As universidades estaduais entraram hoje no terceiro e último dia de paralisação com expectativas frustradas em relação às negociações de reposição salarial para os docentes. É que ontem, em reunião com as secretarias estaduais de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e de Administração e Previdência para discutir o Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) dos servidores técnico-administrativos do Estado, o reajuste de 81% reivindicado pelos professores sequer foi mencionado.
A omissão foi considerada pela regional Paraná do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) como reflexo da insistência do governo em ignorar o assunto.
O secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldair Rizzi, se defendeu, afirmando que o tema a ser discutido ontem era somente o PCCS reivindicado pelos técnicos, que praticamente não participam da paralisação nas universidades. Nem mesmo a adesão maciça de professores em todo o Estado foi capaz de mudar a pauta da reunião. ?Já estava agendada há meses. Nossa intenção hoje (ontem) era somente discutir o PCCS e nada mais?, afirmou. O secretário disse ainda que a paralisação dos docentes atrapalhou o andamento do processo de revisão do reajuste salarial pelo governo. ?Nós estávamos indo bem, já havíamos feito reuniões com os docentes, o Ministério Público e o Tribunal de Contas para acertar padronizações de folhas de pagamento. Todas as dificuldades já haviam sido transpostas?, enfatizou. De acordo com Rizzi, o índice reivindicado está ?fora de cogitação pelas possibilidades orçamentárias do Estado?.
O atitude do governo, entretanto, desapontou os representantes sindicais da categoria. O diretor do Andes no Paraná, Hélvio Mariano, considerou a não discussão do assunto reflexo da ?intransigência do governo?. ?Os docentes saíram sem nada, o que nos empurra para uma greve por tempo indeterminado a partir do segundo semestre, caso não haja um novo posicionamento do governo para negociações?, confirmou. ?Estamos cansados de esperar.?
PCCS
Em relação ao PCCS, de acordo com sindicalistas, o posicionamento do governo é de corrigir algumas distorções nas cláusulas do plano e apresentar uma análise até o dia 15 de julho. ?Não será uma proposta pronta, mas que dará início ao processo de negociação efetiva?, avaliou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino de Maringá (Sinteemar), Ana Estela Codato. Ela afirmou ainda que, quanto aos docentes, a adesão na Universidade Estadual de Maringá à paralisação já está entre 70% e 80% dos professores. ?Tivemos também informação pela Aduel (Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Londrina) que em Londrina a adesão dos professores já é de 100%?, completou.
Ontem pela manhã, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), foram realizadas aulas com carros de som e distribuição de adesivos em defesa da universidade pública. Na Universidade Estadual do Oeste (Unioeste), houve ato público no Hospital Universitário para discutir os problemas enfrentados pelos servidores. Na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) foram realizadas atividades de sensibilização da comunidade e na Universidade Estadual de Maringá (UEM), enquanto alguns cursos estavam em aula, carros de som passavam pelo campus central com pedidos de união da classe de servidores pela defesa da universidade. Na cidade estarão reunidos amanhã representantes das cinco universidades paralisadas para avaliar resultados dos três dias de manifestação.
Cotas: vestibulandos da UEPG são contrários
Lígia Martoni
A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) está engajada na discussão de políticas afirmativas que poderiam alterar o sistema seletivo da instituição. Entre os principais debates em pauta está a adoção de sistema de cotas raciais e sociais, o que gera polêmica tanto dentro da universidade, entre alunos e professores, como na sociedade local. Em uma pesquisa realizada no último concurso vestibular da UEPG, os participantes mostraram opiniões desfavoráveis à possível adequação ao sistema de cotas.
Porém, de acordo com a pró-reitora de graduação da universidade, Cândida Leonor Miranda, o assunto deve ainda ser discutido amplamente antes de qualquer modificação no sistema seletivo. O levantamento entre os vestibulandos foi feito por meio de um questionário socioeconômico que procurava saber a etnia dos participantes e levantar manifestações sobre o sistema de cotas, adotado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) pela primeira vez no concurso vestibular de dezembro do ano passado. As respostas mostraram que, de cada dez vestibulandos, sete eram contra reserva de vagas para alunos de escolas públicas e 90% de todos os concorrentes disseram não concordar com as cotas raciais. ?É um dado interessante, mas não pode ser considerado fora do contexto de seleção, que traz viés de competitividade. Quisemos sentir em determinado momento as opiniões?, elucida a pró-reitora.
Cândida lembra que não existe nenhuma determinação legal para que as universidades estaduais implantem as cotas. Ainda assim, segundo a reitora, o assunto vem sendo discutido em diversas instituições de ensino superior. ?As universidades têm autonomia para isso. Os dados levantados servirão para subsidiar decisões, embora estas dependam de nossos conselhos superiores?, esclarece.