Foto: Ciciro Back/O Estado

Celso Lisboa de Lacerda, superintendente do Incra.

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Quatro dirigentes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – entre eles o superintendente da autarquia no Paraná, Celso Lisboa de Lacerda, o presidente do instituto, Rolf Hackbart, e o representante da empresa Rio das Cobras Florestal – têm 15 dias para apresentar defesa ao Tribunal de Contas da União (TCU) ou devolver R$ 61,5 milhões correspondentes à desapropriação da Fazenda Araupel, em Quedas do Iguaçu, no sudoeste do Paraná.

Segundo os analistas do TCU, os 25 mil hectares da Fazenda Araupel foram superavaliados em 455% e desapropriados às pressas, ao final de 2004, para conter as pressões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que havia invadido a área. O TCU analisou uma representação do deputado federal Luiz Carlos Hauly. Segundo o documento do ministro-relator, Ubiratan Aguiar, há indícios de várias irregularidades. Entre elas, o fato de o Incra ter escolhido o mais alto dos sete valores de indenização apresentados.

A desapropriação da propriedade da madeireira foi oficializada em 2003, mas enfrentou um longo processo de contestações administrativas e judiciais. A área foi transformada em assentamento para 963 famílias depois de ser adquirida pelo governo federal por R$ 75 milhões, mas apenas como indenização pelas benfeitorias, já que a Justiça Federal havia julgado como nulo o título de posse da área. Antes da aquisição, foi elaborado um laudo por uma empresa de consultoria contratada pelos proprietários, que apontava um valor bem menor para as benfeitorias: R$ 11,8 milhões (ou R$ 13,5 milhões com a atualização monetária que serviu de base para o cálculo do ressarcimento cobrado pelo TCU).

Depois, os técnicos do Incra/PR produziram um laudo, estimando as benfeitorias em R$ 44 milhões, mas esse estudo também foi desconsiderado pela cúpula do órgão, alegando que não teria fundamentação técnica e legal. A autarquia indicou a Fundação Florestal do Paraná (Fupef), conveniada à Universidade Federal do Paraná, para dar um laudo final. Mas segundo o relatório do TCU, o estudo apresentava quatro alternativas de valor, e o Incra escolheu justamente o maior deles (R$ 75 milhões).

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Entre outras irregularidades, o TCU aponta ainda que houve redução do número de famílias a serem assentadas na Fazenda Araupel, que inicialmente era de 1.580 famílias, quando só foram assentadas 973 famílias. Além disso, os auditores entenderam que a Fazenda Araupel não tem condições para abrigar assentamentos, já que 60% da área contém cobertura florestal caracterizada como sendo de proteção ambiental.

O superintendente do Incra no Paraná diz que o instituto vai apresentar defesa e esclarecer todos os pontos questionados pelo TCU. ?Tenho total certeza de que o valor pago estava dentro do que rege a lei de reforma agrária?. Para Lacerda, a discussão e até mesmo o relatório do TCU sobre a criação do assentamento na Fazenda da Araupel teriam motivos políticos. ?É uma área de grande conflito social. Se não tivéssemos agido, aquilo hoje estaria um caos?, afirma Lacerda.

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De acordo com o superintendente, prova da idoneidade da ação é que o valor da indenização foi proposto pela Fupef, que teria total isenção por não se tratar de entidade privada. ?Além disso os R$ 75 milhões das benfeitorias da fazenda foram pagos em juízo para evitar questionamentos. Foi a Justiça Federal quem liberou o recurso para a Araupel?. O pagamento do valor da terra nua – sem benfeitorias -ainda está sendo discutido na Justiça. O Incra alega que ele não deve ser pago porque a titularidade das terras seria nula.