Pelo menos duas pessoas ficaram feridas – um guarda municipal e um sem-teto – e outras duas foram detidas durante confronto entre um grupo de cerca de cem integrantes do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e 20 agentes da Guarda Municipal de Curitiba por volta das 9 h da manhã de ontem. Os guardas fizeram a reintegração de posse de uma área da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), no Ganchinho, próximo ao Contorno Sul, que havia sido invadida durante a madrugada de domingo pelos sem-teto.
Segundo um dos sem-teto detidos, o desempregado Joel Alves da Silva, os guardas chegaram xingando e quebrando tudo. “Tinha uns estúpidos que vieram para cima. Eu estava com um pedaço de pau na mão. Apanhar de graça, ninguém quer apanhar”, disse. Além dele, o guardador de carros Marcos Roberto Rodrigues também foi levado ao 10.º Distrito Policial, para ser indiciado por desacato à autoridade, agressão e invasão de propriedade.
O grupo de invasores é o mesmo que, até algumas semanas atrás, ocupava o prédio do antigo Banestado, no centro da cidade.
Alguns dos invasores acusavam os policiais de terem agido com violência durante a reintegração, utilizando inclusive armas de fogo. Segundo a Guarda Municipal, o agente José Luís Dalavila foi ferido na cabeça e levado ao Hospital do Trabalhador. Dois sem-teto foram levados ao 10.º Distrito Policial (DP) por agredi-lo. O líder do grupo, Anselmo Schwertner, após detido, também precisou ser levado ao Hospital do Trabalhador com ferimentos leves.
Após deixarem a área particular, as famílias permaneceram às margens do Contorno Leste. A suspeita era de que elas estivessem planejando ocupar uma área do Condomínio Monteiro Lobato, pertencente à Cohab e que está destinada à ocupação regular de cerca de quinhentas famílias da Vila Audi/União.
Desrespeito
Questionado sobre o uso da violência contra os sem-teto, o secretário municipal de Defesa Social de Curitiba, Sanderson Diotalevi disse que, há algumas semanas, os integrantes do movimento teriam afirmado que iriam ocupar áreas públicas da capital paranaense “a qualquer custo ou a qualquer sangue”. “Houve um desrespeito ao patrimônio público municipal e nossa obrigação era defendê-lo, assim com as 500 famílias que esperam para, de maneira lícita, ocupar a área da Cohab que estava para ser invadida”, afirmou.
De acordo com o comandante da 4.ª Companhia do 13.º Batalhão da PM, Sérgio Cordeiro de Souza, que estava na área da Cohab ontem de manhã, a Guarda Municipal e a PM farão rondas constantes no local para evitar que haja nova ocupação. “As viaturas só irão embora depois que as famílias se retirarem da região”, disse.
Durante a tarde, O secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, determinou a instauração de um inquérito policial e uma rigorosa investigação sobre a conduta da Guarda Municipal de Curitiba durante a desocupação. (Colaborou Lawrence Manoel)