Critério para transplante de fígado

Nos próximos dois meses os critérios para o transplante de fígado vão mudar no País. Não será mais o tempo de espera na fila que vai determinar a cirurgia. Vão ter preferência os pacientes que apresentarem um quadro clínico mais grave. A mudança tem o objetivo de salvar mais vidas. Hoje, um terço dos pacientes que aguardam o transplante no Paraná acabam morrendo.

Mas a medida também pode trazer problemas a pacientes que carregam uma doença por décadas sem que corram risco de morte imediato. Estes terão a sua qualidade de vida comprometida.

Segundo o Ministério da Saúde (MS) a alteração vai entrar em vigor daqui a dois meses, tempo necessário para que as centrais de transplante se adaptem ao novo sistema. A decisão foi tomada na última reunião da Câmara Técnica do Fígado, dia 17 de março, que foi criada no ano passado para aconselhar o MS neste assunto.

A decisão do ministério foi embasada em um estudo junto as Centrais de Transplantes, que revelou que 61% dos 6,2 mil pacientes que estão na fila de espera não têm indicação para receber imediatamente o transplante. Sem esses pacientes, o número de pessoas na fila cai para 2,3 mil.

Para classificar a gravidade do estado de saúde dos pacientes vão ser feitos três tipos de exames clínicos: o de creatina, tempo de protrombina e bilirubina. Depois será aplicado uma fórmula matemática resultando numa pontuação que varia do 6 a 40, ou seja, do de menor risco ao mais grave. De 15 para baixo, o transplante imediato deixa de ser recomendado. A reclassificação será feita periodicamente. Esse sistema é chamado de Meld/Peld e já é usado nos Estados Unidos.

O professor do departamento de cirurgia da Universidade Federal do Paraná e coordenador de transplantes de fígado do Hospital Pequeno Príncipe e da Santa Casa, Júlio César Widerkehr, concorda com a mudança. ?É desumano deixar que uma pessoa morra na fila, enquanto outros correm menos risco?, fala.

No entanto, faz uma série de questionamentos. Ele explica que hoje o número de doadores é muito pequeno. No Paraná são feitos entre 90 e 100 transplantes e praticamente só a metade é realizado com os órgãos que vieram de cadáveres. As doações cobrem apenas de 10% a 20% da lista de espera. Isso pode significar que só os pacientes em estado grave vão ser atendidos, ou seja, as pessoas vão ter que ficar esperando o seu estado de saúde se agravar.

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