A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) divulgou os dados do primeiro semestre de 2006 e um deles surpreendeu o secretário-geral da entidade, Paulo Massarolo. Dentre os três estados da região sul, o Paraná aparece com 12,6% de doadores efetivos de órgãos, contra 36,5% de Santa Catarina e 42,6% do Rio Grande do Sul.
Segundo Massarolo, o Paraná sempre foi referência quando o assunto foi transplante de órgãos, mas os números de 2006, até agora, levantam questionamentos. ?Não dá para entender uma diferença tão significativa entre os estados, já que o Paraná tem características econômicas, sociais e culturais semelhantes aos demais estados do sul?, diz. Mais do que isso, ele destaca a organização do sistema público de saúde como fator que poderia ser um diferencial positivo em relação aos demais estados. ?O Paraná tem hospitais geridos pelo estado que são referências nacionais. Certamente, nesse ponto, não está a gênese dessa baixa captação de órgãos.?
Para o secretário, é necessário que se faça uma análise de todo o processo que envolve a captação de órgãos, para que se descubra o porquê da queda de transplantes no Paraná. ?Provavelmente está havendo uma falha de comunicação entre os hospitais e como o processo de captação tem que ser muito rápido, acabam-se perdendo possíveis doadores?, teoriza.
No processo de doação de órgão é respeitada uma seqüência que inicia no bom atendimento ao paciente que teve derrame ou trauma, pois ele é um potencial doador. ?Nisso tenho certeza que não há falhas, dada a qualidade no atendimento médico no sistema público do Paraná?, diz Massarolo. A segunda etapa consiste na constatação efetiva do falecimento, que requer duas avaliações médicas detalhadas, especialmente que constatem a morte cerebral. ?Essa etapa requer aparelhos modernos e o Paraná também possuí?, assegura o secretário. Para ele, a falha deve estar ocorrendo em um problema de comunicação entre quem notifica e quem recebe a notificação, a Central de Transplante. ?Isso é apenas uma suposição, já que não conheço profundamente a logística de captação do Paraná. Mas é o mais provável.? Outra falha, na opinião de Massarolo pode estar na consulta à família. Para o médico e professor de cirurgia Júlio Wiederkehr, a falha está na falta de aproximação entre as equipes. ?Não há um trabalho eficiente entre as pessoas que fazem a captação com as equipes que fazem os transplantes?, acredita.
Soluções
O diretor médico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Manoel Guimarães, afirma que os dados analisados pela ABTO são preliminares e mascaram outros aspectos positivos do Paraná. ?Nossos números de transplantes de ossos e de válvulas cardíacas no ano passado, por exemplo, superaram a média nacional?, diz. Mais do que isso, ele garante que a campanha de doação de órgãos deste ano começou no segundo semestre. ?Vamos esperar para analisar os números gerais.?
No entanto, Guimarães reconhece que ainda há muito a ser feito e diz que a Sesa vem investindo pesado na questão do transplante. Recentemente, os principais hospitais do estado foram equipados com novos aparelhos de ecodopler, que permitem a certificação rápida da morte cerebral. Ele garante que outras ações estão sendo realizadas.
?No caso específico da córnea, fizemos um convênio com a Universidade Federal do Paraná que visa zerar a fila de espera por esse tipo de transplante?, garante. Ele assegura que a Sesa também está ciente da necessidade de maior integração entre hospitais e a Central de Transplantes.