Desperdício de alimento é uma realidade

A concentração de renda e a falta de acesso ao emprego são dois fatores que contribuem para a miserabilidade humana. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), dos mais de seis bilhões de habitantes do mundo, perto de 2,8 bilhões vivem em situação de pobreza, dos quais 840 milhões passam fome. No Brasil, o contingente de famintos chega a 50 milhões, dos quais 40% têm até quinze anos. O melhor controle do desperdício de alimentos pode ser uma alternativa para diminuir esse problema. Mas ainda é preciso caminhar muito.

Na Central de Abastecimento (Ceasa) de Curitiba é visível o descarte de produtos que poderiam ser aproveitados. Apesar dos esforços da direção da central, que conseguiu reduzir de 30% (média nacional nos ceasas brasileiros) para 5% o desperdício, falta sensibilidade de quem opera no local. O diretor presidente do Ceasa, José Lupion Neto, também aposta nessa mudança, mas garante que com parcerias estão conseguindo bons resultados.

As cinco unidades do Ceasa – Curitiba, Maringá, Londrina, Cascavel e Foz do Iguaçu -movimentaram no ano passado mais de um milhão de toneladas de produtos hortifrutigranjeiros, tendo uma média mensal de 89 mil toneladas comercializadas. Através de parcerias com produtores, atacadistas, prefeituras e órgãos estaduais, a Ceasa realiza o aproveitamento dos excedentes da comercialização. Uma das iniciativas, criada em 1991, é o projeto Cooperação Nutricional (Coopnutri), com o aproveitamento de produtos excedentes e fora do padrão comercial, mas que ainda podem ser consumidos. Depois de uma classificação, as frutas, verduras e legumes são repassados para seiscentas entidades sociais. Segundo Lupion, esse projeto beneficia perto de 87 mil pessoas por mês.

O processamento de hortaliças e leguminosas excedentes da comercialização das centrais atacadistas é feito no projeto da Supersopa, em funcionamento desde 1996. O produto final gera 4,1 quilos de sopas, sucos compotas e doces, destinados à crianças carentes de zero a seis anos. O projeto conta com a estrutura industrial para fabricação, esterilização e enlatamento dos produtos, que, no caso das sopas, eqüivalem em calorias a 30% da necessidade diária de uma criança de até seis anos de idade. Uma vantagem desse programa, aponta o diretor da Ceasa, é que o produto pode ser consumido em um ano, o que aumenta a possibilidade de atendimento.

Agroindústria

Para a mestre em Engenharia de Alimentos e professora da disciplina na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Silvia Deboni Dutscosky, uma das alternativas para reduzir o desperdício está na criação de agroindústrias. “Um produtor de maçã, por exemplo, acaba descartando o produto que não tem padrão comercial. Mas essa maçã desclassificada poderia ser vendida em forma de doces ou sucos, gerando valor agregado para o produtor”, avaliou. Segundo ela, o Brasil peca no aproveitamento dos produtos por falta de incentivo ou desinteresse dos governantes. Silva comenta que da mandioca e do milho, através de processamento industrial, é possível extrair xarope de glicose, “que é um produto que acaba sendo importado para abastecer o mercado interno.”

A engenharia de alimentos, ressalta a professora, tem contribuído para diminuir o desperdício. Com o emprego de novas tecnologias já é possível comprar frutas e verduras que duram mais tempo. Isso é obtido, por exemplo, com o emprego durante o cultivo de atmosfera modificada, onde o oxigênio é substituído por gases inertes, ou produtos super congelados, que passam por exposição ao nitrogênio sem alterar a textura do alimento. “Essas são tecnologias viáveis que podem ser barateadas ao consumidor. Basta para isso, maior interesse e incentivos”, finalizou.

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