Só quem já precisou passar por um transplante é que pode compreender a grandeza do ato de doar órgãos. O sentimento de alegria e de vida nova invade quem recebe.
A satisfação e até um certo alento pela perda do ente querido chegam à família do doador. Doar órgãos é um ato rodeado apenas de sentimentos positivos. Na próxima segunda-feira é comemorado o Dia Nacional do Doador de Órgãos.
Na semana passada, ocorreram alguns eventos para lembrar a importância disso e também conscientizar e informar profissionais da saúde e a população em geral.
A recepcionista Anne Gabrielli Model de Ramos, de 18 anos, autorizou a doação de vários órgãos de sua mãe, Rosi Maira Model que, aos 50 anos, foi vítima de dois derrames cerebrais.
Rosi morreu em agosto no Hospital de Clínicas (HC) e Anne não teve dúvidas: doou pâncreas, fígado, córnea, coração e ossos. “A sensação que tenho hoje é muito boa, pois eu sei que estou ajudando várias pessoas e que aqui na Terra há vários pedacinhos da minha mãe”, disse Anne, que vive em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.
Depois da doação múltipla da mãe, Anne também se sensibilizou com quem precisa de sangue. “Hoje eu doo sangue e levo minha amiga junto para doar também”, disse.
Se para quem doa é uma satisfação (apesar da dor da perda de um ente querido), para quem recebe é questão de vida ou morte. O microempresário Gerson Lute, de 53 anos, recebeu um fígado há três anos.
Ele ficou na fila por quase dois anos até conseguir um doador. Ele foi submetido ao transplante em Chapecó, Santa Catarina, já que em Curitiba estava demorando muito.
“Foi a maior experiência da minha vida. Admiro muito quem tem coragem de doar, pois não é fácil. Doar para um estranho, alguém que você não vai nem ver, é muito corajoso. Quando a gente recebe o órgão se aproxima de Deus”, disse ele, muito bem humorado após passar pela cirurgia e, ainda, contrair tuberculose.
3,8 mil esperam por um órgão
No ano passado, foram realizados no Paraná 1.345 transplantes. Neste ano, até agosto, já foram feitos 832 transplantes. No entanto, a fila de espera é de 3.835 pessoas, sendo que a maioria delas aguarda por um rim (2.422) e por uma córnea (1.032).
A coordenadora da Central de Transplantes no Paraná, Shirley Batista Nascimento, afirma que o preconceito e as ideias errôneas sobre o tema estão diminuindo cada vez mais. “A falta de informação e até a falta de cultura, no Paraná, estão reduzindo”, afirma.
Para ela, um dos grandes diferenciais está na formação das equipes que compõem as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos, cujos hospitais que possuem no mínimo 30 leitos têm que ter.
No Hospital São Vicente, em Curitiba, essa comissão passou a atuar mais a partir de agosto deste ano. Desde então, das 30 mortes que poderiam resultar em doações, apenas quatro não foram autorizadas pelas famílias.
A enfermeira e coordenadora da Comissão no Hospital São Vicente, Kátia Duarte, analisa que ainda há muita desinformação sobre doação de órgãos, principalmente entre os profissionais. (MA)