Walter Alves |
Nem o frio afastou o público para acompanhar o desfile. continua após a publicidade |
Apesar do tempo fechado e do frio, as ruas do Centro Cívico foram tomadas por cerca de 20 mil pessoas ontem, durante o desfile cívico de 7 de Setembro, em Curitiba. Além de oficiais do exército e de policiais militares, alunos de 24 escolas estaduais e de 11 municipais, mais seis entidades representaram a sociedade civil durante a comemoração. A grande atração foram os carros do exército e os aviões da aeronáutica que sobrevoaram a área.
Logo cedo, as ruas laterais da Avenida Cândido de Abreu foram tomadas por milhares de populares. Entre eles muitas crianças e idosos. Segundo os cálculos da Polícia Militar, pelo menos 20 mil pessoas estavam no local participando da comemoração.
O desfile começou às 9h, com os alunos de escolas municipais e estaduais. Depois foi a vez das entidades civis, entre elas a Legião Brasileira da Boa Vontade (LBV) e os trabalhadores-atletas que estão em Curitiba para o Mundial de Atletismo do Trabalhador, representando países como França, Áustria e Angola.
O evento também contou com a participação de um clube de motoqueiros chamando, principalmente, a atenção da criançada. Gabriel Augusto Domingues, 9 anos, foi uma delas. ?Foi o que eu mais gostei. São modelos bem diferentes?, disse, empolgado. O garoto explica que foi com o pai ver o desfile porque sentiram vontade de ver a festa de perto. ?É a Independência do Brasil?, justifica. Além dos motoqueiros também desfilaram donos de carros antigos, causando um ar de saudosismo nos mais velhos. Segundo cálculos dos organizadores do evento, cerca de 10 mil civis desfilaram ontem.
Depois foi a vez dos militares. Cerca de 1.200 homens da Polícia Militar e mais dois mil do exército prenderam a atenção dos espectadores. Muitos eram familiares de alunos dos colégios militares. Caroline Ferreira, 9 anos, esperava ansiosa para ver a irmã passar, mas a vontade dela era de estar na avenida. O que mais impressionou a garota foram os carros do exército. ?Eles são muito grandes?, disse. Além dos tanques, os aviões da aeronáutica sobrevoaram o local agradando ao público.
Civismo
Quando a reportagem perguntou para Regiane Wunerlich, 32 anos, por que estava assistindo ao desfile, ela respondeu prontamente: civismo. Para ela, hoje em dia as pessoas não têm mais o sentimento de amor à pátria, ao país onde nasceram. ?Nem as escolas lembram mais a data?, reclama. Ela afirma que fez questão de levar os três filhos para participar da festa para despertar o sentimento.
Jandir Nogueira, 34 anos, mora em Pinhais, mas fez questão de vir a Curitiba assistir ao desfile. Ele também concorda com Regiane. ?É um momento onde podemos exercitar o civismo, que anda meio de lado. Nem os símbolos nacionais, como o Brasão de Armas, as pessoas conhecem direito?, fala. Para ele, a classe política também colabora para esse descrédito.
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebia vaias de grupos que protestavam contra corrupção em Brasília, em Curitiba algumas pessoas resolveram fazer um protesto silencioso. Os familiares de oficiais do exército cobravam reajuste salarial com faixas e cartazes. Outro transeunte desfilava sozinho no meio do povo, com uma montagem de casinhas de papelão sobre a cabeça cobrando mais moradias.
Governo
O governador Roberto Requião disse que os brasileiros saíram as ruas para comemorar a ?independência de um país pesadamente dependente? e ?decepcionado? com os últimos acontecimentos. Segundo ele, no último processo eleitoral, as esperanças do povo brasileiro se reacenderam com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ?Mas, infelizmente, o que vivemos hoje é uma grande decepção?.
Protesto de militares e estudantes
Militares e estudantes fizeram protestos ontem, durante o desfile cívico na Rua Cândido de Abreu, em Curitiba. As manifestações mais ácidas foram de um grupo com aproximadamente 30 jovens vestidos de preto e com os rostos cobertos por máscaras ou lenços, que se intitulavam Regional Ativista de Curitiba. ?Não falamos nada sobre nosso grupo?, alegou um dos manifestantes.
Eles carregavam cartazes com ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Revistem a cueca de Lula, O Lula sabia, CPI da Pizza, eram alguns deles, entre outros gritos.
Em frente ao palanque das autoridades foram colocados vários cartazes de militares pedindo reajuste salarial. Lulla passará como passaram Collor e FHC. Mas as Forças Armadas não passarão, dizia um deles. Regionalmente, foi um protesto solitário. Também em frente ao palanque um jovem segurava um cartaz dizendo: Requião, onde posso trafegar sem pagar pedágio?
No Noroeste
Em Maringá, no Noroeste do Estado, não houve o tradicional desfile de 7 de Setembro este ano. A Prefeitura anunciou o cancelamento do desfile no fim de semana, com receio de que poderiam haver manifestações contra a corrupção no governo federal.
A decisão desagradou grande parte da população, já que se trata de um evento tradicional. No ano passado, cerca de 5 mil pessoas assistiram ao desfile em Maringá.