Da tv para areia da praia

Foto: Mara CornelsenEncerrando a série de dez reportagens sobre personagens do litoral paranaense, a Tribuna traz hoje para o leitor a história das disputas que acontecem nas areias entre os mais diversos tipos de vendedores ambulantes. O verão é tempo de ?vacas gordas?, todos querem vender de tudo. É a época de garantir até mesmo o sustento no período de inverno, quando as praias ficam vazias. E nessa disputa vale de tudo, desde cantar na areia, assoviar, apitar ou andar vestido com fantasias que lembram personagens da televisão. Boa leitura!

Vendedores ambulantes disputam espaço na areia das praias do Paraná, tanto quanto os banhistas. São dezenas de homens, mulheres e adolescentes oferecendo desde picolés até iguarias mais delicadas, como espetinhos de camarão e castanhas de caju torradas. O movimento é intenso, já a partir das 9h, e prossegue até o final da tarde, quando os últimos banhistas e potenciais fregueses se recolhem. A disputa para vender mais e garantir uma boa grana que dê um fôlego nos meses de frio é grande. Vale de tudo para atrair a clientela, até o extremo esforço de andar horas a fio, vestindo uma pesada fantasia que em nada combina com o clima quente do verão à beira-mar. Desfilam pela orla os Bananas de Pijama, os Teletubbies e até personagens mais fortes, como o Super-Homem e o Batman. Todos eles vendem as tradicionais casquinhas e os pacotes de algodão-doce. As guloseimas são produzidas em fabriquetas de fundo de quintal, normalmente pelas famílias dos próprios vendedores. É o caso do garoto Cleiton Nascimento Martins, de 15 anos, que não se intimida diante do calor e veste a fantasia de Teletubbies, na cor verde (copiando um dos personagens do desenho animado que tanto encantou a criançada na faixa de 1 a 5 anos de idade).

Foto: Mara CornelsenCleiton mora em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, sonha em ser jogador de futebol – diz que bate bem uma bola como lateral-direito do time Imperial, do qual é titular – e está na 8.ª série do ensino fundamental. É o mais velho de três irmãos. Neste verão foi para Guaratuba e na Praia Brava fez seu ponto de venda. O avô, João Martins, produz as casquinhas e o algodão e mantém uma equipe de 16 vendedores que cobrem todo o balneário. Os doces são vendidos a R$ 2,00. A metade fica para Cleiton, que em dez dias conseguiu faturar R$ 500,00. Trabalhando só de manhã.

À tarde vai curtir a praia e brincar com os amigos. Ele tem planos não revelados para o dinheiro que conseguiu e acha muito bom trabalhar na praia, mesmo usando uma fantasia. ?Vestido assim dá pra vender mais?, garante.

Outra figura curiosa que bate pernas pelas areias escaldantes de Guaratuba é o Batman, que desfila usando máscara de plástico, uma surrada roupa preta – já desbotada pelo sol – e um gastíssimo par de chinelos de dedo. O protagonista da façanha é um rapaz que se dispõe a andar do Morro do Cristo até a Barra do Saí, vestindo a fantasia do super-herói. Ele não aceitou dar entrevista e, segundo seus amigos, é muito ?vergonhento?, ou seja, tímido. Mas os guarda-vidas que trabalham naquela região contam uma boa história sobre Batman. Dizem que certo verão outro vendedor achou de trabalhar por ali, vestido de Super-Homem. Os dois se cruzaram na praia e Batman, injuriado com a concorrência, partiu para cima do adversário, promovendo uma pancadaria para expulsar o colega de seu terrtório. Foi uma superbriga, separada pelos veranistas.

Costuma-se dizer que no amor e na guerra vale tudo e, ao que parece, no comércio de casquinha e algodão-doce, também.

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