Documentário revela vida de crianças abrigadas

O lançamento nacional do documentário O que o destino me mandar, produzido pela jornalista Ângela Bastos, sobre a realidade das 80 mil crianças que vivem abrigadas no país, longe de uma família, foi ontem em Curitiba, durante o XIX Congresso Brasileiro de Magistrados. Segundo Ângela, a solidão dos órfãos brasileiros parece ser invisível e muita coisa ainda precisa ser feita para pôr um ponto final neste problema.

O documentário tem apenas 59 minutos, mas retrata quase uma vida inteira de crianças e adolescentes que passaram a maior parte dos seus dias abrigadas. ?Tem criança que entrou com 7 anos e hoje tem 14?, exemplifica Ângela. Muitos estão lá porque a família ainda não tem condições de recebê-los de volta, enquanto outros aguardam uma nova família.

A solidão em que vivem as crianças foi o que mais chamou a atenção da jornalista. Ela fez as filmagens aos finais de semana porque é quando os abrigados não têm atividades. ?Elas ficam olhando pela janela, por trás das cortinas, querendo saber se alguém irá vê-las?, fala.

Como os pequenos, os adolescentes também sofrem. Sabem que as suas chances de ter uma família são mínimas. Todas as dúvidas que vêm junto com a puberdade não encontram respostas, embora os atendentes procurem ajudar. ?Mas os adolescentes afirmam que não é a mesma coisa quando se tem uma família?, comenta a jornalista.

Segundo ela, existem três grandes problemas que entravam o processo de adoção ou da volta das crianças para casa. Um deles é a falta de varas especializadas, o problema das crianças se perde em meio a tantos crimes. Mas o Paraná é uma exceção. ?Aqui existe uma vara especializada e os processos são mais rápidos?, compara.

Se a Justiça não ajuda muito, também faltam políticas públicas para trabalhar com a famílias desestruturadas. Muitas crianças passam anos nos abrigos até que a família volte a ter condições de recebê-las. ?É relativamente fácil tirar a criança do convívio da família e colocá-la no abrigo, mas, e depois??, questiona.

Por último, a própria sociedade tem a sua parcela de culpa. A maioria das pessoas quer adotar uma miniatura da barbie. A criança deve ser do sexo feminino, ter no máximo dois anos, pele clara, sem irmãos. No entanto, o perfil das crianças abrigadas no Brasil é bem diferente. ?Há o caso de um casal que ficou um dia esperando. Eles não tinham qualquer tipo de exigência?, comenta Ângela.

Ela espera que o documentário chame a atenção da sociedade para o problema.

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