Em 1996, a curitibana administradora de empresas Paula, de 34 anos (os nomes são fictícios, mas a história é real) não imaginava que poderia encontrar o seu grande amor, o gerente financeiro Marc, 35. Ainda mais tão longe de sua casa: em Cannes, na França. Foram duas semanas de relacionamento, pois o curso de línguas que ela foi fazer por lá durava apenas um mês. Depois disso, cada um voltou para seu país e o casal ficou cinco anos sem se ver, apenas namorando à distância. Os cinco anos que se seguiram foram de expectativa, insegurança, saudades. Mas o final da história foi muito feliz, depois de muitos percalços pelo caminho.
O caso de Paula e Marc é um exemplo de que todos os relacionamentos são possíveis, até aqueles que parecem os mais difíceis, rompidos pelas barreiras geográficas. Hoje, os dois estão casados, vivem na Suíça e têm um filho.
Paula conta que ao ver Marc foi ?amor à primeira vista?, o que ela acredita que não aconteceu com ele. ?Os suíços são mais racionais. Enquanto algo do Marc voltou comigo da França, pra ele foi um relacionamento passageiro, na época. Então passamos a nos corresponder por carta, internet e postais. Durante os cinco anos não foi tão difícil, pois a história com ele era o que me colocava pra cima, foi tão bonito e intenso que, cada vez que eu lembrava, levantava rapidinho o meu astral?, conta.
De repente, Marc parou de se comunicar com Paula, um balde de água fria nas esperanças da moça. ?Ele trabalhava muito, mas o meu sexto sentido dizia que ele tinha perdido o interesse mesmo. Foi quando chegou o postal dele, um convite para eu ir à França. A coincidência maior foi que a minha empresa também me mandou ir pra lá na mesma semana. Era o destino?, disse Paula. A partir daí foi um misto de surpresas boas e ruins: depois do reencontro e de Marc ter dito à Paula que ?era pra ela ser feliz do outro lado do mundo, sem ele?, o suíço acabou se entregando à paixão e se declarou, por e-mail, a pedindo em casamento. Tudo se resolveu em menos de um ano e, ao final de 2001, os dois já estavam casados, vivendo na Suíça. ?Eu topei na hora, sabia que era aquilo que queria pra mim?, relata Paula.
Para Paula, o mais difícil em cinco anos de namoro à distância foi ?viver com o sonho que não se realizou, ficar na dúvida em pensar como seria se tivesse continuado…?. O mais fácil era ?pensar que aquelas duas semanas tinham sido as mais especiais da sua vida?. ?Sabe aquele livro Enquanto o amor não vem? Pois é, eu li nesses cinco anos. Há uma passagem que diz que você só vai encontrar a sua outra metade quando ela estiver pronta, preparada para você. Foi o que aconteceu com a gente?, diz Paula. Para ela, o relacionamento à distância só pode dar certo quando há respeito e sinceridade das duas partes. Além de muita, muita paciência.
Profissionais dão dicas para os clientes
Foto: João de Noronha |
Marlene: ?Pessoas querem alguém para ser feliz, não importa em que ponto do planeta?. |
Alguns profissionais da área comprovam: relacionamentos à distância dão certo. Na agência de casamentos Golden Years, em Curitiba, dos 900 casais formados até hoje, cerca de 40% são de pessoas que moravam muito longe umas das outras. A consultora em relacionamentos e proprietária da agência, Marlene Heuser, dá a ?receita?: ?as pessoas querem alguém para ser feliz, não importa em que ponto do planeta ela esteja?, diz.
Mas Marlene também é bastante cautelosa e dá sérios alertas. ?O namoro à distância pode ser muito bom, mas não para as pessoas ansiosas, que se desesperam com qualquer coisa. Em geral, esse perfil não se adapta ao relacionamento à distância?, salienta. Segundo ela, a maior parte dos relacionamentos à distância que acabaram bem na sua agência envolvia casais com equilíbrio emocional, que trabalhavam muito com o bom-senso e tinham altas doses de auto-confiança. Por outro lado, há vantagens em relações desse tipo, segundo ela, principalmente com relação à rotina, que é o verdadeiro ?tormento na vida da maior parte dos casais?, segundo a consultora.
Desilusão
Mas será que as chances do relacionamento à distância dar certo são grandes? ?Vivemos na era do descartável. Então tudo depende da intenção de cada um, o que você espera do outro, qual o projeto de vida de vocês dois. A sinceridade é fundamental?, opina. A psicóloga e terapeuta de casais Carla Cramer compartilha da opinião de Marlene. ?Claro que a cultura do descartável influencia na grande quantidade de relacionamentos que não dão certo, mas há muitas pessoas que têm medo do compromisso também, têm dificuldade de dar continuidade a um relacionamento sério?, salienta.
Pesquisador analisa salas de bate-papo
Quando se fala em relacionamento à distância nos dias de hoje, inevitavelmente remete-se o pensamento às tecnologias, como a internet. O mundo virtual torna-se um grande facilitador desse tipo de relação e pesquisas indicam que muitos casos que começam na tela do computador acabam se tornando reais. O psicólogo curitibano Márcio Roberto Régis comprovou isso em um estudo. Ele passou nove meses conversando com usuários de mais de 600 salas de bate-papo (em 2005 e 2006) e, em um universo de cerca de 500 pessoas, 34% delas afirmaram ter avançado do relacionamento virtual para o real. Para o psicólogo, na maior parte dos casos acaba sendo ?fogo de palha?, não dão certo. Segundo a pesquisa de Régis, os principais motivos que levam as pessoas a procurarem a internet para se relacionar são a facilidade de realizar as fantasias sexuais, o anonimato e a timidez.
A pesquisa do psicólogo apontou que a maior parte dos usuários das salas de bate-papo era mulher, na faixa etária dos 21 aos 30 anos. A maioria residia nas Regiões Sul e Sudeste. Para Régis, os usuários do mundo virtual se tornam mais seletivos à medida que o tempo passa. ?Hoje, há sites de relacionamento onde você conhece bem as pessoas, vê fotos e perfis, coisas que atiçam mais a curiosidade?, comentou.
Desilusões podem acontecer
O caso de Paula e Marc é de um típico ?happy end? depois de um namoro à distância, mas os especialistas alertam que é preciso ter muito cuidado para não ter desilusões nestas situações, pois muitas vezes as barreiras geográficas impedem as pessoas de saber o que realmente está passando na cabeça do outro.
A psicóloga e terapeuta de casais, Carla Cramer, explica que no caso em que o casal vive o relacionamento à distância, depois de já ter ficado junto, há mais probabilidade de dar certo. ?As pessoas têm necessidades afetivas, saber que o outro se importa com você. Para isso, o telefone e a internet podem até ajudar, mas a cumplicidade fica desafiada?, observa a psicóloga. Já aqueles relacionamentos que começam com a barreira da distância, o desafio é maior ainda, na visão de Carla. ?Nesse caso, você vai ter que se fazer conhecer na distância?, explica.