Cerca de 1.500 pessoas por mês procuram a ajuda do Programa de Valorização da Vida (CCV) em Curitiba. Grande parte delas está passando por problemas e vêem no suicídio uma possibilidade de acabar com as aflições. Mas, segundo a vice-coordenadora do CCV, Denise Baroni, o número poderia ser maior se eles dispusessem de mais voluntários para prestar atendimento. Muitas vezes quem procura ajuda encontra a linha ocupada. Segundo dados da Delegacia de Homicídios, entre noventa e cem pessoas acabam com a própria vida todos os anos na capital.
Curitiba é a terceira capital do país em número de suicídios. A maioria das vítimas está nas faixas etárias entre 20 e 24 anos e acima de 70 anos. Denise explica que os jovens passam por muitas mudanças, ao mesmo tempo em que a sociedade exige tomadas de decisões que vão trazer conseqüências para o resto da vida. Já com os idosos o problema é a falta de perspectivas e a ausência de atividades que levam a pessoa a cometer o ato.
Alguns comportamentos podem ser um sinal de alerta. Uma pessoa muita alegre que de repente fica calada, deixa de praticar um hoby ou até mesmo diz que vai se matar, pode estar mostrando que algo está errado. A receita para ajudar estas pessoas é simples e se baseia em conversas. Os voluntários são treinados para ouvir o que cada um tem a dizer. “O sigilo faz com que as pessoas abram o coração e contem coisas escondidas no íntimo de ca da um”, diz Denise. Os voluntários também não direcionam a conversa e não emitem opiniões. “É comum eles agradecerem por conselhos que não foram dados. Eles sozinhos chegaram àquela conclusão”, afirma.
De acordo com Denise muita gente procura ajuda, mas eles dispõem de apenas dois voluntários por turno durante o dia e quatro à noite. “Enquanto a linha está ocupada, pelo menos oito pessoas tentaram entrar em contato conosco. Algumas conversas duram até quatros horas e meia”, diz. Para Denise, a sociedade chegou a esta situação porque a conversa entre as pessoas está acabando. A televisão, o computador e o trabalho ocuparam este espaço. “Ninguém tem mais com quem desabafar”, explica.
Voluntários
O centro dispõe hoje de 54 pessoas que fazem o atendimento uma vez por semana. Mas para dar conta da demanda seriam necessários pelo menos oitenta. Dos quarenta voluntários que iniciaram o curso de preparação, apenas 20 alunos estão concluindo o curso. Para realizar o trabalho, é preciso ser calmo, saber ouvir e estar bem emocionalmente. No país são 2.700 voluntários distribuídos em 53 postos. A terapia de grupo é utilizada para que os voluntários não fiquem abalados com as histórias que ouvem.
Este trabalho surgiu em Londres, após a II Guerra Mundial. Um reverendo ficou sabendo que uma menina de 13 anos cometeu suicídio porque havia menstruado. Ela não tinha com quem conversar e achava que tinha uma doença grave. Assim, o sacerdote colocou um anúncio no jornal se prontificando a conversar com quem precisasse. Ele recebeu vários pedidos de ajuda ao mesmo tempo que outras pessoas se prontificaram a ouvir. No mundo hoje são 1 milhão de ligações por ano, uma a cada 35 segundos. O telefone do CCV em Curitiba é (41) 342-4111.