Doze internos da Prisão Provisória de Curitiba (Ahu) puderam ontem resolver situações familiares cujo impasse durava até anos. A juíza Joeci Camargo, da 4.ª Vara de Família de Curitiba, esteve na unidade para conceder, em audiências públicas, sete reconhecimentos de paternidade, quatro divórcios e uma autorização judicial para visita.
A ação faz parte do programa conduzido pela juíza junto ao presídio desde 2003. Essa já é a quinta vez que ela atende no local. Em média, a cada três meses, 12 presos são atendidos. No entanto, hoje a unidade abriga 903 presos e 30% desse total, segundo a assistência social, ainda aguardam esse tipo de atendimento. ?É mais lento porque, em primeiro lugar, o preso deve relatar o seu problema para a unidade. Esta encaminha para a universidade (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) que entra em contato com a família. Feita a legalização, havendo acordo e juntando todos os documentos necessários, agenda-se uma data?, explica a juíza.
O caminho inverso também pode ocorrer. A família procura a universidade, que entra em contato com a administração da prisão. ?O preso precisa do divórcio para, já não estando mais com a esposa, poder receber a visita da outra companheira. Por outro lado, a mulher que está fora, sozinha já há algum tempo, recebe de volta a dignidade e a liberdade, pois já não agüenta mais o que implica o marido estar preso?, afirma Joeci.
Segundo o assistente social Félis Russi, quando a pessoa entra na unidade, toda a situação familiar do preso já é identificada. Aparecendo os problemas, principalmente quando não podem receber a visita dos filhos por não haver o reconhecimento, o preso fica bastante incomodado. ?Se o filho não estiver regularizado, não pode visitar. Isso de certa forma incomoda. Eles ficam muito preocupados. Quando eles têm essa situação resolvida, a gente nota que existe uma melhora no comportamento?, afirma Russi.
A juíza acredita que os benefícios dessa ação são bastante significativos. ?É dever preservar a família e aos poucos estamos conseguindo?, afirma a juíza.
Família
A.R.O, de 32 anos, levou o filho D., de quatro anos, para receber o sobrenome do pai V.M. Desde quando entrou no Ahu, há seis meses, o detento não vê a criança. Condenado por roubo e aguardando a condenação por receptação, ele não escondia a satisfação de registrar o filho e poder receber a visita durante os mais de seis anos que deve cumprir. ?Vai fazer a felicidade do meu filho, carregar o nome do pai?, conta a mãe que, sem a presença do marido e sem emprego, cria os dois filhos com o dinheiro do Bolsa Família.
