A paralisação dos professores e servidores da rede estadual de ensino vai se estender, no mínimo, até a metade da próxima semana. A APP-Sindicato, que representa os educadores estaduais, marcou para a próxima quarta-feira a realização de uma assembleia-geral que vai deliberar se a categoria põe fim à greve.
Ainda que a greve termine na próxima quarta, os educadores consideram impossível retomar as aulas já na semana que vem. “Precisaria de pelo menos dois dias para organizar as escolas, definir quadro”, resume Getúlio Dalla Torres Júnior, diretor do Colégio Moradias Monteiro Lobato, no Tatuquara, em Curitiba.
Apesar de, em três rodadas de negociação, o governo ter se comprometido a atender vários itens da pauta de reivindicações, o clima entre os professores é de desconfiança e incertezas. Mesmo com os avanços, a categoria pode continuar parada. “Se a assembleia fosse hoje, com certeza votaríamos pela continuidade da greve, porque há uma desconfiança muito grande em relação às promessas do governo”, disse o diretor de comunicação da APP, Luiz Fernando Rodrigues.
Enquanto isso, a greve entra hoje no seu 19.º dia, com a categoria mobilizada. Centenas de professores permanecem acampados na Praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico, entre o Palácio Iguaçu e a Assembleia Legislativa. Os professores prometem permanecer no local até o fim da paralisação.
Desconfiança
O governo do estado considera as negociações encerradas. Os educadores, por sua vez, alegam que a pauta não foi esgotada. A categoria reivindica o pagamento de progressões de carreira a que professores teriam direito, mas que ainda não foram implantadas. Elas somariam mais de R$ 90 milhões. “Em relação a esse item, não houve proposta: ficou no ‘devo, não nego, pago quando puder’”, apontou Rodrigues.
O sindicato também quer o pagamento imediato do terço de férias da categoria em atraso desde dezembro, e que soma R$ 144 milhões. O governo havia se comprometido a quitar o débito até o fim de março. Chegam à APP, ainda, informações de que nem todos os funcionários temporários receberam o valor das rescisões de contrato.
Os educadores permanecem com “um pé atrás” com o compromisso firmado pelo governo. A categoria recebeu mal as declarações recentes do governador Beto Richa, em relação à greve e aos pagamentos. “Não acreditamos nele [em Richa] nem um pouco. No ano passado, ele já havia dado a palavra, firmado compromissos conosco, mas não cumpriu”, disse a professora Paulla Helena Silva de Carvalho.
Escolas com porte menor
Os educadores também esperam que as promessas relacionadas às condições das escolas sejam efetivadas. Ao longo da negociação, o governo aceitou contratar os 5,5 mil professores aprovados em concurso, mas a portaria de nomeação dos profissionais ainda não foi publicada em diário oficial. O sindicato também quer ter certeza de que, de fato, os dez mil professores temporários serão contratados conforme compromisso firmado.
Outro ponto de impasse é o porte das escolas, que, de acordo com o número de turmas, estabelece quantos professores e funcionários cada colégio vai ter. O governo havia garantido que manteria o porte que as unidades tinham em dezembro do ano passado. Até a noite de ontem, no entanto, os colégios apareciam no sistema com o porte reduzido.
Ontem, o governo encaminhou um documento à APP-Sindicato oficializando os compromissos assumidos. Por isso, a decisão da categoria foi recebida com estranhamento no Palácio Iguaçu.