Curitiba estuda medidas para melhorar o trânsito

Rodízio, estacionamento proibido, caminhos alternativos e até pedágio na área central. Quando se fala em trânsito de Curitiba, já se pensa em medidas que podem tornar a circulação de veículos na cidade mais tolerável do que é hoje. Além de planejamento por parte dos órgãos públicos, a população também deve colaborar com algumas atitudes que podem beneficiar todos.

Segundo a Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran), vinculada à Urbanização de Curitiba S.A. (Urbs), não há congestionamentos na cidade. O que o curitibano enfrenta diariamente seriam pontos de tráfego lento, especialmente no centro e no horário de pico do final da tarde. A lentidão em certas ruas também ocorre por causa de obras viárias, como a reforma da Avenida Marechal Floriano e a construção da Linha Verde no trecho urbano da antiga BR-116. ?Estamos com obras em vários pontos. Hoje a maioria dos motoristas já se adaptou e procura alternativa. Mas nem sempre tem como escapar. É preciso ter paciência e lembrar que depois das obras haverá um trânsito com mais fluidez e segurança?, comenta Guacira Civolani, gerente de operação do trânsito da Urbs.

Mesmo que curitibano considere o trânsito complicado, o panorama ainda não requer a adoção de medidas drásticas, como o rodízio de veículos ou até mesmo um pedágio para quem quer circular na área central, segundo a Urbs. ?Rodízio para Curitiba ainda não. O índice de motorização é muito grande. No Batel, por exemplo, é de 0,94 veículo por habitante. Com o rodízio, muitas pessoas comprariam outro carro, especialmente usado, para garantir o final da placa. Aí, o sistema de rodízio vai por água abaixo, porque não tiraria veículos do trânsito. Existem outras soluções antes do rodízio?, afirma Rosângela Batistella, diretora de trânsito da Urbs.

Entre essas soluções está a proibição do estacionamento em horários de pico em dias úteis em determinadas vias. Neste ano, mais ruas serão incluídas no projeto, como a via rápida Centro- Portão, entre a Avenida Sete de Setembro e a Rua Álvaro Jorge, a Vicente Machado e a Silva Jardim. ?Nas ruas onde o sistema já funciona, como Ângelo Sampaio, Coronel Dulcídio e Brigadeiro Franco, houve redução no tempo de trânsito naquele local?, informa Rosângela. Além disso, existem os binários. Muitos foram implantados, alguns já serão estendidos e outros ainda vão entrar em funcionamento. Para Rosângela, uma intervenção necessária e que ajudaria muito a circulação de veículos no centro da cidade seria um anel viário, composto por ruas que circundariam a região central. ?Mas isto seria feito com recursos do Estado, que foram negados para Curitiba. Agora, estamos atrás de recursos?, lembra.

Incentivo às bicicletas

Com o rodízio, muitas pessoas comprariam outro carro, para garantir o final da placa.
Aí, o sistema de rodízio vai
por água abaixo.

Com tantos veículos entrando todos os dias no trânsito de Curitiba, não há planejamento que resista. Por isso, a contribuição da população torna-se necessária. Uma carona para outra pessoa que também tem carro e vai para o mesmo lugar pode fazer diferença no tráfego. ?Existem muitos carros na cidade e muitos são ocupados por apenas uma pessoa.

O curitibano também tem a cultura de ir para qualquer lugar, mesmo que perto, de carro. É preciso mudar isso. Não somos contra carros, mas sim contra o uso indiscriminado deles?, avalia Guacira Civolani, gerente de operação do trânsito da Urbs.

A carona solidária, como é chamada, pode ser feita por qualquer motorista. É considerada uma medida simples e de boa eficácia, desde que muitas pessoas passem a adotá-la.

Além disso, os curitibanos precisariam migrar para transportes alternativos. Os ônibus estão inseridos nesse contexto, mas as bicicletas podem ganhar espaço. A Avenida Marechal Floriano Peixoto vai ganhar ciclo-faixas em seu trajeto, ao lado das canaletas do transporte coletivo, entre o bairro Boqueirão e a Linha Verde, onde o projeto já prevê ciclovias. ?Queremos criar uma ciclovia para o trabalhador, para que ele possa deslocar do emprego para casa e vice-versa com a bicicleta. Seria uma rede, interligando as ciclovias já existentes com novos projetos.

Isto vai trazer benefícios e ainda vai diminuir os riscos para os ciclistas nas canaletas?, considera Rosângela Batistella, diretora de trânsito da Urbs. (JC)

Investimentos pesados

Não existe qualquer fórmula mágica para solucionar os problemas do trânsito. Essa é a opinião do professor Carlos Hardt, diretor do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). ?As obras certamente vão ajudar, mas não vão resolver.

O sistema de circulação da cidade, depois das obras prontas, será beneficiado em alguns fluxos mais do que outros. Pode acontecer de pontos que não tinham problemas passarem a ter?, revela.

Para ele, um dos principais problemas de Curitiba é o aumento da frota de veículos. Muitas pessoas que usavam o transporte coletivo passaram a andar de carro ao longo dos últimos anos. ?Além de investimentos em grandes intervenções, é preciso paralelamente investir em transporte coletivo de qualidade, para atrair novamente os que deixaram o sistema e aqueles que nunca o usaram?, afirma Hardt.

O professor diz que pessoas de outras cidades acham o trânsito de Curitiba muito bom, se comparado a centros como São Paulo e Rio de Janeiro. ?Como tínhamos uma referência de menos veículos e um trânsito com qualidade, nos assustamos. Quem é de fora, acha Curitiba uma maravilha neste sentido. A solução para o trânsito é relativa. Depende do que a sociedade considera transporte de qualidade. Existe solução, mas qualquer solução vai passar por investimentos pesados?, declara. (JC)

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