Os alimentos vendidos à beira-mar compõem o cardápio do verão para boa parte dos veranistas. Milho, churros, sanduíches e salgadinhos são quase uma tradição na praia, comercializados pelos ambulantes, que circulam pela areia entre os banhistas, ou nos carrinhos instalados ao longo do calçadão. Mas, antes de comer, vale o aviso: é bom prestar atenção aos alimentos ingeridos, desde aparência até detalhes como a temperatura, para não correr o risco de ficar doente em plena férias.
Os vendedores de alimentos nas praias fazem de tudo para manipular adequadamente a comida. O que não ajuda, muitas vezes, é a infra-estrutura. Apesar de ser recomendável uma pia na barraquinha para lavar as mãos com água corrente, entre pegar um alimento e o dinheiro da mão do cliente, é raro encontrar uma equipada dessa forma. ?Não tem outro jeito, tenho que trazer a água de casa?, diz a vendedora Vitória Régia, que veio de Fortaleza trabalhar na praia de Caiobá durante o verão. ?Quando a água acaba, peço para trazerem mais lá de casa?. Quando precisam trocar a água, os ambulantes contam também com a solidariedade. ?Vou até um prédio vizinho pegar?, conta a adolescente Cibele Costa, que trabalha com os pais vendendo churros e kreps na praia. A água corrente é importante também para lavagem dos instrumentos usados para manipular os alimentos. Se não houver, o ideal é que estes sejam descartáveis.
Outro detalhe é a conservação. Os alimentos feitos para ser comidos quentes também devem ser servidos na temperatura adequada – pelo menos 60.º ?Morno não serve?, alerta a coordenadora da Vigilância Sanitária de Alimentos de Curitiba, Ana Valéria Carli. Por isso, informa, o ideal é que sejam conservados frios e, na hora de servir, levados ao forno. Vitória Régia se equipou para atender à regra. No carrinho, carrega um forno e isopores onde mantém pizzas, salgadinhos e sanduíches resfriados. ?Trago pronto de casa e deixo no isopor. Na hora que o cliente compra, sirvo quentinho?, diz. O detalhe deve ser observado também na hora de consumir alimentos fritos, como o churros, ou cozidos, como é o caso do milho.
Os vendedores de Matinhos e Caiobá fizeram um curso, antes da temporada, de manipulação de alimentos, ofertado pela Prefeitura e Sebrae. ?A gente aprendeu como mexer e também sobre a caloria do alimento. Se não ficar na temperatura certa pode criar micróbios?, relata o vendedor de milho Nelson Andrade dos Santos. ?A margarina que passo no milho também tem que ficar na geladeira?, completa.
A coordenadora da Vigilância Sanitária de Alimentos cita ainda a importância da aparência e vestimenta do vendedor. Apesar de ser cena rara na praia, ela avisa: ?O manipulador deve estar com toca, uniforme de cor clara e sapatos fechados, ainda que na praia seja mais complicado?. Afora isso, vale observar, no caso dos ambulantes que circulam pela areia, as condições do isopor e do próprio vendedor. ?Um detalhe é que ele pode não conseguir manter a temperatura se for andar muito. Por isso, é importante observar se o ponto onde abastece a cesta fica nos arredores da praia?. É o caso da ambulante Natália da Silva, que vende quibe, risolis, coxinha e empadinha na areia e repõe a cesta há 20 minutos da praia.
Consumidores
Que atire a primeira pedra quem nunca comeu os alimentos comercializados pelos ambulantes. Na praia, enquanto o turista descansa, é comum observá-lo também mastigando um salgado comprado ali mesmo, na areia. ?É só em caso de emergência mesmo. O menino estava com fome?, diz o veranista Haroldo Machado, de Curitiba, justificando a compra de um salgado para o filho. ?Na verdade tenho medo de comer alimentos vendidos na praia, a gente não sabe a higiene ou a procedência. E com o calor fica mais fácil estragar?.
O aposentado César Roberto Goetzke diz que dificilmente compra comida nas barraquinhas. ?É diferente a qualidade da comida em um restaurante que você conhece e costuma freqüentar do que do ambulante que vem só na temporada?, acredita. Para ele, ?a barraca não tem estrutura suficiente?. O amigo, comerciante Edval de Barros, refuta: ?Acho que é um pouco de exagero. São profissionais, estão trabalhando com cuidado?.
Ambulantes ganharam até uniformes
Para esta temporada, a Prefeitura de Matinhos ofereceu, além do curso de manipulação de alimentos, exames médicos e uniformes aos ambulantes. ?É verdade que muitos não estão usando, mas é que não estavam acostumados a essa disciplina?, justifica o prefeito Francisco Carlim dos Santos.
Ele também informa que todos os ambulantes da cidade foram cadastrados em outubro, o que nem sempre indica controle total sobre os profissionais – muitos que vêm de fora e ficam na casa de amigos ou parentes acabam trabalhando sem alvará. ?Estamos fiscalizando diariamente. O problema é que eles ficam mudando de ponto para despistar?, alega o prefeito. Quando não existe cadastro, a mercadoria é imediatamente apreendida.
Quanto às torneiras, o prefeito admite que a falta delas prejudica a higiene e que o uso de água em tinas ou baldes não é adequado. ?A solução para a próxima temporada será a construção de quiosques de alvenaria padronizados?, adianta. Neles, haverá luz, água encanada e banheiros.
Porém, a despeito das medidas que devem ser tomadas, falta à classe se mobilizar para justificar suas reivindicações. Quem faz a crítica é o ex-presidente da Associação dos Ambulantes de Matinhos e Caiobá, Ailson Camargo. A entidade, que congrega cerca de 700 trabalhadores, está sem dirigente. ?Meu segundo mandato venceu em outubro. Abri edital para novas eleições, mas ninguém apareceu para concorrer?, denuncia. Agora, Camargo está reunindo documentos para levar ao Ministério Público e ver que medidas podem ser tomadas. ?Não se mobilizam porque não se interessam em fazer trabalho social e não querem se organizar porque não querem seguir regras. Estão olhando só o lado deles, não pensam nos vizinhos?, acusa o ex-dirigente. (LM)