Figuras importantes para o desenvolvimento dos filhos, os pais são homenageados no Dia dos Pais, celebrado neste domingo (11). Contudo, a data também serve para escancarar um grande problema no Brasil: a quantidade de crianças que não possuem o nome de um pai no registro e crescem sem a presença paterna.

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Conforme dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), em 2023, dos 2,5 milhões de nascidos no país, 172,2 mil foram registrados apenas com o nome da mãe. Isso representa uma quantidade 5% maior do que o registrado em 2022, de 162,8 mil.

São dados alarmantes e que despertam o questionamento sobre como a presença, bem como a ausência, podem impactar na saúde mental, no presente e no futuro dos filhos.

“Embora tenhamos dados sobre o número de crianças sem o nome dos pais na certidão de nascimento, a questão é mais complexa. Há muitos casos de crianças, jovens e adultos que, apesar de terem o nome do pai nos documentos, enfrentam o abandono paterno na prática”, explica a psicanalista e CEO do Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas (Ipefem), Ana Tomazelli.

Pais ainda são poupados dos cuidados com os filhos

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O conceito de paternidade ativa adquiriu uma nova dimensão nos últimos anos, passando a ser abordado pelo Programa Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), do Ministério da Saúde. A ação inclui iniciativas que incentivam a participação dos pais durante o parto e nos cuidados iniciais com o recém-nascido, promovendo o fortalecimento do vínculo desde o início.

A sociedade ainda tem o entendimento de que a função de cuidadora é exclusiva da mulher e que a responsabilidade do homem nesse aspecto é menor ou até inexistente.

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O estudo “Atitudes globais em relação à igualdade de gênero”, mostra que um quarto da população brasileira acredita que homens que ficam em casa para cuidar dos filhos são “menos homens”.

Mais de 50% dos pais não usaram licença-paternidade

O relatório “Situação da Paternidade no Brasil” destaca que 82% dos pais brasileiros afirmam que fariam tudo o que fosse necessário para se envolver profundamente no cuidado do filho recém-nascido ou adotado durante as primeiras semanas. No entanto, 68% deles não utilizaram sequer a licença-paternidade de cinco dias prevista por lei após o nascimento ou adoção dos filhos.

“Em nossa sociedade, a ausência paterna é muitas vezes naturalizada. Quando os homens assumem o papel de cuidadores, muitos enfrentam conflitos emocionais, acreditando estar exercendo uma função que não lhes pertence, o que impacta negativamente na criação dos filhos. Uma paternidade saudável é crucial para o desenvolvimento de uma criança, e os pais precisam entender que criar um filho é uma responsabilidade compartilhada igualmente. A presença paterna é essencial, assim como o diálogo e a comunicação assertiva com os filhos. Como diz o provérbio africano, “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. A boa experiência de uma criança na sociedade começa dentro do núcleo familiar”, destaca a psicanalista.

Benefícios da presença do pai na vida do filho

“Falando de presença, positiva, respeitosa, acolhedora, são muitos os benefícios para pais e filhos, como o fortalecimento dos vínculos afetivos e emocionais com os filhos, além de trazer mais significado para a vida do pai. Diversos estudos mostram que a presença paterna influencia diretamente no desenvolvimento cognitivo e social da criança. Além disso, influencia também na saúde mental da mãe. A presença do pai tem benefícios sistêmicos”, explica Ana.

Há também a questão da paternidade atípica. Ou seja, a presença do pai na vida de crianças que apresentam alguma alteração no funcionamento cognitivo, neurológico ou comportamental. O estudo “Retratos do Autismo”, realizado pela Genial Care e Tismoo.me, mostra que a maioria das pessoas cuidadoras são as mães, e existe ainda um estigma muito grande sobre as mulheres no momento do diagnóstico do autismo.

O estudo também detectou que, das mais de 2 mil entrevistados, 36% afirmaram que se sentiam culpados pela condição da criança. Dessas, 89% eram mulheres e 11% homens. Um outro estudo da Genial Care, “Cuidando de quem cuida”, mostra que 86% das pessoas cuidadoras de crianças autistas são mães.

“Em muitas casas, a presença dos pais toma um lugar como coadjuvante nos cuidados das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), e precisamos, juntos, mudar esse cenário. Muitas pessoas perderam seus empregos no Brasil durante a pandemia e um dos grupos mais afetados foi o de mulheres mães. Enquanto principais responsáveis pela educação e cuidado dos filhos, para muitas delas o “trabalho de criar” foi ressaltado pela pandemia e passou a ser realizado em tempo integral – ocupando o lugar antes dividido por um trabalho formal. Para aquelas que mantiveram seus empregos, a jornada continuou dupla: isso significa que, para todas, há sobrecarga e falta de tempo para descanso”, explica a supervisora de Terapia Ocupacional da Genial Care, Alessandra Peres.

A presença do pai é muito importante para o desenvolvimento e bem-estar de crianças com autismo, e seu papel pode ter um impacto profundo em várias áreas. “São diversos os benefícios. Pais envolvidos e que participam ativamente de diversas atividades de vida diária ajudam as crianças a desenvolver diversas habilidades. Ao longo do desenvolvimento, a criança precisa de diversos tipos de assistência e de estímulo que podem ser divididos entre o papel materno e paterno. Por exemplo, logo no início da vida, a mãe é a fonte de nutrição e alimento para a criança. Porém, à medida que a criança se desenvolve e começa a controlar o movimento do corpo, a presença do pai é um grande reforçador para tarefas que envolvem atividades sensório-motores”, explica Alessandra.

Ausência paterna é fruto de raízes sociais

Ana Tomazelli destaca que a ausência paterna tem raízes sociais e históricas no Brasil. “Eu tenho a teoria de que esse é um país que ‘nasce sem pai’, do ponto de vista ocidental. Países colonizados em geral, sobretudo de colonização de exploração, como o Brasil, são países fundados na violência contra os corpos femininos negros e indígenas, nos filhos que nasciam sem pai conhecido. Há uma linha histórica que explica essa questão”.

A psicanalista destaca que, muitas vezes, os pais atuais também vivenciaram a ausência de competência parental com seus próprios pais, experimentando falta de afeto, ausência de diálogo e até mesmo violência. “Embora isso não justifique nem excuse comportamentos inadequados, parece que a paternidade tem sido transmitida através das gerações de maneira similar”.

A especialista completa que essa é uma postura que deve ser proposta pelas gerações atuais, que ainda podem transformar este cenário. “O que quero enfatizar é que é necessário que uma geração tome a decisão de romper com esse ciclo. Cada vez mais, é fundamental incentivar a reflexão não apenas dos pais recém-chegados, mas também daqueles que já são pais, incluindo os pais mais idosos, para que reconsiderem o contexto atual e adotem novas formas de paternidade”, conclui.

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