Parta para outra!

Desemprego pode ser a porta de entrada para uma nova carreira

A crise econômica levou as taxas de desemprego a patamares recordes e reduziu as oportunidades de recolocação profissional, deixando muita gente sem rumo. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), nos últimos doze meses a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) fechou 48.478 empregos com carteira assinada. O tempo médio para voltar ao mercado formal brasileiro é de oito meses, 36 dias a mais do que em 2014, estima o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

O pedreiro César Pietro Bon, 43 anos, está desempregado há seis meses. A situação em casa não ficou tão feia porque a esposa trabalha e ele estava recebendo o seguro-desemprego. “A última parcela foi neste mês. Aproveitei esse tempo para fazer um curso de porteiro e ver se consigo um trabalho menos cansativo”, conta. Em frente à Agência do Trabalhador de Curitiba, César aguardava atendimento para se cadastrar e concorrer a uma vaga.

Segundo o gerente da Agência, Rafael dos Santos, o posto opera com capacidade máxima, de 1.200 atendimentos por dia, dos quais cerca de 850 são de pessoas procurando trabalho. “É um número muito alto, expressivo. Estamos fazendo forças-tarefa nas segundas e terças-feiras, que têm muito movimento. Se tivéssemos um quadro de funcionários maior, talvez fizéssemos mais atendimentos”.

A ex-operadora de caixa Melissa do Couto, 21, busca um emprego há três meses. “Está difícil, porque para cargo de vendedor eles pedem experiência”, lamenta. Desempregado há cinco meses, o pedreiro Lindonor dos Santos, 54, está se virando com bicos e não vê possibilidade de mudar de área. “Nasci e me criei em obra. Não tenho estudo, minha profissão é pedreiro, mesmo”.

Para ajudar pessoas na mesma situação de César, Melissa e Lindonor, a Tribuna conversou com especialistas sobre o que um desempregado deve fazer para agilizar a volta ao mercado de trabalho (veja o quadro abaixo).

Nada de se desesperar!

Na avaliação da coordenadora de recrutamento e seleção da empresa de gestão de pessoas e serviços Nossa RH, Eliane Catalano, não é tempo de desespero. “A crise é desigual. Existem setores com mais perspectiva, outros com menos. O importante é estar preparado”, diz. Para isso, o profissional deve oferecer diferencial técnico e comportamental. “Esse algo a mais pode ser uma formação acadêmica, um curso técnico, alguma qualificação, ou mesmo ter agilidade, saber trabalhar em grupo e ter capacidade para resolver problemas”, explica.

A Nossa RH teve uma queda de 30% nas vagas oferecidas em relação ao mesmo período do ano passado. Num momento em que as empresas estão reduzindo seus quadros, ser multitarefas e ter visão analítica é a chave para se destacar, indica Eliane.

Quem busca emprego deve procurar ser desejável pelos patrões, afirma o headhunter e consultor Bernt Entschev. Para ser atraente, o profissional deve cuidar da educação formal e informal. “Quanto mais você conhecer, mais útil você vai ser”, diz.

Assim que se vê desempregado, o indivíduo não deve sair de férias, segundo Entschev. “Trabalhe para si mesmo. Divida seu dia em duas jornadas. Na primeira metade, busque um novo emprego. Na segunda, cuide do seu networking, fazendo contatos, e da sua educação, estudando, se qualificando”.

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Maioria das 1.100 vagas da Agência do Trabalhador está concentrada em serviços e comércio.

Sete em cada dez acham serviço

Atualmente, há cerca de 1.100 vagas sendo oferecidas por meio da Agência do Trabalhador, concentradas nas áreas de serviços e comércio. “É uma oferta razoável, ligeiramente menor que a do ano passado. Temos oportunidades, mas a realidade está complicada. Porém, estamos conseguindo dar uma resposta para a população. De 65% a 70% das pessoas que nos procuraram em janeiro saíram daqui com uma carta de encaminhamento, com uma possibilidade de colocação”, apresenta o gerente Rafael dos Santos.

Na área de serviços, há vagas para operador de telemarketing, auxiliar de cozinha e atendente de balcão. No setor do comércio, há oportunidades para vendedor. A média salarial é a do mínimo regional, de R$ 1.070. Por enquanto, não há previsão de mutirões de emprego nem capacitações gratuitas, porque, segundo o gerente, todo o pessoal da Agência está focado nos atendimentos à população neste primeiro trimestre do ano, tradicionalmente movimentado.