Depressão é uma doença que também atinge crianças

Sequência de atitudes que anteriormente não eram comuns, irritabilidade, agressividade constante, insônia, perda de apetite, muito cansaço, aparecimento de medos, apatia ou hiperatividade podem significar o surgimento da depressão. Estes sintomas também podem ser encontrados em crianças. A depressão infantil preocupa, precisa ser tratada e exige a participação de toda a família durante o processo de recuperação.

Um dos principais fatores que podem desencadear o aparecimento da doença é a separação dos pais, especialmente até os 5 anos de idade, quando a criança ainda não tem estrutura para entender o que está acontecendo. “A criança não consegue lidar com a perda de um dos pais. Não entende que eles antes viviam juntos e agora só brigam, pais que se odeiam mas amam o filho. A mesma pessoa que diz ‘eu te amo’ vai embora. Isto não é processado pela criança”, comenta o psicólogo Caio Feijó, que disponibiliza em seu site (www.caiofeijo.com.br) vários artigos sobre o tema.

De acordo com a psicóloga Karin Bruckheimer, a criança pequena não tem um vocabulário rico e passa por dificuldades ao se expressar. “A criança tem um choro constante e os pais acham que ela é chata ou “difícil’. A depressão pode ser uma questão familiar de mudanças. Às vezes, os pais não preparam a criança para se acostumar com esta situação”, explica.

Feijó ressalta que alguns casos de depressão podem ser causados pelos próprios pais, que falharam em não preparar os filhos, como no nascimento dos irmãos. “Se a família não for orientada, pode ser uma causa inconsciente”, declara.

Karin lembra que um conflito intenso entre os pais pode influenciar a criança, que também não deve carregar a responsabilidade sobre outros problemas da casa, como o não pagamento de contas. “Os problemas de adultos não devem ser tratados na frente das crianças. É inadequado. Os pais são os responsáveis por resolver a situação. As crianças também ficam preocupadas e isto gera estresse”, conta.

Bullying

A separação dos pais e outros problemas familiares podem afetar crianças de qualquer idade, mas já na segunda infância, entre 6 e 12 anos, uma das principais causas para depressão entre crianças é o bullying. As provocações de colegas nas escolas ou em outro ambiente coletivo podem prejudicar a criança. “O bullying sempre existiu. Mas as crianças no passado tinham uma formação mais solta, se arriscavam e aprendiam a lidar com a frustração mais cedo. Hoje, as crianças são superprotegidas e encontram na escola as ‘crianças cruéis’ que atacam por qualquer característica fora do padrão. Se não aprendeu a lidar com a frustração em casa, vai demorar a aprender na escola”, esclarece Feijó.

Casos não tratados podem refletir na adolescência e fase adulta

A depressão é uma doença que deve ser tratada e que requer o envolvimento de toda a família. Os pais que notarem sintomas que indicam depressão devem procurar um terapeuta especializado. As consequências de um não tratamento variam e podem ser sentidas na adolescência e na fase adulta. Entre as elas estão a baixa autoestima, pessimismo, sentimento de culpa, mau rendimento escolar e até o uso de drogas ou suicídio. “Na adolescência, este quadro pode se agravar e até chegar no suicídio. Pode se transformar em um transtorno de comportamento que precisa muitas vezes da intervenção de um psiquiatra e tratamento com medicamentos”, indica a psicóloga Karin Bruckheimer.

De acordo com ela, os pais devem acompanhar o desenvolvimento físico e emocional de seus filhos da melhor maneira, ouvindo, conversando, observando e investindo em momentos com qualidade. “Nada de ficar junto e ter outras coisas para fazer ao mesmo tempo, como trabalhar ou ver televisão. Mesmo que não seja muito tempo, tem que ser de qualidade. Não podem aparecer desculpas da falta de tempo. O tempo a gente faz”, assegura.

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