De alameda aristocrática a ponto de sexo e drogas

Uma das principais e mais antigas vias de Curitiba, a Rua Riachuelo está abandonada, de acordo com moradores e comerciantes da região. A presença de prostitutas, traficantes e usuários de drogas tiraram o glamour que a rua tinha na primeira metade do século passado.

O proprietário da Alfaiataria Riachuelo (instalada há 72 anos no local), Guilherme Matter Júnior, conta que a rua era freqüentada por pessoas da elite e por aquelas que gostavam de ver as vitrines decoradas. As lojas de artigos finos, de roupas e as melhores alfaiatarias do Paraná estavam ali. Os poderosos fazendeiros da época, quando passavam por Curitiba, deixavam vários pedidos para a confecção de trajes masculinos e femininos. “Aqui também passavam linhas de bondes que iam para o Cabral, Batel e Seminário”, relembra. O hotel instalado na esquina das ruas Riachuelo e São Francisco era um dos mais chiques naquele tempo, tendo recebido inclusive vários ministros e presidentes.

A partir da década de 1960, a Riachuelo começou a perder prestígio. O movimento se transferiu para o calçadão da Rua XV de Novembro, deixando a região abandonada. Os marginais foram se instalando, os ônibus passaram a circular na via e os prédios históricos viraram reduto de desocupados. Tudo isso trouxe trânsito, poluição e muitos problemas de segurança. Esse quadro prejudicou a imagem da Riachuelo, afastando ainda mais os visitantes. “Era para ser uma rua de elite, com grande movimento, como hoje é a Rua XV”, acredita Matter.

Atualmente, os principais problemas da rua são a venda de drogas e prostituição. Existem várias pensões, pequenos hotéis e bares que abrigam pessoas ligadas a essas atividades. Para Ottilia Hilu, proprietária da loja de tecidos Casa Hilu, a situação era bem pior há alguns anos. Os marginais andavam nos telhados na tentativa de entrar nas lojas e roubar o que podiam: “Já sofri muito com isso. Também tinha muita morte por dívidas de drogas. Hoje as coisas estão um pouco mais calmas”, afirma. Mesmo assim, a imagem ruim do local permanece. “Meus clientes sempre falavam que eu tinha uma ótima loja, mas não vinham aqui por medo. Preciso falar que não tem perigo, que o pior já passou. Senão, perco a freguesia”, completa.

Para o comerciante Chain Malhou, a solução para melhorar a rua seria a proibição das pensões na área. “A Prefeitura não pode dar alvarás para essas pensões, que são redutos de prostitutas e traficantes”, critica. “Os bares e as lanchonetes dessas redondezas também precisam de fiscalização constante.” Malhou também defende a recuperação de prédios históricos e a transformação da rua nos mesmos padrões da Rua XV, com boas calçadas e iluminação. “Já houve um projeto como esse, mas a Prefeitura queria que os comerciantes e moradores arcassem com os custos. Mas e onde está o dinheiro que pagamos no IPTU?”, questiona.

Projeto

O arquiteto Lauro Tomezawa, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, explica que há um projeto para a revitalização da área, que inclui o calçamento e a retomada de uma linha de bondes, na tentativa de resgatar a história desse ponto da cidade. A ligação seria entre as praças Eufrásio Correia e Dezenove de Dezembro, em um percurso total de 3,5 quilômetros. Alguns veículos foram guardados pela Prefeitura e precisam de recuperação para voltar a circular. O projeto ainda está no papel porque precisa de uma parceria com a iniciativa privada, que seria responsável por parte dos custos.

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