Tempos de guerra

Curitiba Subterrânea: Conheça o túnel dos alemães na capital

Além de ser um dos prédios mais antigos de Curitiba, a sede do antigo Clube Concórdia, hoje pertencente ao Clube Curitibano, no bairro São Francisco, possui câmaras subterrâneas e a entrada de túnel mais bem preservada da capital. Entramos no edifício e depois de passar por um majestoso corredor, com as portas do salão principal à direita, chegamos a uma discreta passagem à esquerda para descer as escadas. É preciso se abaixar para entrar na câmara, que é feita de tijolos à vista e tem forro abobadado – técnica usada para evitar que desabe com o peso superior.

Possui pouco mais de dez metros e ao final há uma estreita abertura. Ainda é possível entrar e seguir por mais alguns metros. Depois a passagem é bloqueada.

“A primeira ligação seria com a casa ao lado, que era de um alemão”, aponta o pesquisador Marcos Juliano Ofenbok. “É possível que o túnel seguisse para o Largo da Ordem ou para o prédio ao lado da atual sede da Guarda Municipal, que era um depósito”. O túnel do Clube Concórdia foi de conhecimento restrito dos membros da comunidade alemã por muitas décadas, até que em 2007, Ofenbok e um colega conseguiram entrar no local e divulgaram o que tinham encontrado. Logo depois, diversas equipes de televisão fizeram o registro e a resistência de um ou outro associado mais antigo do clube esfriou.

Rotas

No Clube Concórdia há também uma galeria subterrânea embaixo do palco do salão principal. Neste local existem algumas paredes mais recentes, que podem esconder outras entradas para o túnel principal. O prédio foi inaugurado em 1887. Era sede da Liga Alemã de Cantores e reunia imigrantes e descendentes germânicos. Por imposição do governo brasileiro, no fim dos anos 30, os membros foram obrigados a abandonar o nome alemão e passaram a ser “Club Concórdia”, incorporado há alguns anos pelo Clube Curitibano.

Ofenbok acredita que esse sentimento de perseguição durante a primeira e a segunda guerras mundiais foi estímulo pra construção dos túneis. “Poderiam usá-los em fugas ou como esconderijo. Muitos prédios antigos, feitos por imigrantes ou ordens religiosas, tinham estratégia subterrânea”.

Ligação entre igrejas

O pesquisador Marcos Ofenbok não descarta a possibilidade de o túnel ter tido conexão com a Catedral Basílica de Curitiba. “O responsável pela construção do templo foi o mestre de obras alemão Henrique Henning, que teve a história contada pelo jornalista Cid Destefani no livro ‘A cruz do alemão’. Não deixa de ser uma possibilidade, já que ambos os prédios foram construídos na mesma época”, afirma.

Ele ainda acredita que poderia haver túneis que ligariam a Catedral à Igreja da Ordem e à Igreja do Rosário, seguindo para as ruínas da Igreja de São Francisco de Paula. Em 2007, quando Ofenbok tornou pública a existência do túnel do Clube Concórdia e cogitou a possibilidade de haver galerias que o interligavam a Catedral e demais igrejas da região do Largo do Ordem, o arcebispo dom Pedro Fedalto fez a seguinte declaração: “não posso falar que não existe, mas não tenho conhecimento. São lendas”.

No altar

O Paraná Online entrou em contato com a administração da Catedral, mas não conseguiu falar com nenhum religioso ou representante. A arquiteta Giceli Portela, responsável pela restauração da Catedral, em 2012, disse apenas que não tem conhecimento de nenhum túnel na igreja. Porém, pesquisadores apontam que embaixo do altar havia uma saída de ar de uma galeria subterrânea. Muitas ,das histórias ligadas aos túneis de Curitiba são relacionadas às ordens religiosas que ajudaram imigrantes perseguidos, como alemães e italianos. Os túneis na região do Vista Alegre e Mercês são bons exemplos. Leia na edição de amanhã o que há de verdade sobre o pirata Zulmiro, que teria enterrado um tesouro num túnel no bairro Mercês.

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