Conquistar uma vaga no mercado de trabalho é uma tarefa árdua, principalmente para pessoas portadoras de deficiências físicas. Muitas vezes, elas acabam não sendo escolhidas para ocupar determinados cargos por puro preconceito. Outras, por não terem tido grandes oportunidades de estudar e se qualificar profissionalmente.
Atualmente, cerca de 25 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência. Eles são beneficiados por uma lei que obriga empresas privadas com mais de cem funcionários a lhes garantirem entre 2% e 5% das vagas de trabalho existentes. Porém, a norma geralmente não é cumprida de forma efetiva e acaba não contribuindo com a melhoraria da situação.
?Me considero uma pessoa capaz de muitas coisas. Porém, os outros não me enxergam assim. Nas entrevistas de emprego, sempre escuto que existem vagas, mas que elas não são adaptadas à minha deficiência. Quando chego, rapidamente as empresa dão um jeito de me descartar?, afirma o desempregado Ailton Troi, de 25 anos, que tem problemas visuais.
Tempos atrás, Ailton até conseguiu um emprego, mas não ficou mais do que quatro meses e meio no lugar devido ao preconceito dos patrões e dos próprios colegas de trabalho. ?Para me forçar a pedir a conta, eles me mandavam realizar tarefas que eu não podia devido à minha deficiência. Era muito complicado, pois a empresa só pensava em seus clientes e não dava a mínima às necessidades de seus funcionários?, revela.
Para a estudante Juliana Teixeira de Alcântara, de 18 anos, a situação foi ainda pior. Vítima de atrofia muscular, ela conseguiu seu primeiro emprego há alguns meses, mas foi demitida três dias após ter sido contratada. ?Fui escolhida para ocupar uma vaga de caixa que era destinada a pessoas portadoras de deficiências físicas. Porém, no terceiro dia de trabalho, já disseram que eu não tinha habilidade para exercer a função, não me dando a chance nem de cumprir o período de experiência. Sempre estudei muito, fazendo cursos de inglês e informática, mas mesmo assim fui vítima de muita discriminação.?
Alternativa
Na opinião da psicóloga Luciana Basso, que presta consultoria profissional, a maioria das empresas não sabe como lidar com pessoas portadoras de deficiências. ?Em grande maioria, as empresas estão totalmente despreparadas, pois não sabem em que funções encaixar os portadores de deficiência e não possuem estrutura física para recebê-los. Muitas vezes, agem com preconceito por não serem capazes de perceber que estão diante de profissionais capacitados e eficientes?, declara.
Para outras empresas, a contratação de pessoas com deficiências físicas acaba sendo complicada devido à desqualificação dos próprios candidatos às vagas. Diante do problema, a empresa do setor de saúde Clinihauer, para a qual Luciana trabalha, encontrou uma alternativa, passando a oferecer cursos de capacitação ao invés de simplesmente dispensar as pessoas e continuar a manter vagas ociosas. Há um ano e meio, são oferecidos treinamentos que permitem aos alunos ocupar funções como telefonistas, recepcionistas, auxiliares administrativos e digitadores.
?Até agora, quarenta pessoas já passaram pelos treinamentos. Deste total, 85% foram contratadas pela própria Clinihauer. No momento, outras vinte pessoas estão participando. Quando elas não são absorvidas pela própria empresa, têm seus currículos divulgados junto a outras empresas parceiras, principalmente do setor de saúde?, finaliza a psicóloga.