Dia para combater o trabalho infantil

A falta de qualidade do ensino nas comunidades rurais é um dos fatores que podem levar ao trabalho infanto-juvenil. A pesquisa Panorama da Educação no Campo, feita pelo Ministério da Educação (MEC), aponta que os principais problemas são a precariedade das instalações, falta de qualificação dos professores e déficit no transporte. Além desses gargalos, a falta de um currículo mais ligado à realidade vivida no campo acaba motivando a evasão escolar, que vulnerabiliza as crianças e adolescentes para o trabalho. Hoje, no Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, várias atividades vão buscar soluções para o problema em todo o Estado.

São casos como o de Edinei Fiorese Lisboa, morador da área rural de Colombo. Hoje, com 20 anos, ele, que cursou apenas até a 3.ª série do ensino fundamental, ajuda o pai na pequena lavoura de hortaliças que fica ao lado da casa da família. ?Nem me lembro mais quando parei de estudar. Na escola, nunca me ensinaram nada. Tudo que aprendi de lavoura foi em casa?, afirma. Segundo ele, ajudar no sustento da casa pareceu mais importante e afetou decisivamente na escolha de deixar os estudos.

Falhas

De acordo com o coordenador de Educação no Campo do Núcleo da Área Norte, Adair José Bernardino, a adaptação nos currículos existe, mas depende muito dos professores. ?Fazemos capacitações e orientamos para que os conteúdos sejam relacionados sempre com a realidade rural. Mas, infelizmente, o material didático é o mesmo para todos?, disse. Ainda segundo ele, a formação para os professores que atuam nessas áreas tem que ser específica e isso ainda deixa muito a desejar.

Cultura

Outro fator que influi para os elevados índices de exploração da mão-de-obra infanto-juvenil é a visão cultural de que o trabalho retira as crianças da ociosidade e da criminalidade. Uma pesquisa realizada em Colombo pela Cooperativa Ambiens mostrou que, apesar de 72,6% dos adultos entrevistados consideram que as crianças não devem trabalhar, 53,7% concordam que o trabalho é um ?mal necessário, já que é melhor trabalhar do que ficar sem fazer nada?.

Conseqüências

Segundo o especialista em neuropsicologia Jorge Luiz Brand, a criança ou adolescente que trabalha pode se tornar um adulto com problemas emocionais. ?Ele tem um nível de estresse emocional elevado, complexo de inferioridade, pois os outros estudaram e ele não. Muitas vezes ele se angustia à procura de culpados para sua situação?, afirmou. De acordo com o psicólogo, a inserção da criança no mercado de trabalho a tira do convívio social e acontece uma inserção artificial na vida adulta. ?Mas essa independência financeira não vem acompanhada de uma independência emocional. Ele ainda está em formação e precisa de limites e orientação que muitas vezes só a escola pode dar?, concluiu. 

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