundo ela, os primeiros sinais podem ser percebidos nos primeiros seis meses de vida. “As crianças autistas têm diferença no modo de olhar, que é mais vago; atraso na fala; dificuldade de aceitar alimentos novos; se balançam; e têm um interesse específico por alguns assuntos”, descreve.  O tratamento depende do grau da síndrome e envolve psicoterapia, fisioterapia, fonoaudiologia e medicamentos. A médica diz ainda que o contato com outras crianças é fundamental para o desenvolvimento dos autistas. “Existem estudos que mostram o cérebro dos autistas antes e depois dos contatos sociais que apontam a melhora nas conexões dos neurônios”, afirma.

Aliocha Maurício
Maria, mãe de Guilherme, pede apoio do governo.
Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo