Que tal parar também?

Curitiba tem redução de 33% no número de fumantes

Em seis anos, o percentual de fumantes adultos em Curitiba baixou 33%, passando de 18% para 12%, revela a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2012), divulgada ontem pelo Ministério da Saúde. Em todo o País, a parcela de fumantes caiu 20% no mesmo período, de 15% para 12%. Para conscientizar a população no Dia de Combate ao Fumo, hoje, agentes da prefeitura fazem ações no Centro sobre os riscos do tabaco.

De acordo com o Ministério da Saúde, vários fatores contribuíram para a queda, como ações de prevenção e o envelhecimento da população. Porto Alegre manteve a liderança da maior concentração de fumantes em relação a 2011 (18%). Curitiba, que estava em segundo no ranking em 2011, com 20,2%, caiu para quinto.

Se por muitos anos, o hábito de fumar estava associado à autoafirmação e status e os malefícios do cigarro eram pouco conhecidos, hoje estudos mostram que fumar só traz danos à saúde. Está provado que 26% das mortes por câncer estão associadas ao tabagismo que, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a principal causa de morte evitável no mundo.

Mais nocivo

“São vários os fatores que levam a pessoa a fumar: ansiedade, lidar com o estresse, perda na família, exemplo dos pais, entre outros”, cita Cláudia Weingaertner Palm, coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria da Saúde de Curitiba. Hoje, segundo ela, percebe-se a grande influência do grupo no uso do narguilé, que é mais nocivo que o cigarro comum. Uma hora de narguilé equivale ao consumo de 100 cigarros, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

O médico otorrinolaringologista Jayme Zlotinik, vice-presidente da Associação Paranaense Contra o Fumo e professor da Universidade Federal do Paraná, lembra que o índice de fumantes caiu pela metade nos últimos 50 anos. “Apesar disso, ainda temos número elevado se levarmos em conta o acesso à informação”.

Perigo. Mistura com anticoncepcionais vira bomba

Apesar da queda no consumo entre as mulheres, Jayme Zlotinik nota aumento no número de garotas que começam a fumar. “As mulheres são mais vulneráveis à dependência. Começam a fumar como forma de demonstrar emancipação e para “se mostrar”. O médico ainda lembra que o consumo de cigarro é contraindicado a mulheres que usam anticoncepcional, pois ficam mais propensas a doenças cardiovasculares. Isso porque a nicotina e a pílula são vasoconstritores, ou seja, contraem os vasos sanguíneos. Além dessa combinação perigosa do cigarro-hormônio, a substância afeta a vaidade. “A fumante vai envelhecer mais cedo, vai entrar antes na menopausa”, exemplica Zlotinik.

Especialistas alertam que quanto mais cedo se começa a fumar, mas difícil é largar o vício. Para Cláudia Weingaertner Palm, a lei antifumo, que proibiu o uso do tabaco em ambientes fechados, não só beneficia os fumantes passivos. “O fato de necessitar sair do local para fumar tem levado os fumantes a reduzir o consumo”, analisa. Segundo a cardiologista Maria do Rocio Peixoto Oliveira, do Hospital Cardiológico Constantini, permanecer por seis horas num ambiente fechado com fumantes equivale a fumar cinco cigarros. “A fumaça contém até três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que entra pela boca do fumante depois de passar pelo filtro do cigarro”, explica.

Combate começou por aqui

A ideia embrionária do dia de combate ao fumo surgiu em Curitiba. Em 29 de agosto de 1980, estudantes saíram às ruas e decretaram “greve ao fumo” em pleno governo militar, como lembra o médico Jayme Zlotinik. “A not&i,acute;cia saiu Brasil afora até que um deputado federal do Paraná propôs no Congresso o projeto de lei que tornasse a data o dia de combate ao fumo”, disse. A lei foi sancionada em 1986 pelo então presidente José Sarney. Um dos pioneiros no combate ao tabagismo, Zlotinik lembra que em 1971 conseguiu que o prefeito da época, Jaime Lerner, sancionasse a lei que proibia o fumo no transporte coletivo. “Depois, muitos municípios nos imitaram”.

Lista de doenças é grande. Afeta pulmão, coração…

Reprodução
Fumante deve ter vergonha e parar, diz médico.

A maior despesa que o fumante pode ter é com a saúde. Isso porque a lista de doenças relacionadas ao tabagismo é imensa. “O tabaco é o principal fator de risco ligado à mortalidade das doenças pulmonares obstrutivas crônicas (enfisema), coronarianas (infarto do miocárdio), neoplasias, principalmente o câncer do pulmão. Também está relacionado à gastrite, envelhecimento da pele, dentes amarelados, trombose em membros inferiores”, cita Cláudia Weingaertner Palm.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 90% dos cânceres diagnosticados estão associados ao consumo de tabaco. O de pulmão é o que mais mata em Curitiba: em 2011 levou 280 pessoas a óbito. O consumo de cigarro ainda pode prejudicar a memória e levar à demência. “Legisladores, imprensa e médicos fazem o papel. Cabe à população ter vergonha ou medo de doença ou ter vergonha de si mesmo e parar”, prescreve Jayme Zlotinik.

Jornalista vira exemplo

A jornalista gaúcha Paula Coruja, 32 anos, é um exemplo de força de vontade e criou um blog – o www.pareidefumar.com -para compartilhar sua luta contra o vício. Natural de Gravataí, Paula mora em Porto Alegre, cidade que segue líder no ranking de fumantes, e revela que começou a fumar aos 14 anos. “Era o tempo em que meus amigos fumavam nas festinhas, coisa que eu nem cogitava fazer. Só que de vez em quando, roubava um cigarro da minha mãe e experimentava de madrugada”, lembra.

Da primeira tragada, Paula passou a consumir em média uma carteira por dia e chegou a influenciar o namorado, que voltou a fumar por causa dela. Em 2011, depois que teve problema causado por estresse e descobriu que estava com bronquite, a médica lhe recomendou emagrecer e parar de fumar. “Ao longo do ano, minha mãe, que fumou por mais de 40 anos, descobriu o enfisema pulmonar, o que me deixou mais assustada”, recorda.

Ela refletiu e decidiu que “a relação doentia tinha que acabar”. No início, tentou diminuir o cigarro, mas não funcionou. “Resolvi que o dia do meu aniversário em 2012 seria o último como fumante”. Paula não participou de nenhum grupo de “fumantes anônimos”, mas precisava desabafar, já que os primeiros dias sem cigarro foram “enlouquecedores”. Por isso criou o blog, por meio do qual troca mensagens com fumantes e ex-fumantes. “Foi a melhor terapia”.

Alívio

Um ano e sete meses longe do vício, ela não teve recaída. “Sinto alívio quando vejo um fumante, porque sei que não sou eu fumando, que não dependo mais disso para respirar, como achava antes”, analisa Paula, que hoje tem orgulho em dizer que já perdeu o peso com a prática de exercícios. Sua vida ganhou mais fôlego.

Tratamento com remédio nos postos de saúde

Quem decidiu parar de fumar pode encontrar tratamento gratuito nas Unidades de Saúde de Curitiba. Segundo Cláudia Weingaertner Palm, o tratamento consiste na abordagem cognitivo-comportamental em grupos com apoio medicamentoso, cuja indicação é individual. Em 2012, foram atendidos 2.934 pacientes com taxa de cessação de 48,3% (avaliados após a quarta sessão). Em 2013, os grupos são atendidos em 53 UMS e três unidades parceiras, com média de 200 pacientes por mês. A coordenadora lembra que a prevenção e o tratamento precoce s,ão as ferramentas mais eficazes. “Diferentemente de outros tipos de câncer, o de pulmão pode ser evitado na maioria dos casos”, comenta.

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