Neste ano, em todo o Paraná, já foram registrados 5.056 casos de dengue. Em 2001, o número foi bem menor: 1.288 casos. Ontem, todo o Estado esteve mobilizado para acabar com os focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Diversas escolas, cemitérios, empresas, igrejas e associações de classe se mobilizaram para participar da realização do Dia D de Combate à Dengue, promovido pelo Ministério da Saúde.
Em Curitiba, no Sesi do bairro Boqueirão e na Praça Rui Barbosa, por exemplo, foram montados estandes onde a população pôde obter informações e tirar dúvidas sobre a doença. No cemitério Parque São Pedro, no bairro Umbará, algumas ações foram intensificadas para combater as larvas do mosquito transmissor, como limpeza de vasos de flores utilizados nos túmulos e eliminação de água parada.
Segundo o secretário municipal da Saúde, Michele Caputo Neto, cerca de 2 mil pessoas, entre agentes de saúde e voluntários, percorreram os bairros da capital paranaense para distribuir panfletos e fazer uma verificação nas casas e quintais da população, identificando possíveis focos do mosquito da dengue. “O objetivo do dia D é fazer com que as pessoas se conscientizem e entendam a importância de contribuir para o combate ao Aedes aegypti, que se prolifera principalmente no verão”, afirma.
Michele explica que o ovo do mosquito é bastante resistente, podendo ficar mais de um ano conservado até encontrar boas condições de desenvolvimento. Por isso, ele diz que é preciso acabar com o mito de que as condições climáticas de Curitiba não permitem a proliferação do mosquito. “Só com a conscientização e o esforço de todos poderemos combater a dengue. O dia D é de divulgação do problema, mas as pessoas devem estar conscientes de que sempre precisam tomar medidas para evitar a proliferação do mosquito.”
Características
O Aedes aegypti surgiu em países do sudeste asiático, de onde se espalhou para outros continentes do mundo, como América Central, ilhas do Caribe e América do Sul. No Brasil, a primeira epidemia de dengue ocorreu em 1846, quando a doença tornou-se conhecida de médicos e agentes de saúde. Ela é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Não é possível transmissão por contato direto com um doente, através da água ou de alimentos.
O transmissor é escuro, rajado de branco, menor que um pernilongo comum e pica durante o dia. Coloca ovos em locais de água parada, como garrafas, pneus, pratos de vasos de plantas e xaxim, bacias, bebedouros de aves e animais, latas, tampinhas de garrafas, alguns tipos de sucata e copos descartáveis. “Como não há vacina contra a dengue, a única maneira de evitar a doença é não deixar o mosquito nascer. Para isso, é necessário acabar com os criadouros”, explica o secretario de Estado da Saúde, Luiz Carlos Sobania.
A pessoa picada apresenta os seguintes sintomas: dor de cabeça e nos olhos, febre alta, que muitas vezes passa de quarenta graus, dor nos músculos e nas juntas, manchas avermelhadas por todo o corpo, falta de apetite, fraqueza e, em alguns casos, sangramento de nariz e gengiva. O doente, além de tomar medicamentos para minimizar as dores e baixar a febre, precisa ficar em repouso e beber muito líquido. Remédios à base de ácido acetil-salicílico não devem ser usados, pois podem facilitar os sangramentos.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, quem já teve dengue deve tomar cuidados maiores, pois, em uma segunda contaminação, as chances de a doença evoluir para a forma hemorrágica, que pode levar à morte, são maiores. “É importante destacar ainda que uma pessoa pode ter tido dengue sem saber, já que em alguns casos os sintomas são fracos e passam despercebidos ou são confundidos com outra doença, como gripe.”
É preciso que todos colaborem
Rio
– O ministro da Saúde, Barjas Negri, fez um apelo para que as famílias colaborem no combate aos focos de proliferação do mosquito que transmite a dengue, não apenas no dia de mobilização nacional, mas durante todo o verão. Negri descartou a possibilidade de uma epidemia da doença e lembrou que a meta do ministério é reduzir pela metade os casos da doença no Brasil.Só no município do Rio de Janeiro, 63 pessoas morreram de dengue no verão passado. “Imaginamos que não teremos epidemia, mas sim casos isolados”, afirmou o ministro. O Programa Nacional de Controle à Dengue vai custar R$ 1 bilhão. “É preciso ter a participação das famílias nesse trabalho. Não conseguimos entrar em todas as residências ao mesmo tempo. A população precisa dar sua contribuição”, disse Negri. A governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), também descarta a hipótese de uma epidemia de dengue neste verão que, segundo ela, “não será igual ao que passou”. A governadora disse que está trabalhando em parceria com o governo federal e que o Estado contratou 1.004 agentes sanitários para participar da mobilização.
Negri iniciou o dia D de combate ao mosquito transmissor da dengue com visitas a duas casas no bairro da Urca, zona sul do Rio, o local onde os técnicos têm maior dificuldade de chegar às residências. O índice é de 50% de recusas dos moradores em abrir as portas ou de casas fechadas e abandonadas. A média do município é de 30% do que os técnicos chamam de “pendências”, ou seja, de cada dez domicílios, três não são vistoriados.
A primeira casa, de Helena Lavatori Rachel Corrêa, foi considerada um exemplo de cuidado pelos agentes sanitários que fizeram a inspeção. Com muita dificuldade, a associação de moradores conseguiu uma chave da segunda casa, fechada há alguns anos. Durante a inspeção foram encontrados dois focos do mosquito transmissor da dengue, em um copo de iogurte e em uma garrafa plástica. “O trabalho na casa da dona Helena pode ser jogado por terra por essa outra casa onde foram encontradas latas cheias e focos da dengue. Isso pode contaminar todo o bairro”, afirmou o ministro, ao lembrar que o melhor caminho para se conseguir acabar com a dengue é a mobilização das famílias, pois 90% dos focos são identificados em áreas residenciais.
A presidente da Associação de Moradores da Urca, Ana Luísa Brandão Rodrigues, lembrou que a segunda casa visitada estava fechada no verão passado e também tinha focos de dengue durante a epidemia. Para diminuir a resistência dos moradores da Urca ao trabalho dos agentes de saúde, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro e a associação de moradores colocaram no jornal do bairro fotos com identificação de todos os técnicos que trabalharam na região. O trabalho será feito em todos os bairros para convencer a população a receber os agentes.
