O Mercado Municipal de Curitiba está de cara nova. A Prefeitura concluiu a revitalização do pavilhão que abriga as cem bancas de frutas e hortaliças e cerca de vinte lojas onde funcionam peixarias, açougues, casas de especiarias e delicatessen, mercearias e floriculturas. Ao público, o pavilhão será aberto a partir das 6h de hoje.
Quatro meses e 23 dias após o início das reformas, o complexo inaugurado em 1958 reabre parte de suas instalações com charme renovado, aliando tradição à modernidade, para atender a clientela fiel e novas gerações de consumidores. “O Mercado Municipal é um importante patrimônio de várias gerações de curitibanos, que agora ganha importância renovada no contexto urbano como pólo de compras e o mais novo endereço turístico de Curitiba”, diz o prefeito Cássio Taniguchi.
Ainda até o final deste ano, os ônibus da Linha Turismo deverão incluir o Mercado no roteiro que inclui ícones para visitação como o Jardim Botânico, a Ópera de Arame, a Rua 24 Horas, além de parques, bosques e equipamentos afins.
Com isso, a exemplo de centros como Florianópolis, São Paulo e Porto Alegre, o Mercado Municipal de Curitiba será também citação obrigatória nos principais guias turísticos do País.
Primeiras
As primeiras mudanças ocorreram em 1998, quando o conjunto do Jardim Botânico ganhou novo sistema elétrico, pintura externa, reparos na estrutura, pavimentação nos estacionamentos da Rua da Paz e melhoria de captação e drenagem de águas pluviais. Foram investidos R$ 700 mil e as benfeitorias incluíram ainda uma moderna subestação com dois transformadores de 350 KVA cada, que substituiu o velho transformador de 75 KVA, em operação desde 1958. Na época, também foram instalados medidores individuais nos boxes para controle de consumo de energia elétrica dos lojistas.
Neste ano, mais R$ 1,7 milhão, oriundos do Fundo de Desenvolvimento Urbano (FDU), foram investidos no conjunto que abriga 200 lojistas e 100 bancas de hortifrutigranjeiros. Enquanto o pavilhão com acesso pela Avenida Affonso Camargo e a Rua General Carneiro mostra sua cara nova, a Prefeitura prossegue os trabalhos de restauro na outra ala, onde está a entrada principal, na Avenida 7 de Setembro. Com o término das obras, a ala ganha novo piso, nova iluminação e lojas com visual renovado.
A revitalização do complexo de 4,3 mil metros quadrados termina até 15 de dezembro deste ano, quando comerciantes e público contarão com o mais moderno entreposto central de abastecimento, lazer e serviços. Aos 44 anos, o Mercado Municipal é a grande referência para gourmets e gourmands, muitas vezes endereço exclusivo e único de itens que aprimoram ainda mais o paladar dos amantes da boa gastronomia. Um paladar ainda mais aguçado na nova praça de alimentação, instalada no mezanino do pavilhão revitalizado, de onde o público aprecia o movimento de quem compra e vende e de quem circula.
Num futuro próximo, um salão de chá e um de frutos do mar serão novas e interessantes sugestões gastronômicas no Mercado, graças à especialização de profissionais, visando um atendimento ainda melhor ao público. Até uma cozinha experimental, aberta para o treinamento de nutricionistas ou lançamento de novos produtos alimentares deverá funcionar em um dos boxes do mezanino. “A praça de alimentação reúne o tradicional conceito de ponto de encontro à atual concepção do happy hour, o que no Mercado Municipal fica ainda mais claro, porque reúne num mesmo espaço clientes já cativos e novas gerações de consumidores que agora descobrem a magia desse espaço”, diz o secretário municipal do Abastecimento, Delmo de Almeida Filho.
Produtos para todos os gostos
Quarenta e quatro anos após sua inauguração, o Mercado Municipal de Curitiba continua sendo o endereço onde o consumidor é surpreendido pela grande variedade de produtos exóticos. Apesar da reforma recém-concluída do pavilhão A, as lojas no entorno das bancas de hortigranjeiros ganharam novo visual, mas mantêm aquele ar de armazéns ou empórios que predominavam em Curitiba até o começo da década de 60.
Junto às portas das lojas, postas salgadas de bacalhau Zarbo ou Imperial disputam espaço com as tâmaras e damascos vindos do Oriente Médio, o tofu (queijo de soja), tomates secos, nozes, vinagres balsâmicos (de uva) italianos ou azeite de oliva extra virgem de Portugal, Espanha ou Argentina, azeitonas gregas, sementes de papoula, brotos de bambu, páprica, cúrcuma ou cremor de tártaro.
Para os apreciadores de bons temperos, as gôndolas reservam variedades como tomilho, aneto (dill), aniz estrelado, sementes de zimbro, alecrim, coentro, segurelha, variedades de pimentas em grão, páprica importada da Hungria, além de um sem-número de conservas, embutidos, doces, geléias, compotas e molhos.
Terras de muitas histórias
No final do século 19, as terras da região em que se encontra o Mercado Municipal de Curitiba pertenciam ao barão de Capanema, que recebeu o imperador d. Pedro II durante sua visita a Curitiba, em 13 de maio de 1880. Quatro anos depois, a princesa Isabel e filhos embarcavam no trem, defronte à chácara, para Paranaguá.
Na segunda metade da década de 1910, as terras do barão foram vendidas a famílias como a de Pascoal Bordignon, que adquiriu a gleba compreendida entre as atuais ruas Engenheiros Rebouças – ex-Rua Bandeirantes – e Hildebrando de Araújo – ex-Rua Camões. Na época, existia no local um observatório meteorológico.
No começo dos anos 30, do alto das colinas da Chácara Santa Bárbara, a população assistia gratuitamente as corridas de cavalos no antigo Prado do Guabirotuba, alguns quilômetros adiante. A área conhecida como Mato dos Franco pertencia à família do desembargador Antônio Martins Franco. Cerca de 20 anos depois, apesar da colonização crescente, o Capanema era um bairro considerado distante do centro da capital e passagem obrigatória de boiadas conduzidas ao Matadouro Municipal, no Guabirotuba. Foi em meados dos anos 50 que o trem contribuiu para a transformação urbana local. O bairro era endereço do Vagão do Armistício, restaurante improvisado que funcionava nos fundos da casa dos pais do artista plástico Poty Lazzarotto, morto em 1998. Entre uma e outra garfada do prato trivial, discutia-se o Brasil em fase acelerada de industrialização e seu futuro.
Em 2 de agosto de 1958, o prefeito Ney Aminthas de Barros Braga inaugurava o Supermercado Municipal, na Avenida 7 de Setembro. O mercado foi construído em área urbanizada, permitindo o desembarque rápido das mercadorias transportadas em caminhões, durante a madrugada. A avenida já nasceu com largura suficiente para escoar o tráfego nas horas de pico, conforme previsto pelo Plano Agache, de 1943, que mudou as feições urbanas de Curitiba.