O crime é um negócio sem fronteiras para os ladrões. Segundo o delegado-chefe da Divisão de Crimes contra o Patrimônio, Luiz Carlos de Oliveira, existe uma série de modalidades criminosas em que os marginais migram de um estado para o outro para cometer. Em Curitiba, a maior parte dos ladrões e quadrilhas presos pela polícia que vêm de fora do Estado é de Santa Catarina e São Paulo.
A explicação, segundo Oliveira, está na proximidade com o nosso Estado. Os alvos dos ladrões são as “saidinhas” de bancos, os caixas eletrônicos, as joalherias, os automóveis e as cargas. “Eles não vêm somente aqui, mas vão roubar em outros estados, assim como os daqui vão para fora cometer crimes. Eles migram porque são conhecidos em seus habitats e acabam roubando em outros lugares por não serem conhecidos”, aponta Oliveira.
“O crime é um negócio para os marginais. Eles migram de negócio para negócio dependendo de onde rende mais”, avalia o responsável pelas investigações do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), delegado Amarildo Antunes. Para o delegado-adjunto da Delegacia de Furtos e Roubos, Guilherme Rangel, a migração dos ladrões ocorre quando a polícia “aperta o cerco” contra eles em seu território de atuação e vão cometer o crime em outros locais.
De acordo com o delegado-chefe da Delegacia de Furtos e Roubos, Rodrigo Brown de Oliveira, as quadrilhas que furtam caixas eletrônicos, conhecidas também como “gangues do maçarico”, são exemplos de migração: 50% dos integrantes dessas quadrilhas que vêm roubar em Curitiba e em municípios próximos à capital são da região de Joinville (SC) e São Paulo. Eles furtam caixas eletrônicos com maçarico, serras circulares ou explosivos.
continua após a publicidade Fábio Alexandre/O Estado do Paraná |
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Metade dos integrantes da “gangue do maçarico”, que estoura caixas eletrônicos, vem de Joinville (SC) e capital paulista. |
A polícia “apertou o cerco” a essas quadrilhas em Curitiba e elas migraram para o interior do Paraná. Uma das últimas foi presa pela polícia em julho deste ano em Palmeira, no interior do Paraná. Entre os 12 integrantes desta quadrilha, os responsáveis pela segurança externa e planejamento do crime eram de São Paulo e os especialistas que faziam o corte do caixa eletrônico eram de Santa Catarina.
De janeiro a julho deste ano, a Delegacia de Furtos e Roubos registrou, em média, de uma a duas ocorrências por semana de furtos em caixas eletrônicos, em Curitiba e Região Metropolitana. Os roubos nas “saidinhas” de banco ocorreram, em média, duas a quatro vezes por semana na capital no primeiro semestre do ano. Eles acontecem principalmente no começo do mês quando as pessoas recebem o salário e há mais dinheiro em circulação.
No crime das “saidinhas” de bancos, quando se fala em migração de criminosos, os paulistas predominam em Curitiba. “Uma vez que não residem aqui, os ladrões vêm a Curitiba praticar o crime para dificultar as investigações, o reconhecimento e consequentemente a prisão. Quase sempre os ladrões contam com o auxílio de marginais de Curitiba que conhecem a região”, explica o delegado Rodrigo de Oliveira.
Segundo ele, há alguns roubos pontuais cometidos em Curitiba por criminosos do Rio de Janeiro. “Eles acabam vindo para cá, fugindo das autoridades daquele estado e para desbravar novas fronteiras”, diz o delegado.
O delegado Luiz Carlos de Oliveira conta que teve um caso de ladrões que vinham a Curitiba roubar nas saídas de bancos durante a semana inteira e voltavam para casa, em São Paulo, nos finais de semana. “Dois deles tinham BMW. Eles movimentaram muito dinheiro. A quadrilha trocava de moto semanalmente”, lembra o delegado.
Entre os ladrões que roubam joalherias em Curitiba, os paulistas também predominam nesta modalidade de crime, no que diz respeito à migração de criminosos. O Cope registrou sete roubos a joalherias no primeiro semestre do ano em Curitiba, sendo que um deles foi realizado por uma quadrilha com quase todos de fora do Paraná: três homens e uma mulher de São Paulo e um homem de Curitiba.
No final do ano passado, a polícia prendeu uma quadrilha que vinha roubar relógios Rolex em Curitiba. O delegado Rodrigo de Oliveira conta que dos cinco integrantes da quadrilha, um era de São Paulo e chefiava os outros ladrões que eram de Curitiba e roubavam em sinaleiros. “O ladrão ia e voltava de avião de São Paulo para vender os Rolex para os receptadores. O crime foi solucionado pelo Cope no ano passado, quando eu era delegado-adjunto de lá”, recorda o delegado.
Projeto
O delegado Luiz Carlos Oliveira tem um projeto para a criação de um banco de dados nacionais onde haveria troca de informações entre os delegados de polícia estaduais que trabalham na área de crimes contra o patrimônio. A Divisão de Crimes contra o Patrimônio abrange as delegacias de Furtos e Roubos, Furtos e Roubos de Veículos e Estelionato e Desvio de Cargas.
O banco de dados armazenaria, entre outras informações dos criminosos presos pela polícia, o tipo sanguíneo para os exames de DNA, impressão digital e banco de voz, para a identificação dos marginais. Segundo Oliveira, o banco de dados poderia ser centralizado em Curitiba.
De acordo com o delegado, o projeto já foi encaminhado ao delegado-chefe da Polícia Civil do Paraná, Marcus Vinicius Michelotto, e será enviado ao secretário estadual de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida Cesar. “A ideia é passar este projeto para o secretário de Segurança para discussão. Não podemos ficar paralisados e só prender. Temos que ter mais mecanismos para defender a sociedade”, diz o delegado.