Curitiba tem 2.700 camelôs lutando pela sobrevivência

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Venda de bolsas sustenta
José Vando, esposa e filho.

Em períodos de crise econômica, quando os índices de desemprego aumentam, cresce o número de pessoas que buscam licença para trabalhar como vendedores ambulantes nas ruas das grandes e pequenas cidades brasileiras. Atualmente, em Curitiba, segundo a Prefeitura, existem cerca de 2,7 mil camelôs pela cidade. Destes, 308 trabalham na área central.

O ambulante José Vando Batista, 50 anos, conseguiu licença para exercer a atividade há seis anos. Nascido em Minas Gerais, mas morador de Curitiba há trinta anos, ele sempre trabalhou como metalúrgico. Quando perdeu o emprego, não conseguiu mais nada com carteira assinada. Foi então que resolveu trabalhar como camelô, atualmente ocupando um espaço na Rua João Negrão, no centro. "Quando a metalúrgica que eu trabalhava me mandou embora, atuar como camelô foi minha única opção", conta. "Há seis anos, é vendendo bolsas no centro que eu sustento a mim, minha esposa e meu filho."

A história do vendedor Onofre Correia, 51 anos, é semelhante. Nascido em Maringá, ele trabalhava como operador de refinaria de uma cooperativa. Quando veio para Curitiba, há dezoito anos, não conseguiu emprego e resolveu comerciar mercadorias nas ruas. Inicialmente atuou na Praça Rui Barbosa. Hoje está na Avenida Marechal Deodoro. "Vendo óculos, bonés, bolsas e capas de celulares. Quando comecei, há dezessete anos, a atividade era bastante lucrativa, pois eu ganhava mais como camelô do que como operador de refinaria. Hoje, consigo sobreviver, mas não é mais a mesma coisa", conta. "As pessoas estão comprando cada vez menos." Onofre ganha cerca de R$ 600 mensais. Com o dinheiro, sustenta a si e à esposa.

Para os vendedores ambulantes, o pior da atividade é trabalhar em dias de chuva, quando as mercadorias molham e poucos clientes aparecem. O lado bom são os amigos conquistados entre uma venda e outra e o fato de se poder trabalhar sem patrão. "Trabalho das 7h30 às 19h30 todos os dias, mas ninguém manda em mim. Eu sou meu próprio patrão e, por isso, tenho liberdade para trabalhar, o que é muito bom", comenta o vendedor José Aparecido Paiva, 46 anos, que ocupa um espaço na Rua Monsenhor Celso, exerce a atividade há 12 anos e, com ela, garante o sustento da esposa e de duas filhas.

Alvará

O gerente da regional matriz do Núcleo de Urbanismo de Curitiba, Hélio Prade, explica que para obter um alvará de vendedor ambulante é preciso se dirigir a uma rua da cidadania e preencher um requerimento. Então, a Prefeitura analisa o documento, verificando se as mercadorias informadas pelo requerente podem ser comercializadas ou não. Se estiver tudo certo, será definido um local para que a pessoa possa atuar.

Não são aprovadas mercadorias como bebidas alco-ólicas, cigarros, CDs piratas e alguns tipos de alimentos, como churrasquinho. A Prefeitura mantém uma equipe de fiscalização, que realiza blitze freqüentes e apreende mercadorias clandestinas. Para retirar os produtos apreendidos, os proprietários precisam pagar multa.

Mais que simples endereços de compras

As feiras livres, que funcionam de terça-feira a domingo em 43 endereços diferentes da cidade, vendem, em média, 670 toneladas de alimentos – hortifrutigranjeiros, frios, massas, pescados, carnes e afins, segundo dados da Secretaria Municipal do Abastecimento. O levantamento traz a média de vendas de outubro de 2003 a setembro deste ano.

"As feiras são mais que simples endereços de compras. Elas são também ponto de encontro de moradores de ruas próximas e os comerciantes atuam há anos nas feiras, conhecendo os hábitos e as preferências dos consumidores", diz a diretora de Unidades de Abastecimento da secretaria, Célia Richter Ross.

As feiras livres curitibanas ganharam novo impulso a partir de setembro, quando 60 feirantes participaram do curso "Como vender melhor com as ferramentas do marketing", realizado pelo consultor Alexandre Baer, com o objetivo de atualizar e melhorar as vendas nas tradicionais barracas que funcionam nas ruas, em dias e horários predeterminados.

Segundo o secretário Paulo Base, o curso dado por Baer ensinou como angariar novos clientes e aumentar as vendas usando a criatividade e a disponibilidade de produtos que tenham não só qualidade, como também a preferência da clientela que faz das feiras endereço obrigatório para compras e encontros a cada semana.

Movimento equilibrado

As inconstâncias climáticas e mesmo as entressafras não prejudicam o movimento regular nas feiras de Curitiba, que surgiram ainda no fim do século 19, e hoje fazem parte da paisagem urbana durante seis dias da semana.

Até a década de 1940, frutas e verduras eram transportadas pelos agricultores em carroções, vindos dos bairros distantes, como Abranches, Bom Retiro, Portão e Santa Felicidade, entre outros. O principal ponto de venda era o Largo da Ordem, no Setor Histórico. Enquanto os consumidores faziam compras, escolhendo os hortigranjeiros desejados, os cavalos se concentravam em torno do bebedouro em frente à igreja. O aumento de demanda fez os produtores trocarem as carroças por caminhões, e também pela instalação das primeiras barracas em pontos centrais, especialmente as praças.

Não tardou para a Prefeitura administrar as feiras, já na década de 1960, regulamentando a atividade e definindo endereços fixos para instalação da infra-estrutura, no centro e nos bairros. Além de frutas e verduras, e dos clássicos pastéis e caldo de cana, aos poucos as feiras começaram a vender também outros produtos, como massas, carnes e peixes, ou mesmo calçados, roupas e acessórios, como luvas, meias e outros.

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