Curitiba registra queda nas taxas de gravidez precoce

Muitas adolescentes continuam trocando as festas, as saídas com os amigos e mesmo os estudos pela maternidade. Embora assuntos relacionados à prevenção sejam bastante abordados pela mídia e pelas autoridades da área de saúde, a gravidez entre meninas com idades entre 10 e 19 anos continua preocupando no Brasil.

No País, segundo dados divulgados pelo projeto Maternidade e Paternidade Responsável, 20% dos partos realizados são de mães adolescentes. Em Curitiba, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), de cada cem gestantes, 14,6 têm 19 anos ou menos.

“O índice de adolescentes grávidas vem diminuindo na cidade. Em 2002, era de 17,1% e, em 2007, de 15,6%. Estamos perto do índice de países desenvolvidos, que é de 10%. Porém, dentro da própria capital, existe muita disparidade.

Na Vila Guaíra, por exemplo, o índice é de quase 10%. Já em regiões como a Vila Verde, o Capanema e o Parolin, chega a 28%”, diz a coordenadora municipal do programa Adolescente Saudável, realizado pela SMS, Júlia Valéria Ferreira Cordellini.

Em Curitiba, as adolescentes podem ter acesso gratuito a métodos anticoncepcionais nas unidades de saúde da prefeitura. Porém, nem todas os utilizam, assim como não assimilam de forma adequada as informações que lhes são repassadas sobre adolescência e gestação.

“A apropriação da informação e habilidade para utilizá-la para mudança de atitude são demoradas, sendo que muitas vezes levam décadas. Muitas meninas não se previnem porque querem engravidar, mesmo que esse desejo seja inconsciente. Para muitas, a gravidez gera mudança de status, sendo que elas se sentem mais adultas.”

Emocional

O chefe do serviço de reprodução humana do Hospital de Clínicas (HC) e diretor do Centro Paranaense de Fertilidade, Karam Abou Saad – que recentemente lançou o projeto Maternidade e Paternidade Responsável – afirma que as adolescentes têm ótimas condições físicas de engravidar e levar a gestação adiante, tendo parto normal ou cesariana.

Porém, na grande maioria das vezes, estão despreparadas emocionalmente para se tornarem mães, não tendo também condições financeiras para arcar sozinhas com as despesas geradas por um bebê. Isso faz com que um terço das gestações entre adolescentes resultem em abortos provocados, o que pode gerar uma série de complicações e mesmo óbitos.

“As adolescentes geralmente têm ótimas condições de dar à luz. Porém, muitas não fazem pré-natal e prejudicam a própria saúde e a do bebê ao se alimentarem mal ou apertarem o abdômen para tentar esconder a gravidez. Isso pode resultar em pressão alta, bebês com baixo peso ou prematuros”, declara Karam. “A maioria das gestações na adolescência não são programadas. A menina geralmente sabe que pode engravidar, mas acha que não vai acontecer com ela”.

As consequências da gravidez variam conforme a idade, a reação da família e as condições financeiras da adolescente. Porém, muitas meninas encontram dificuldades para dar sequência aos estudos e conseguir emprego.

“A atitude do pai do bebê também é determinante. Ainda hoje, infelizmente, muitos garotos não assumem a responsabilidade e abandonam a menina quando descobrem que ela está grávida. Isso deve ser mudado através da conscientização dos adultos sobre o tema (sendo que muitas vezes os meninos repetem modelos já adotados) e dos próprios garotos, que devem assumir seus direitos e deveres sexuais e reprodutivos. Eles devem entender que, se a namorada engravidou, não precisam casar, mas devem assumir a responsabilidade pelo bebê que está sendo gerado”, afirma Júlia.

Retomada de um sonho até o final do ano

Daniel Caron
Camila, de 18 anos, com sua filha. Apesar das dificuldades ela não desistiu da carreira de comissária de vo,o.

A adolescente Camila Caetano, de 18 anos, sabe bem o que é abrir mão dos próprios sonhos em prol da maternidade. Ela ficou grávida aos 17 e, em dezembro do ano passado, deu à luz uma menina, à qual se dedica quase que integralmente.

“Sou apaixonada pela minha filha, mas se pudesse voltar atrás, gostaria que ela tivesse vindo mais tarde. Atualmente, deixo de sair com meus amigos e fazer coisas normais de pessoas de minha idade para trocar fraldas, amamentar, levar minha filha ao pediatra e lavar roupinhas”, conta.

A adolescente engravidou do namorado meses antes de ingressar em um curso de comissária de bordo. Ao descobrir que estava grávida, ela levou cerca de um mês para contar para a própria mãe.

“Quando eu descobri a gravidez, eu estava de um mês. Porém, só contei para a minha mãe, que já estava desconfiada, aos dois meses de gestação. Ela ficou um pouco assustada no começo, mas acabou aceitando bem e me apoiando muito, o que foi bastante importante.”

A menina optou em não casar com o pai da criança, mas continua namorando ele, que, ao contrário de muitos garotos, assumiu a responsabilidade pelo bebê. Camila também não desistiu da carreira de comissária de voo. Com a mãe e o namorado ao seu lado, ela pretende retomar o sonho no final deste ano, demonstrando muita coragem e força de vontade.

“No ano passado, não pude fazer o curso porque ele aconteceu bem na época que minha filha estava para nascer. Porém, este ano, quero fazer, sendo que vai começar um curso novo no próximo mês de setembro. Sei que vai ser um pouco difícil conciliar as aulas com os cuidados com minha filha, mas mesmo assim vou tentar, não vou desistir.”

Gravidez tardia é abordada em projeto

Além de falar sobre a gravidez na adolescência, o projeto Maternidade e Paternidade Responsável também aborda o tema da gravidez tardia. Assim como não é indicado ter filhos muito cedo, Karam Abou Saad desaconselha as mulheres a deixarem para engravidar pela primeira vez após os 35 anos de idade. A cada ano, elas vão perdendo a capacidade de se reproduzir.

“Atualmente, em função dos estudos e da carreira profissional, muitas mulheres estão casando tarde e deixando a maternidade para segundo plano. Acham que, hoje em dia, com os diversos avanços, a medicina tem condições de resolver qualquer problema relativo à capacidade de reprodução que venha a acontecer, o que não é verdade”, comenta o especialista em reprodução humana. Aos 35 anos, a fecundidade da mulher cai em 30% em relação aos 20 anos. Após os 40, chega a cair para 50%, praticamente se esgotando após os 50 anos.

Além disso, com idade avançada, a mulher tem mais riscos de desenvolver problemas como pressão alta e diabetes durante a gestação. “Após os 40 os riscos de aborto dobram e as chances de ter um bebê com má formação também crescem consideravelmente”, explica Karam.