Definitivamente o ano de 2002 não vai ser de boas lembranças para o povo inglês. Depois da morte da rainha-mãe, desta vez a frustração foi no campo esportivo. Considerado melhor time britânico desde o histórico campeonato mundial de 66, a seleção inglesa não conseguiu suplantar a brasileira na madrugada passada. Os 2 a 1 para a “Família Scolari” trouxeram à tona uma velha máxima: tristeza de uns, alegria de outros. E alegria foi o que não faltou nas ruas de Curitiba. Milhares de pessoas, vestidas de verde e amarelo invadiram os principais pontos da cidade para comemorar. O amanhecer foi de muito barulho e festa na Avenida do Batel, tradicional ponto de comemoração dos curitibanos.
A festa começou bem antes do apito final do árbitro no Japão. Desde o início da noite, os torcedores já se organizavam nas casas ou em bares para esperar a vitória brasileira. A casa de Silmara Cristine Iglesias, era exemplo disso. Desde a Copa de 94 ela decora toda a residência e leva seus vizinhos para assistir os jogos do Brasil. É uma promessa feita após a morte de seu irmão em 92. “Vou fazer essa festa enquanto estiver viva. Para a final da Copa, quero conseguir patrocínio e instalar um telão aqui”, revelou Silmara, alegre em ver sua casa lotada. Ela contou que horas antes da partida toca uma sirene ensurdecedora, que serve de chamada para quem quiser vir acompanhar o jogo em sua casa.
A disposição de Silmara vem dando resultado. Até um francês apareceu para torcer para o Brasil. Radicado em Curitiba há oito anos, Wiltson Richard se diz muito decepcionado com a fraca campanha da França nessa Copa. “Agora vou torcer para o Brasil”, disse Richard, que apostava numa vitória brasileira por 3 a 0.
Depois da falha de Lúcio e do gol inglês, marcado por Michael Owen, o clima de tensão aumentou na casa de Silmara. Mas com o empate brasileiro na jogada de Ronaldinho Gaúcho com o gol de Rivaldo, a esperança pela virada tomou conta dos ânimos. “Ainda vamos vencer por 3 a 1. O Felipão tem que colocar o Ricardinho no segundo tempo”, pedia Alexandre Kaminski no intervalo da partida.
A virada
O Battelum Bar e Choparia foi um dos bares que colocou telões para os torcedores assistirem ao jogo. A curiosidade é que não eram apenas brasileiros. Um grupo de ingleses também assistiu a despedida do “English Team” no bar. Mas se durante o primeiro tempo eles ainda tiveram alguma esperança, na segunda etapa, depois do gol de Ronaldinho Gaúcho, a festa foi toda em verde e amarelo. A administradora de empresas Leila Navarro, disse que o jogo foi “maravilhoso”. Contente por também ter ganho o bolão do bar, ela contou que quase morreu quando os ingleses saíram na frente no placar. “O Brasil jogou como nunca. Com certeza vamos ser penta”, afirmou eufórica.
Para o analista de sistemas César Cotrim, o penta pode vir, mas não com tanta facilidade. “Com essa zaga, cada jogo é um jogo. Não podemos comemorar antes do tempo”, alertou.
Famílias de craques assistem juntas ao jogo
Rosângela Oliveira
A seleção do Brasil passou às semifinais de forma dramática. Depois de sair atrás no placar e ficar parte do segundo tempo com um jogador a menos, a equipe conseguiu bater a Inglaterra pela diferença de um gol. A expulsão de Ronaldinho e o primeiro gol do time europeu foram os momentos de maior tensão do jogo, na opinião do pai do volante Kleberson, Paulo Olímpio Pereira. A família do craque assistiu à partida junto com a família de Ricardinho, na escolinha de futebol do jogador, no bairro do Seminário, em Curitiba.Como não poderia ser diferente, Paulo Olímpio defendeu o desempenho do filho na partida, afirmando que ele trouxe mais força para equipe. “O Felipão (Luiz Felipe Scolari, técnico da Seleção) não queria colocar ele, mas hoje sabe que o Kleberson é uma peça chave”, disse. O volante ganhou a vaga na equipe titular desde o início do jogo, deixando Junino Paulista na reserva. O pai do craque torce para que o Brasil enfrente a Turquia na próxima partida. “Além de já conhecer o time, acho que é seleção mais tranqüila que o Senegal”, afirmou Paulo Olímpio.
A mesma opinião tem o pai do meio-campista Ricardinho – que não chegou a jogar na partida -,José Luiz Rodrigues. “O Brasil já jogou com eles e dessa forma fica mais fácil”, afirmou. Ele confessa que esperava que o filho entrasse no segundo tempo, mas, dessa vez, o técnico Felipão preferiu não escalar Ricardinho. Independente disso, José Rodrigues disse que gostou da atuação da Seleção. “E quando vieram os gols de Rivaldo e Ronaldinho, a torcida aqui em casa ficou bem mais tranqüila”, arrematou. Cerca de 50 pessoas acompanharam o jogo da escolinha de futebol.
Ingleses saíram de “fininho”
Os “súditos da rainha” se renderam ao melhor futebol brasileiro. Após o término da partida e a eliminação da Inglaterra, eles foram os primeiros a deixar o bar. A saída “de fininho” já era prevista durante o segundo tempo, quando a cada bom lance brasileiro ou falha no ataque inglês, surgiam expressões de desespero, como se não estivessem acreditando no que viam. Um dos poucos que tiveram coragem de falar após a partida foi Andrew Prosser. Ele disse que estava muito triste, mas reconhecia a superioridade brasileira. “Infelizmente estamos fora. Mas perdemos para um grande time. O Brasil mostrou como deve ser jogado o futebol. Perdemos para uma seleção que vai ser campeã por ter dois jogadores maravilhosos”, rendeu-se, referindo-se a Rivaldo e Ronaldo.
Prosser, que é bancário e mora há dois anos em Curitiba, confessou que já começa a criar raízes no Brasil. “Torço pelo Atlético Paranaense. Tenho que reconhecer que esse jogador Kléberson realmente é muito bom”, afirmou, mostrando todo seu desapontamento com o time de Beckham e companhia. (LM)
