Bastam dois minutos de conversa com pacientes de grandes hospitais filatrópicos de Curitiba para ver que não há muitas reclamações do atendimento. Com exceção de algumas demoras, elogiam médicos, enfermeiros e a qualidade dos tratamentos. Porém, diretores de hospitais dizem que estão com os repasses do SUS, realizados pela prefeitura, fora do cronograma previsto, alguns atrasados desde 2013.

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Para que os pacientes não sintam os problemas causados pelas dívidas (falta de médicos, materiais e interrupção do atendimento), as diretorias têm feito empréstimos bancários para pagar salários e fornecedores. Mas como não sabem quando e quanto vão receber exatamente, não conseguem saldar a dívida e os juros vão aumentando. Só no Hospital Evangélico, por exemplo, a dívida chega a cerca de R$ 85 milhões. A do Hospital Pequeno Príncipe é de R$ 25 milhões.

Geral

José Álvaro Carneiro, diretor corporativo do Complexo Pequeno Príncipe, explica que todos os hospitais estão se endividando. O problema, diz ele, é que a prefeitura não paga os juros dos seus atrasos. Quem tem que se virar para saudá-los junto aos bancos são os hospitais que, além de já receber valor insuficiente do SUS (de cada R$ 100 gastos por paciente, o SUS paga apenas R$ 60 e o restante os hospitais se viram com doações de empresas e pessoas físicas, eventos beneficentes, atendimentos particulares ou de convênios etc.), ainda acompanham os avanços da medicina, para oferecer serviço adequado. Este investimentos em novas técnicas e equipamentos são bancados de forma particular pelos hospitais.

Fica sem acordo

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José Álvaro Carneiro, diretor do Pequeno Príncipe, diz que alguns hospitais filantrópicos, reunidos, procuraram a prefeitura para fazer acordo sobre os repasses atrasados. A primeira reunião foi feita em maio de 2013 e ficou acordado que a prefeitura ia fazer os pagamentos regularmente, além de saldar os atrasados em oito parcelas mensais. Mas, segundo José Álvaro, só duas foram pagas e ficou por isso.

“Fizemos cinco reuniões, mas percebemos que não íamos ter saída senão buscar a Justiça. Procuramos o Ministério Público, que abriu ação civil pública contra a prefeitura por entender que era uma ameaçada à saúde pública”, explicou o diretor.

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Liminar

O Ministério Público iniciou o procedimento em novembro de 2014 e, em janeiro deste ano, por força de liminar, a prefeitura passou a fazer os pagamentos regularmente e prometeu pagar os atrasados em duas parcelas.

Mesmo assim, disse Carneiro, alguns hospitais ainda possuem dívidas de 2013 a receber. Só do Pequeno Príncipe, este valor é de pouco mais de R$ 2 milhões. (GU)

Incentivo demora

O diretor administrativo do Hospital São Vicente, Pedro Marocco, explica que o contrato com o SUS prevê que, além do pagamento dos procedimentos realizados (o SUS paga R$ 10 por consulta especializada, por exemplo), há o incentivo (R$ 1 por consulta) para os hospitais que superam o mínimo de atendimentos previstos em contrato com o SUS.
Para receber os incentivos, o hospital precisa passar por auditoria, da prefeitura. Marocco diz que o hospital está sem receber as verbas do incentivo de janeiro e fevereiro e os de março e abril.

O diretor-presidente do hospital, Marcial Ribeiro, sugere que os hospitais recebam valores dos incentivos em dia e depois passem por auditoria.

Sem dia certo

A partir da entrega da fatura mensal à prefeitura com gastos de pacientes do SUS, o Ministério da Saúde entrega o valor às prefeituras que, ao receber a quantia, têm cinco dias para repassá-la aos hospitais. Mas José Álvaro reclama que paga-se parte de uma fatura, depois parte de outra, em datas aleatórias. Cada conta não é paga integralmente, conforme o prazo estabelecido. Com essa “bagunça”, os h,ospitais não conseguem se organizar direito, para saber o que está sendo pago, o que faltou e quando vão receber.

Incerteza

É por causa desta falta de regularidade, que teria começado em janeiro de 2013, que os hospitais não sabem quanto terão em caixa para pagar salários e fornecedores e recorrem a empréstimos. “Em respeito à comunidade, nenhum hospital parou de atender.

O Pequeno Príncipe, em seus 96 anos, nunca fechou as portas. Creio que o Erasto Gaertner e a Santa Casa também nunca pararam. Mas se o sistema entrar em colapso, não são os hospitais que o poder público estará punindo. São os cidadãos”, ressaltou José Álvaro.

Prefeitura responde

A Prefeitura explicou que concentra esforços para pagar as dívidas com os hospitais filantrópicos e que as pendências de outras gestões, apuradas em auditorias, já foram quitadas.

Neste ano, até meados de agosto, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) havia repassado cerca de R$ 243 milhões para as instituições.

A secretaria também tem reforçado o rigor sobre o cumprimento das metas por parte dos hospitais. “Os repasses feitos pela SMS estão regulares, com os hospitais recebendo mensalmente os recursos referentes à produção de serviços prestados, além de incentivos vinculados à Rede de Urgência e Emergência. Os pagamentos estão acontecendo dentro do prazo previsto pela legislação, que é de cinco dias úteis após a efetiva transferência dos recursos do Fundo Nacional de Saúde (Ministério da Saúde) para o Fundo Municipal da Saúde (Secretaria Municipal)”, respondeu a prefeitura, em nota.