Delazari critica violência da Polícia Militar em desocupação

O secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, anunciou ontem o nome do novo comandante do Policiamento da Capital. Quem assume o posto no lugar do coronel Carlos Alexandre Scheremeta é o coronel Jorge Costa, que estava na diretoria de apoio logístico da PM.

Em breve, Costa deve nomear o substituto do ex-comandante do 13.º Batalhão da Polícia Militar (PM), Flavio Correia. Scheremeta e Correia foram afastados dos cargos anteontem, depois de uma ação que Delazari julgou como precipitada na reintegração de posse de um terreno invadido por famílias sem teto no bairro Campo Comprido, em Curitiba.

A desocupação do terreno, determinada pela Justiça em 15 de setembro, resultou em três pessoas feridas (uma integrante da invasão, um garoto de oito anos de idade e um cinegrafista da produtora Quem TV) e três presos. Ontem, Delazari comentou a ação da polícia.

“A conduta da polícia foi inadmissível e injustificável. Nos seis anos em que estou como secretário de segurança já foram realizadas 230 reintegrações de posse e nenhuma delas foi tão violenta como a última. O afastamento foi realizado para que possamos apurar com maior tranqüilidade e clareza a gravidade de tudo que aconteceu”, declarou.

Segundo Delazari, a polícia deveria ter realizado um longo processo de negociação com os moradores do terreno, mesmo que durasse dias. “O confronto aconteceu porque um grupo de integrantes da invasão, cerca de cem pessoas, resolveu resistir e criou uma barreira com pedaços de pau, pneus queimados e pessoas deitadas no chão. Entretanto, a polícia não deveria ter feito a desobstrução da barreira com a utilização de armas não-letais.”

O secretário também se disse chocado com o fato de o cinegrafista da produtora Quem TV, Anderson Leandro da Silva, ter sido ferido com uma bala de borracha no rosto.

“O cinegrafista não estava no meio da barreira policial, mas no alto de um morro. Um policial simplesmente se virou para a direita e atirou nele. Eu mesmo convidei a imprensa para acompanhar a reintegração e o que ocorreu foi inadmissível”, disse. “O policial responsável pelo tiro será identificado e demitido.”

A presença de pessoas com intenções político-eleitoreiras em meio aos integrantes da invasão e de negociadores de lotes dentro da área invadida foi citada por Delazari, que também justificou o número de policiais (cerca de mil) enviados para participar da reintegração. “O número de policiais é a garantia da não necessidade de se utilizar a força.”

O terreno no Campo Comprido, pertencente à Varuna Empreendimentos Imobiliários, foi invadido por cerca de 1.500 famílias, em 6 de setembro. Elas deveriam ter saído de forma pacífica até o dia 23 do mesmo mês.

Parte dos sem teto ainda permanece no local

Elizangela Wroniski

Aliocha Maurício
Cerca de 400 famílias que estavam na área desocupada não têm para onde ir e tentam negociação com a prefeitura.

Segundo o Movimento Nacional da União Por Moradia Popular, cerca de 400 famílias que estavam na área desocupada pela Polícia Militar na última quinta-feira, no Campo Comprido, não têm para onde ir.

Parte delas passou a noite abrigada na casa de amigos e no salão paroquial de uma igreja da região. Outra parte passou a noite na rua para cuidar dos pertences que foram retirados do terreno.

Ontem, um grupo esteve na prefeitura tentando negociar a aquisição de lotes, mas a resposta foi negativa. Foram informados que precisam respeitar a fi,la de atendimento, que tem hoje cerca de 56 mil famílias cadastradas.

A coordenadora do movimento, Maria das Graças Silva de Souza, evoca o direito constitucional à moradia quando cobra providências da prefeitura. Diz que as famílias pagavam aluguel e entregaram as casas porque não tinham mais como arcar com os custos.

“Para onde vamos levar estas famílias?”, questiona. “Parte deve passar mais uma noite no local.” Um grupo representando os desabrigados foi recebido pelo secretário municipal de Governo, Rui Hara, e pelo presidente da Companhia de
Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Mounir Chaowiche.

Ambos disseram que as famílias teriam que entrar na fila e esperar pelo atendimento. “Temos um compromisso com as famílias que já estão inscritas no cadastro e ordeiramente aguardam atendimento. Não seria justo deixar de lado esta clientela”, disse Chaowiche. Mas, segundo Maria da Graça, muita gente não consegue se inscrever na fila da Cohab porque não atinge a renda mínima necessária.

No entanto, a assessoria de imprensa do órgão afirmou que não existe limite de renda e que para cada tipo de situação existe um atendimento diferenciado. Ainda segundo a prefeitura, no momento todos os recursos da área estão direcionados para os projetos em execução, que atendem 39 vilas e cerca de 9 mil famílias. A Fundação de Ação Social também encaminhou 30 famílias para abrigos.

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