Os conselhos regionais de Medicina (CRM) e de Odontologia (CRO) desaprovam a idéia de exames de proficiência para médicos e cirurgiões-dentistas. Essa proposta, sugerida recentemente pela senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), está em trâmite no Senado. Se aprovada, os profissionais das duas áreas terão que passar por uma avaliação antes de terem liberação para atuar. Anualmente, em média, 500 dentistas se formam no Paraná, o mesmo número de médicos que saem das sete universidades que oferecem o curso no Estado.
A justificativa utilizada pela senadora é a quantidade de novos cursos e instituições que continuam sendo aprovados. Segundo a proposta, o exame seria um instrumento de avaliação para ?medir a aquisição não só de conhecimentos, mas também de habilidades e atitudes médicas?, como já é feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, com os alunos que se formam em Direito. ?Essa avaliação não deixa de ser um instrumento bastante confiável, principalmente quando se pretende que sejam habilitados apenas aqueles que demonstrem condições mínimas para o desempenho profissional nas áreas da medicina e da odontologia?, cita a senadora.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Norberto Lubiana, a classe tem uma postura bastante contrária à proposta. ?É verdade que a proliferação de cursos de odonto traz muitas vezes empresas mercantilistas que visam lucro e não estão preocupada com a formação. No entanto, não somos nós que temos que controlar a qualidade e a postura das instituições de ensino. Esse é o controle que deveria ser feito para que fossem formados profissionais aptos a atuar?, comenta.
O presidente do CRO no Paraná, Antônio Ferelle, afirma que o mecanismo viria gerar uma dificuldade grande. ?Como vamos verificar, na prática, se a pessoa sabe trabalhar ou não. Se fosse apenas teoria, como o Direito, isso seria possível, mas não é o caso. Também sou professor universitário e tenho alunos que são ótimos em teoria, mas em clínica não vão muito bem?, completa Ferelle. Ele diz ainda que uma forma de controle de qualidade seria cobrar, durante o curso, um mínimo de participação em cursos extras e congressos da área.
Representando os médicos paranaenses, o presidente do CRM-Paraná, Hélcio Soares, concorda com o fato de que muitas escolas abertas hoje não se preocupam com a qualidade de ensino. No entanto, ele afirma que uma avaliação ao final do curso não seria a solução para o problema. ?O curso de medicina não acaba após os seis anos. Tem mais três ou quatro anos de residência e a pós-graduação é muito importante, mas as novas escolas não estão preocupadas com isso. Minha opinião é que algo precisa ser feito. Talvez uma avaliação contínua durante o curso seria mais eficaz?, defende. Segundo o médico, é importante que a sociedade esteja atenta a esse debate, pois, no Paraná, nos próximos 18 meses, estima-se que outras seis escolas de medicina sejam abertas.